Por que todo fotógrafo deveria experimentar o filme analógico?

Eu nasci na década de 80. E o analógico ainda andava a todo vapor. Com a popularização das câmeras analógicas, principalmente com a chegada das points and shoot, também conhecidas como compactas, qualquer pessoa poderia ter acesso mais fácil e divertido para fotografar sem precisar utilizar de todos mecanismos que uma Rangerfinder ou uma SLR disponibiliza.

Nasci em 1982. Passei a me recordar das fotografias que meu Pai fazia de toda a família no finalzinho de 1986, 1987. Com 4 anos de idade, eu posso dizer que me recordava porque a fotografia tem um poder cronológico surpreendente. Sabe por quê? Quer lembrar de algo, procure um retrato antigo, logo em seguida ele nos levará a um túnel do tempo de sensações únicas, no qual nos tornamos saudosistas.

Foto: Arquivo Pessoal/Misha Voguel

Pois boa parte do que vivemos já não existe mais, com a evolução da tecnologia e sobre a metodologia da vida de que nos empurram no sistema de que o tempo se consome cada vez mais, nem tudo é feito para durar. Então essa coisa passageira faz com que vivamos em um ciclo de superficialidade, onde relacionamentos se tornam passageiros, amigos vem e vão, a comida já não tem o gosto de antes.

Leica m3 + ilford plus 400 – Revelação caseira e digitalizado scanner v600 | Foto: Misha Voguel

As brincadeiras de rua praticamente foram extintas, dando lugar a tecnologia do self digital, que parece que somos donos do mundo porque temos um smartphone de última geração na mão.

Eu comecei a me dedicar mais a fotografia quando meu filho nasceu. Pois que queria repetir um ciclo do qual eu vivi anos atrás e tenho comigo até hoje as fotografias no álbum de capa amarelada pelo tempo. A quantidade de fotos no papel era surpreendente.

Ganhei com meus 4 anos uma câmera de filme do meu Pai, usada, que já não operava mais. A felicidade era tão grande, que mesmo com as minhas pernas tortas resolvi correr, para o infortúnio do meu destino ou para um trauma que me beneficiou na minha história: cai junto com a câmera, vendo ela se quebrar toda pelo chão.

Cresci com essa lembrança por toda minha vida | Foto: Arquivo Pessoal/Misha Voguel

Então com um ciclo grande de clientes, já tinha testado uma boa quantidade de equipamentos digitais, de variadas marcas que o mercado poderia oferecer, desde DSLR, Mirrorless e Rangerfinder Digital. Lentes? Nem se fala…. Aliás, foi através do amor pelas lentes analógicas que de fato tomei vergonha na cara e comprei meu primeiro equipamento analógico.

Já tinha testado todo tipo de lente também, algumas delas raras e que me traziam uma sensação de saudades.

Pois bem, tudo estava acelerado demais, via minha vida passar como flashes, cujas memórias estavam ficando rasas, sem graça. O fluxo grande de clientes, quantidade absurda de fotografia digital, não tinha HD que suportasse tudo isso. Percebi que alguma coisa não estava certa.

Por acharmos que nossa fotografia não está boa o bastante, acabamos por vez utilizar o programa de edição excessivamente para corrigir “defeitos” e aprimorar uma foto que já estava boa, ou que fotografamos com exposição inadequada ao ponto de querer recuperar ela a todo custo.

O problema não eram as fotos, não são os programas de edição, e tão pouco o equipamento utilizado,

O problema estava por trás de tudo isso, mas eu me perguntava: Como resolver? Como desacelerar?

A revelação do filme me colocou onde deveria estar.

Comecei então a utilizar o 35mm nos meus ensaios, passei a fotografar menos, meu tempo de edição diminuiu de forma fantástica, passei a sair mais, observar o mundo a minha volta, a pensar mais sobre cada clique, afinal, eram 36 poses cada rolo, e não queria perder nenhuma.

Nos meus ensaios utilizo 50% digital e 50% filme. Mas isso não quer dizer que você deva sair por ai doando todo seu equipamento digital e se voltar para o filme. Acredito que todos tenham o seu espaço e a sua finalidade é insubstituível.  Eu  falo a respeito mesmo da saúde, pois estaríamos menos estressados, teríamos mais tempo como nossos filhos, voltaríamos as brincadeiras de antes, as cervejas ou café com os amigos, sem ficar observando a tela do smarthphone o tempo todo.

Teríamos mais tempo para dialogar, olhando nos olhos, e desta vez observando o tempo passar menos apressado. Longe eu ter o stigma do coelho do País das Maravilhas, quero ser como chapeleiro maluco. Aí eu te respondo sobre o tempo “quem inventou ele esqueceu da palavra saudades”.

Foto: Arquivo Pessoal/Misha Voguel

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