Esses dias eu estava em casa, sonhando acordada, quando vi que na minha estante havia um livro dizendo: “Ei, me pega aqui!” O livro falador era Tudo sobre fotografia, de David Campany e Juliet Hacking.
Foi impossível não lembrar de uma divertida brincadeira que fazia quando criança: abrir um livro qualquer em uma página qualquer e acreditar que existe um recado ali (que não é um recado qualquer), escrito especialmente pra você.
Ah, o destino, esse grande poeta da vida da gente…
Como eu também estava em busca de um tema inspirador para esta coluna, falei pra mim mesma: “Coragem, Vanessa, as melhores respostas nascem das nossas maiores curiosidades”.
Foi então que respirei bem fundo e abri na página 366. Lá no topo, no cantinho esquerdo, estava escrito o nome de outro livro: O momento decisivo, de Henri Cartier-Bresson.
Olhei para o céu e disse: “Ei, você aí em cima, muito obrigada!” 😉
Sim, eu estava vivendo o meu momento decisivo. Tinha acabado de divulgar a minha identidade e site, ambos novinhos, bem diferentes dos anteriores e cheios de bons motivos para ser. No meu ombro, um anjinho sussurrava o tema desta coluna: quando é hora de mudar?
Enquanto o livro de Bresson representa seus trabalhos de toda uma vida em uma espécie de retrospectiva, eu estava só começando. Mais do que isso, estava com um milhão de perguntas na cabeça: qual o meu estilo de fotografia? Será que vai ser sempre assim? Vai mudar? Já mudou? Por quê? E se? Nossa, quantas perguntas!
Cartier‐Bresson estudou pintura em Paris, literatura e arte em Cambridge. Viajou para a Alemanha, Polônia, Áustria, África e tantos outros lugares. Até pra guerra ele foi (onde acabou capturado e levado para um campo de prisioneiros).
Eu, que me sinto um átomo perto dele, fiz alguns workshops, li até os olhos dormirem e viajei para alguns lugares inspiradores, como Portugal, Canadá, Suíça e Milão. E, ufa, ainda não fui pra guerra.
Se pensarmos na história dele, na minha (e na sua que lê este texto), vamos chegar à conclusão de que estamos sempre vivendo nossos momentos decisivos. Em poucas palavras: a nossa vida muda o nosso jeito de viver. E o que isso tem a ver com a sua (e a minha) fotografia? Bem, tudo.
Nossos momentos decisivos mudam de acordo com as referências que recebemos (e corremos atrás pra receber). Seja descobrindo o trabalho de um fotógrafo com tanta história pra contar, como o Cartier‐Bresson, ou viajando para ver o que os seus olhos nunca viram, tudo faz sentido.
Sempre repeti para o mundo ouvir que a vida é a nossa melhor referência. Claro, é sempre importante estar por dentro daquele texto mais cabeludo para entender sobre ISO, luz e abertura. Mas é importante lembrar também que, para fazer diferente, você precisa enxergar o que os outros ainda não enxergaram – e com um olhar só seu.
A parte boa é que, além de viajar mais, sonhar mais e se inspirar mais, você vai encontrar o seu algo a mais. Vai entender que de nada adianta mudar o equipamento se o seu olhar não mudar. Vai perceber que quanto mais você acredita em você, mais os outros acreditam junto.
Hoje eu estou com uma identidade que tem a minha cara, que traduz tudo aquilo que busco na minha vida e na minha fotografia. Sim, estou vivendo meu momento decisivo, minha hora de mudar.
Pensar em como estarei nos próximos anos? Não faço ideia, já que isso vai depender de tudo o que vou viver nestes próximos anos.
Nesse exato minuto, só consigo pensar em ser quem eu estou sendo. Sobre o meu próximo momento decisivo? Espero que seja como a vida: sem pressa, mas com muita vontade de ser.