Fotografia orgânica: nus com naturalidade

“A vida não acontece dentro do estúdio”, avisam as fotógrafas Juliana Moraes (Juh) e Viviane Rodrigues, que praticam em Curitiba (PR) o que chamam de fotografia orgânica. Grosso modo, elas fazem ensaios de adultos, crianças e bichos de estimação de um jeito menos tecnicista e mais intuitivo, fazendo as imagens onde as coisas normalmente acontecem, sem forçar a barra. Sua percepção disso, entretanto, é um pouco mais elaborada.

Juh Moraes (esq.) e Viviane Rodrigues: desrespeito ao corpo

“Acredita-se na atualidade que quanto mais equipamento, quanto mais pirotecnia, maior é o talento e que tudo pode ser resolvido com softwares na edição”, afirma Viviane, que é natural de Florianópolis (SC), tem 41 anos de idade, e fotografa há vinte anos.

A consequência disso, ela continua, é uma sucessão de equívocos: iluminação surreal, peles plastificadas, sorrisos falsos, HDR e outros efeitos em excesso. Sua fotografia orgânica é um contraponto a tudo isso.

“O que é natural é verossímil porque é espontâneo e verdadeiro, real e emocional. E isso é a fotografia orgânica. É orgânico: é essencial. Por isso, a fotografia orgânica pode dispensar o estúdio e nós realizamos o ensaio ou a documentação fotográfica na casa, na praia, no campo, na festa, na rua, no hotel, em qualquer lugar que promova a interação natural entre os que se gostam”, sublinha a fotógrafa, que também é jornalista e professora universitária.

Além de procurar a “verdade” daquilo que capturam em pixels, as duas compartilham o apreço pela representação do corpo e as possibilidades do nu e do erotismo. Boa parte do seu trabalho é direcionada para esse caminho. Juh, que é da capital paranaense, tem 26 anos de idade e formação em moda e artes, inclusive desenvolve uma pesquisa sobre o tema.

“A captação do corpo nu rende possibilidades maravilhosas para leitura artística e também comercial, embora, para ambas, de certa forma, não há diferença na realização de uma imagem. Elas se diferenciam no momento da venda. Por exemplo, um nu captado durante um ensaio pode ser lido como mais ousado, mais artístico”, observa Viviane, demonstrando que as sócias não se detêm diante de tabus quando o que está em questão é a busca pelo belo. Se original, ousado ou provocativo, melhor.

Viviane e Juh concentram sua produção sobre o tema no projeto “eXtimidade”: “O nome surgiu no meio da pesquisa produzida por ambas na investigação das várias interpretações acerca do corpo humano. O termo foi cunhado pelo psicanalista Jacques Lacan e pareceu perfeito nas duas concepções pelas quais acabou sendo conhecido”, diz a catarinense, explicando que, correntemente, é usado como oposto de “intimidade”, embora signifique algo profundamente íntimo – “aquilo que é íntimo e radicalmente outro”, como escreveu o professor e psicanalista, intérprete da obra de Lacan, Jacques Allan Miller”, esclarece.

Tudo isso para dizer que ambas também opõem seu trabalho à visão comum do nu.

“Acreditamos que ver um corpo nu deveria ser natural, porém, embora o corpo (quase) desnudo esteja sempre presente na mídia, ele não é um corpo respeitado, retratado na beleza intrínseca que possui. Ele é, lamentavelmente, um corpo que é desqualificado, execrado, desfigurado, manipulado, enfim, desumanizado”, prega Viviane.

Recuperar a naturalidade e espontaneidade da representação do corpo, independente da forma, é o objetivo do projeto, que tem propiciado aos clientes uma experiência libertadora, garante Viviane: “Oferecemos aos nossos clientes e aos admiradores da arte fotográfica uma capacidade de olhar o corpo humano mais maduro, mais verdadeiramente sensual, sem falsa moral e hipocrisias, desmistificando a nudez, mas sem que ela perca a virtude de surpreender, de fazer refletir, de confundir e/ou provocar os sentidos”. A tradução disso tudo pode ser vista nas imagens que ilustram este texto. E mais ainda está no site.

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