A noite deste domingo (24) foi marcado pela 91º edição do Oscar, que premia os melhores filmes do ano em diversas categorias desde direção, atuação, etapas técnicas como mixagem de som, edição e fotografia, que foi um dos grandes destaques.
Não era surpresa alguma que o filme Roma, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, levaria a estatueta, afinal o longa chegou à Netflix em 2018 com um trailer arrasado e recebeu o Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza. Mas porque tão aclamado?
Roma conta a história de Cleo, interpretada por Yalitza Aparicio, uma empregada doméstica de uma família de classe média no México, que enfrenta os acontecimentos da vida como uma gravidez e a separação dos seus patrões. O filme é baseado nas memórias do diretor que nasceu e cresceu no México. Uma história um tanto que simples, mas com uma fotografia impecável.
Nesta obra prima Cuarón foi o responsável pela direção, roteiro, produção, montagem e fotografia. Não há uma cena em Roma que não tenha sido planejada, todos os ângulos calculados, dramaticidade na hora certa e estabilidade nas imagens, acompanhamos o filme como se estivéssemos vendo uma série fotográfica em uma galeria, caminhando lentamente pelos aposentos, fazendo parte dos momentos e sentindo o peso dos dias de Cleo.
O que deixa tudo mais bonito em Roma são suas cores, ele é completamente em preto e branco, filmado em formato 65mm, com uma câmera Alexa65. Cuarón conta que a ideia não era fazer um filme vintage, que parecesse velho, mas sim um filme moderno que trabalhasse o passado, e assim foi feito, o preto e branco de Roma não é apenas a ausência de cor, mas apresenta de forma contemporânea as memórias contidas no longa, contrastadas na tela.
Em entrevista para a Indie Wire o diretor conta que uma cena ‘simples’ como a em que Cleo está desligando as luzes de casa contam com 45 posições de câmera. O que poderia ter sido resumido em uma quadro foi planejado para que contasse uma história dos modos e manias da personagem. “O que era mais complicado eram coisas simples como fazer um movimento circular, um 380º dentro da casa. Quando a Cleo está desligando as luzes, temos 45 posições de câmera diferentes, a câmera não pode estar em um lugar e em panning. Era um andar com linhas por toda parte.”
O nome Roma é uma referência ao estilo neorrealista italiano, que após o final de Segunda Guerra Mundial fez enorme sucesso no país, mas é também o nome do bairro onde Cuarón morava no México. São detalhes como este que formam um contexto exemplar na obra do diretor e enriquecem ainda mais a sinergia do filme.