Projeto retrata lado menos idílico da gestação

A espera de um filho é um período especial na vida de um casal, um momento sublime de descobertas especialmente para a futura mãe. Mas não é um percurso isento de percalços, dúvidas, medos e traumas. Na busca de compreender esse lado menos risonho da gravidez – e de tentar lançar luz à própria experiência – um casal de Brasília (DF) está realizando um projeto fotográfico com futuras mães.

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Irmina Wakczak e Sávio Freire são responsáveis pelo estúdio Panoptes, especializado em crianças e bebês (leia sobre seu trabalho aqui). Eles descrevem o novo projeto, De dentro, como uma forma de terapia: “Tem a ver com nossas experiências e a busca de compreensão de um acontecimento que nos marcou, que deixou rastros, usando a linguagem de Walter Benjamin”, explica Irmina.

O que a fotógrafa de origem polonesa procura clarear com esse exercício são as circunstâncias do parto da pequena Yasmin, a filha e musa inspiradora do casal. Ela conta que, apesar de todo o planejamento e cuidados, as coisas tomaram rumos inesperados, que deixaram “um monte de questionamentos, culpa e frustração”, sem entrar em detalhes a respeito.

O projeto teve início em novembro do ano passado, com a divulgação de uma nota (“na época, ainda bem vaga”) entre alguns grupos de gestantes. “As mulheres interessadas entravam em contato e marcávamos nosso primeiro encontro – o da troca de experiências, vivências. Ao longo do tempo, convidamos algumas conhecidas para participar do projeto; algumas outras chegaram por meio das amigas”.

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Uma característica do projeto é o uso do filme preto e branco de 35 milímetros e equipamento de médio formato na tomada das imagens. “Vivemos tempos de controle, do planejamento, mas eventos fundamentais da vida e comuns a todos os seres humanos como o nascimento e a morte continuam pouco controláveis e fortemente influenciados pelo nosso inconsciente. Daí a opção de realizar o projeto em filme, que também tem um pouco disso, uma falta de controle rígido do resultado final, certa surpresa e impossibilidade de refazer no caso de divergência em relação ao esperado. Propusemo-nos esse exercício, que é mais mental do que técnico”, justifica a idealizadora.

Até o momento, doze voluntárias já participaram da “terapia”. “Elas se identificam com a proposta de tentarmos capturar todo um leque de emoções que acompanha esse tempo marcado pelas transformações, começando pelo corpo, mas também dos papéis sociais, das relações familiares etc. Isso é acompanhado de muita cobrança, de angústias e preocupações. Há muitas incertezas e apostas. Há tentativas de se refazer e isso, às vezes, é doloroso. Exige coragem, atitudes adversas”, reflete.

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Irmina também destaca a boa receptividade ao estilo do ensaio em si, que ela classifica como um registro caseiro, simples e sem glamour. “Muitas têm interesse em fazer algum retrato nu para ter a memória do seu corpo, ou em protesto de ‘santificação’ da imagem da gestante ou ainda como parte do processo de transformação, de superação”, acredita.

O projeto não tem data para terminar. O objetivo é ampliar ainda mais seu alcance e, mais para frente, transformá-lo em livro. Até aqui, os resultados têm sido positivos: “É muito emocionante ver a entrega do outro em resposta à nossa exposição, à abertura do nosso mundo íntimo. Além disso, recebemos mensagens tocantes das próprias participantes. Elas se reconhecem nas imagens, pois a gente busca representar algo que atua forte nelas naquele momento. Capturar isso, com devida sutileza, tem sido o maior desafio”.

Interessadas em participar podem entrar em contato através da página do projeto.

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