Tripolli: “O que me fascina é emocionar”

Devaneio

Um dos primeiros fotógrafos de revista masculina do país, pioneiro também na publicidade e correspondente do ideal romântico do fotógrafo boêmio, cercado de belas mulheres, o paulistano Luiz Tripolli, 64, está próximo de uma marca importante. O festejado fotógrafo, que não cansa de condenar o modo atual como as mulheres têm sido tratadas pelas lentes (“como um pedaço de carne retocada”, costuma dizer), completa no próximo ano 50 anos de carreira. E está cheio de planos para a data.

“Quero comemorar os 50 anos não com uma retrospectiva, e sim com uma exposição do meu atual olhar para a vida”, explica Tripolli, cujo entusiasmo pela fotografia, que começou lá na infância (ele teve sua primeira câmera aos quatorze anos, após economizar seus primeiros salários como office-boy em uma agência de publicidade), parece jamais arrefecer. “A fotografia é como a vida, a cada dia se renova”, justifica o artista, que teve seu primeiro ensaio publicado na Fairplay, em 1965, revista pioneira em ensaios de nu no Brasil e cujo editor de arte era Ziraldo. Tripolli respondeu algumas perguntas do Photo Channel a respeito do momento que vive e da expectativa para o cinquentenário. Acompanhe:

Você está próximo de completar 50 anos de carreira. Como é chegar a uma marca dessas e ainda em plena atividade? É possível manter o mesmo entusiasmo de décadas atrás ou a relação com a fotografia muda muito durante um percurso desses? Fotografia é a minha paixão desde os dezesseis anos, quando comecei a fotografar. A fotografia é como a vida, a cada dia se renova. Dediquei essas décadas a fotografar o ser humano. A relação com a fotografia é a mesma com a que eu tenho com a vida, sempre em busca de novos desafios. O que me fascina é emocionar.

Solidao I

No momento, você está revisando a sua produção, publicando algumas coisas antigas. Tem planos para uma retrospectiva, seja em livro ou exposição? Como você se sente em relação ao que produziu? Sob qual perspectiva você analisa o seu material? Quero comemorar os 50 anos não com uma retrospectiva e sim com uma exposição do meu atual olhar para a vida. O que produzi até hoje vai ficar para a História, o que quero agora é fotografar esse novo mundo que, para mim, na maioria das vezes é difícil de entender.

Você foi um pioneiro da fotografia de moda aqui no Brasil, e também publicou alguns dos primeiros ensaios de nu… O que mudou, conceitualmente, nesses segmentos, ao longo desses anos? Qual a sua opinião a respeito dos ensaios com mulheres que são feitos atualmente? Sempre valorizei a mulher, fui criado por elas e continuo apaixonado por elas. Atualmente, a mulher é usada na fotografia apenas como um pedaço de carne retocada, o que me entristece muito é que as imperfeições foram banidas da fotografia e o que nos torna diferentes são as diferenças que a natureza nos proporcionou. Está tudo sendo padronizado em função de um marketing estúpido visando apenas dinheiro e consumo burro.

Entranhas

Qual a sua relação com a fotografia digital? Hoje em dia, ela tem aumentado o ingresso de profissionais no mercado, o caminho parece mais fácil. Você acha que isso enriqueceu de certo modo a fotografia de moda ou ocorreu o inverso? E como vê essa quase onipresença do pós-tratamento em ensaios com modelos? A fotografia digital é um bem para aqueles que têm sensibilidade e que dá acessibilidade aos que têm pouca grana para iniciar uma carreira, dá também a possibilidade de famílias retratarem seu cotidiano, guardando assim a sua história. Em contrapartida, vem sendo utilizada por pseudoprofissionais que degradam a imagem do fotógrafo. Quanto a retoque, sem comentários.

Voltando à sua carreira, que projetos tem desenvolvido atualmente? Quais são seus planos? Faltou algo que ainda não fez e gostaria de fazer? Alguém que gostaria de fotografar? Falta muita coisa ainda, fora a exposição dos 50 anos e o Top Night Mercedes Benz 2014, estou construindo um café galeria (Café dos Prazeres), que inaugura ainda este ano. Continuo boêmio, gostando muito de tomar vinho tinto e jogar conversa fora com amigos.

Paulo Autran
O ator Paulo Autran, fotografado por Tripolli 

Fuga

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