Como todo mundo que fotografa para o mercado editorial, Rogerio Albuquerque está atento ao que vem ocorrendo. Já faz algum tempo que as grandes editoras estão enfrentado dificuldades, as tiragens diminuíram face à concorrência da internet, o que resultou no enxugamento das redações e na redução das verbas para reportagens e ensaios. Ao mesmo tempo, tem aumentado a oferta de conteúdo fotográfico, seja de amadores que se veem repórteres ocasionais, seja de novos profissionais ainda pouco habituados a esse status. Tudo contribui para a desvalorização do segmento. “A gente ainda está tentando entender para onde vai esse mercado”, reconhece Rogerio, cuja experiência soma mais de 20 anos. Uma coisa ele tem certo: não adianta ficar se lamentando.
“Eu acredito que a qualidade vai sempre prevalecer”, afirma o paulistano de 48 anos, que começou a carreira em 1989, como assistente de uma fotógrafa especializada em fotografia de comida (Silvia Heller). Fotografavam principalmente sorvetes, o que exigia a presença de um freezer no estúdio. Na época, segundo recorda, era preciso fazer duas chapas (trabalhavam em cromo de médio e grande formato) e, no meio do processo de revelação, apresentar o resultado para a aprovação do cliente. “Nos bons tempos, o cuidado era maior”, compara. “Hoje, o pessoal acaba relaxando um pouco e deixando que a pós-produção corrija. Desaprendemos um pouco”, avalia o profissional, que em seguida foi para o jornalismo. Primeiro na TV Gazeta, depois para o pitoresco Notícias Populares, o criativo e muitas vezes escrachado jornal do Grupo Folha. Para ele, o NP foi uma escola, cujo ensinamento norteia até hoje o seu trabalho. “A gente andava na contramão do jornalismo diário. O barato era fazer o diferente”, lembra, destacando que esse princípio deveria retornar à grande imprensa: “Os jornais têm que investir na cobertura criativa”, defende.
A rotina de redação Rogerio deixou em 1997, após o que juntou sua experiência em estúdio com a de fotojornalista para se lançar como freelancer. Atualmente, fotografa para diversas revistas, portais de internet e para o mercado corporativo. Faz retratos, publicidade e fotos de gastronomia. Mas, em tese, pouco mudou em relação aos seus tempos de jornal: “As revistas estão fechando todo dia”, explica. Ou seja, é preciso ser ágil. Isso vale principalmente para os portais na web, que exigem rapidez, sem que a qualidade seja considerada quesito primordial. Um erro, em sua avaliação: “Estão trabalhando para os colegas, e não para o leitor”, critica.
Rogerio não dispensa o cuidado na hora do clique, a iluminação precisa, mas sobretudo não esquece o que aprendeu no NP: ser criativo é fundamental. Em tempos de concorrência acirrada, é preciso se reinventar. E um caminho tem sido o vídeo. Ele tem feito cursos na área de cinema e inclusive tem visto o pessoal de lá passando pelos mesmos dilemas dos fotógrafos, especialmente devido à entrada das DSLR que filmam no mercado. Outro cuidado que toma é o de estar sempre à vista, visitando editoras, comparecendo a eventos. E foi assim que encontrou um filão: o das revistas customizadas. Grandes editoras têm investido em publicações para empresas, como companhias aéreas, montadoras de veículos, com bom conteúdo, direção de arte bem feita e todas com seção de gastronomia, público certo para as suas fotos.
Em gastronomia, como nas outras áreas, manda o briefing. Porém, sempre que dá, Rogerio faz as fotos no restaurante. Isso requer mais rapidez, pois as condições não são as mesmas de um estúdio, às vezes há clientes no local, e certa dose de improviso pode ser necessária, como quando tem que sair de São Paulo para fotografar. Aí vale usar bandeja como rebatedor, alguma fresta de luz para acrescentar um recorte, o que, para ele, é interessante, as intromissões do acaso são bem-vindas: “Fica com mais cara de fotojornalismo. A foto fica mais autêntica”.
Autenticidade é a palavra. “Tem que entender que o trabalho autoral vai prevalecer. O padrão não tem graça”. Preocupado com o mercado, ele deixa um conselho a quem está chegando: “O clique é 20% do trabalho. Tem que fazer contatos, tem que estar no meio, frequentar eventos, festas, editoras. Estar no Facebook – com moderação, sem extrapolar. E tem a questão administrativa, administrar também o equipamento, saber cobrar o preço, pensando no lucro. A galera que está começando, não tem gasto, não paga imposto, acaba cobrando pouco – e feliz porque o crédito está aparecendo. Mas está fazendo mal a ele mesmo, porque daqui a cinco anos todo mundo está fazendo isso”, vaticina.
Um bom começo, em sua opinião, é atuar como assistente. Mas nada de cumprir essa etapa voando: “A nova geração trabalha três meses e já quer conquistar o cliente do chefe”, alfineta. A partir de um tempo ideal de assistência, do estudo constante, aproveitando a possibilidade de ver o making-of de outros fotógrafos facilitada pela internet, o profissional vai pavimentando um caminho seguro. Depois disso, é montar um bom portfolio (“e não ter medo de mostrar menos fotos, mas fotos de qualidade”) e, aí sim, partir em busca do lugar ao sol.