Empresa tira Photoshop da campanha e lucra

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Campanha da American Eagle: “Sem supermodelos, sem retoques”

A marca American Eagle anunciou no início do mês que obteve um aumento nas vendas da sua nova linha de lingerie, na ordem de 9%. Mais interessante que os números, no entanto, foi a justificativa para o desempenho. Segundo a grife, ele se deve à campanha realizada este ano, que teve como principal chamariz o fato de as imagens utilizadas não terem sido submetidas ao Photoshop.

A iniciativa da American Eagle contrasta com a da concorrente Victoria’s Secret, cuja publicidade é conhecida pelo uso de supermodelos e Photoshop abusivo. Sua recente campanha, porém, foi um tiro no pé. Com o título “Um corpo perfeito”, a marca perfilou suas costumeiras modelos magérrimas e adicionou uns toques de pós-produção. As clientes chiaram, afirmando que o tal “corpo perfeito” era uma irrealidade, e a grife teve que voltar atrás, mudando o slogan para “Um corpo para cada corpo”.

Há algum tempo, algumas revistas norte-americanas já haviam aderido ao “regime”, ostentando capas nas quais aparece sinalizado “No retouching”. Celebridades também têm se rebelado. A mais recente manifestação foi da atriz Keira Knightley, que posou para o famoso fotógrafo Patrick Demarchelier em editorial publicado pela Interview. Keira, que numa das fotos aparece de topless, pediu que as imagens não fossem retocadas: “Eu tive meu corpo manipulado tantas vezes, por tantas razões diferentes, seja por paparazzi ou para cartazes de filmes. Desta vez eu disse: ‘Tudo bem fazer uma foto de topless, desde que você não os faça maiores ou os retoque’. Porque é importante dizer que realmente não importa a forma como você é”, afirmou ao Times de Londres a atriz.

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A antítese: Victoria’s Secret e sua sugestão de “corpo perfeito”. O tiro saiu pela culatra
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Keira Knightley na Interview: “Não mexa nas minhas coisas!”

Sinal de que o reinado do Photoshop na publicidade está ameaçado? “Provavelmente o contrário”, propõe o fotógrafo e cinegrafista David Geffin em um artigo publicado no site Fstoppers, no qual analisa o caso da American Eagle. Para ele, o que deve haver é uma maior demanda pelo uso racional do Photoshop: “Se isso está trazendo mais consumidores, mais empresas vão querer um olhar mais ‘natural’ – e isso o Photoshop, naturalmente, pode oferecer”.

Transpondo a questão para o mercado brasileiro, Altair Hoppe, editor e especialista em manipulação digital, lembra que questionamentos ao uso do Photoshop não são novidade. “Há três, quatro anos isso acontece”, afirma. Ele cita uma campanha da grife de biquínis Lua Morena, realizado no Tocantins, em 2010, na qual as fotos da modelo foram publicadas sem retoques.

Altair, no entanto, acredita que a adesão ao uso menos intensivo do aplicativo, tal como prevê Geffin, deve ocorrer apenas pontualmente. “Em determinados nichos, como forma de posicionamento, [algumas marcas] podem se dar bem”. De modo geral, em sua opinião, a cultura brasileira de culto à estética deve continuar a ditar a norma da manipulação nas campanhas publicitárias. “A gente não quer saber muito do real”, diz Altair.

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