Para valer a pena, a foto precisa fazer sentido

Quando iniciamos, quase sempre somos acometidos pelo brilho de grandes objetivas, malas cheias de equipamentos e o “glamour” que geralmente a novela das nove sugere ao profissional de fotografia. São inúmeras as influências que ditam o “modus operandi” de nossa trajetória.

iPhoto Channel_Social_Tulio Isaac (5)

Estou há pouco mais de seis anos na profissão de casamento – antes disso, atuava como assistente de outros fotógrafos, aprendendo, apanhando, aperfeiçoando técnicas, estudando e aprimorando. Digo no início que somos contagiados pelo brilho da profissão, pois, quando olho hoje o trabalho que realizei lá no início de minha carreira, muitas vezes sinto vergonha. Sinto um embaraço pela forma como executei cada trabalho. Não sinto um mal-estar por não ter tido responsabilidade e cuidado com aqueles que me contrataram. Sempre tive extrema responsabilidade com cada casal. Sinto, sim, uma aflição por não entender lá atrás o motivo por que eu fotografava.

Eu fotografava e ainda fotografo por paixão pela profissão. Também é minha fonte principal de renda. Mas acho que fotografei muitas vezes para receber aplausos e “likes”. Fotografei muitas vezes pelo simples fato de achar que meu enquadramento em determinado registro estava perfeito ou porque aquela luz que eu tinha conseguido elaborar ou captar estava impressionante e iria impressionar uma legião de pessoas, na maioria das vezes desconhecidas ou inimagináveis. Talvez uma legião de fotógrafos.

Sinto-me mal em dizer isso, mas é a verdade. Eu esqueci muitas vezes de fotografar com o coração. Nesses devaneios de querer mostrar imagens tecnicamente impecáveis, eu me desviava do propósito maior, que hoje eu entendo ser a entrega de uma imagem com contexto, com sentido para o casal.

Hoje consigo alinhar o amor que tenho pela minha profissão com a história que preciso contar de uma família através de imagens. Hoje entendo que a melhor imagem talvez seja a mais simples, mas ao mesmo tempo complexa ou recheada de sentido para a família que me contrata. Cheia de sentidos, completa de amor.

A partir do momento em que procurei conhecer mais as pessoas, consequentemente minhas imagens tomaram forma e conteúdo. Hoje, antes de qualquer trabalho, procuro pesquisar e entender quem são os personagens, qual o estilo de vida do casal, grau de parentesco das pessoas, entes queridos, quem participa ativamente do convívio do casal. Procurei entender o perfil do fotografado, o que ele pensa, consome e suas preferências.

Eu me coloco do outro lado e procuro entender o que eles esperam de mim e como posso entregar-lhes o melhor. Faço um alinhamento de detalhes e junção de pontos, até porque eu não acredito que o cliente compre somente o nosso portfolio. Ele compra um estilo e conceito de trabalho e, se chegou até aqui, é porque temos algo em comum.

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A imagem acima é carregada de emoção, mas também de sentidos. Fiz um briefing com os noivos dias antes do casamento. Dentre as diversas informações e detalhes, foi dito que a avó da noiva estaria sentada na primeira fileira de convidados da igreja, juntamente com a mãe desta, tios e pessoas queridas. São pessoas importantes e ali havia uma história, que era a união de várias gerações na mesma imagem. O momento tem sentido, tem contexto. Eu conto uma história com o momento. Eu sugiro com a imagem inúmeras lembranças, recordações.

O cortejo da noiva acontece, aqui estou preparado, fotografando a situação, mas atento a todo o momento à lateral direita da igreja, onde a avó observa a entrada de sua neta. Em questão de segundos, observo a emoção da avó e também da mãe da noiva… bingo! Congelei para todo o sempre um momento valioso. Cuidei para que a história daquela família tivesse informação, sentido, contexto.

O tempo nos fornece o benefício de entender quais imagens não têm mais sentido, o que não devemos fazer e o que é realmente importante. Cabe a nós, profissionais da fotografia, transformar esse “glamour” que a profissão às vezes nos apresenta em brilho nos olhos e amor no coração, entregando contexto, sentido e conteúdo para quem nos contrata.

Hoje, entendo que uma imagem deve ser carregada de sentimentos e isso é o mais importante. Sem conteúdo se torna um arquivo morto, sem história, e é nossa obrigação cuidar do legado visual de quem está na frente de nossas lentes.

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