Parto humanizado, olhar emotivo
O parto é um momento tão íntimo e emocionalmente delicado que muitas mulheres simplesmente se recusam a vivenciá-lo segundo as normas assepticamente frias e impessoais de um hospital. Querem que sua fisiologia seja respeitada, que o filho nasça quando bem entender, que as pessoas que lhe importam estejam por perto, que o processo seja o menos traumático possível. Sobretudo, não querem procedimentos cirúrgicos desnecessários. E também querem alguém com a sensibilidade e conhecimento necessários para registrar toda a jornada.
Se estiverem em Brasília (DF), poderão contar com Ana Paula Batista. A fotógrafa de família e partos de 35 anos de idade testemunhou o primeiro nascimento pelo visor de uma câmera em 2011: “Senti-me extremamente realizada em saber que estava proporcionando imagens preciosas pra família, pra bebê. Ficava imaginando aquela bebê daqui a uns anos, podendo saber como foi o seu nascimento, e essa sensação enche o meu coração de alegria”, exulta a brasiliense, que não desconfiou, talvez, que num sábado do ano seguinte teria um encontro ainda mais emocionado com o limiar da vida.
Foi seu primeiro parto domiciliar, uma experiência que Ana Paula descreve como “intensa” e que a fez deixar para trás as cesárias eletivas para se dedicar somente, nesse segmento, ao parto humanizado. “A mulher é protagonista do próprio parto. Suas decisões e sua natureza são respeitadas. Não há intervenções desnecessárias e nem violência obstétrica”, explica a fotógrafa, com a certeza de quem se informou sobre o assunto e abraçou a causa. Profissionalmente, isso significou tomar algumas decisões. Abandonar a cobertura de festas infantis, que ocupava boa parte de sua agenda, foi uma delas.
Agora, as consultas que mais recebe são para ensaios de gestantes e cobertura de partos, segmento que está crescendo na capital do país: “Os clientes vão vendo fotos de nascimento na internet e se interessam pelo serviço. Assim, o mercado vai se abrindo pra essa área. Tenho me deparado cada vez menos com expressões de completa perplexidade quando digo que fotografo partos”, percebe a psicóloga e bacharel em direito, apaixonada por fotografia desde o curso básico que fez em 2008.
Sua primeira experiência profissional, em 2010, foi em festa de criança. Praticou um tempo fotografia de casamento e clicou espetáculos de dança, mas decidiu se tornar fotógrafa de família. De todas essas modalidades, garante, cobrir partos é o mais difícil. “Além de conhecimento técnico em fotografia, é preciso conhecer sobre o parto em si, suas fases, significados. Um profissional que se propõe a fotografar um parto tem que saber como se comportar, a hora de fotografar e a hora de sair. Tem que ter sensibilidade e bom senso pra saber o que pode ser fotografado, o que tem significado especial pra cada família, aquilo que não pode ser fotografado, tomar decisões diante de situações delicadas”, argumenta.
Para obter esse nível de entendimento, Ana adotou o expediente de se aproximar dos clientes. Feito o contato por e-mail, o passo seguinte é marcar uma conversa para discutir os detalhes do trabalho: “Se for parto domiciliar, faço questão de ir a casa deles antes. Tenho que conhecê-los melhor e eles também têm que me conhecer. É um trabalho muito delicado e o casal tem que estar muito seguro de que quer esse tipo de serviço. É muito íntimo. Envolve muita confiança. Não dá pra chegar durante o trabalho de parto, sem conhecer o casal, ir entrando na casa deles, na intimidade deles, num momento de dor, emoção, concentração, e dizer: ‘Prazer! Sou Ana Paula e vim fotografar o parto’. Então, nossa relação vai se estabelecendo antes da sessão de fotos propriamente dita”.
Ela destaca outro aspecto importante: prontidão. “É um trabalho que exige uma disponibilidade muito grande, tendo em vista que partos podem acontecer na maioria das vezes de duas semanas antes até duas semanas depois da data prevista. Ou seja, um mês de disponibilidade para cada parto. Partos são imprevisíveis e posso ser chamada a qualquer hora do dia ou da noite. E também nunca sei quanto tempo vou passar no parto. Pra minimizar a probabilidade de choque de partos, não posso fechar muitos contratos por mês. Além disso, evito fotografar eventos e procuro fazer trabalhos que possam ser reagendados se for necessário, como os ensaios”, esclarece Ana, que é mãe de uma menina de quinze anos e precisa se organizar em casa para não atrapalhar a rotina da adolescente. “É uma entrega! Mas também é muito gratificante!”, assegura.
Como mãe, não posso deixar de me emocionar com esse depoimento de Ana Paula. Fico muito gratificada por ter dado à luz – de parto normal – vale ressaltar, uma pessoa com tanta paixão por esse trabalho de parto humanizado. Tais experiências só a fazem um ser melhor a cada dia. Parabéns Ana Paula, a quem chamamos, na intimidade, de Popi.
A reportagem foi muito bem conduzida. Parabéns à equipe responsável pelo trabalho realizado.
Poxa… comentário de mãe é covardia! hahahaha
Mãe, sei o tanto que me apoia em minhas decisões e o tanto que torce por mim. Se não fosse esse seu carinho e apoio, assim como de outras pessoas amadas que estão sempre por perto, esses caminhos que venho traçando não seriam possíveis, ou ao menos seriam bem mais tortuosos.
Me sinto muito feliz em ver uma matéria tão bem conduzida e escrita, como você mesma mencionou, sobre o meu trabalho. Mas não só por mostrar o meu trabalho, e sim por dar visibilidade ao parto em si como um momento bonito e especial. Me sinto feliz em ver que a fotografia de parto é uma área nova, mas em desenvolvimento. Ainda tem muito a crescer, assim como a própria humanização do parto, da saúde, da educação, mas já conta com alguns talentos que estão despontando pelo Brasil. Fazer parte de algo tão novo é muito bom!
Beijos
Que matéria linda…..Meu sobrinho neto no site é demais…..Parabens pelo trabalho.
Odila, que bom que gostou da matéria! Foi um prazer fotografar cada um desses nascimentos. Acredito que a fotografia de partos também tenha a função de mostrar para as pessoas que o parto é lindo, é natural. Desmitificar algumas coisas. Me sinto honrada por poder ter propiciado à sua família um registro de um dia tão especial.
Beijos, Ana