Os fotógrafos e sua tara por câmeras

Acho interessante um fenômeno comum nesse mundão de fotógrafos conectados em suas redes sociais: A tara por câmeras. O interessante desse fenômeno é que a tara é por câmeras apenas, não por lentes, não por fotografias, não por vídeos, não por biografias de grandes mestres, o lance são as câmeras.

Quando posto algo sobre lançamento de câmera as curtidas e comentários ficam na casa das dezenas, até centenas. Se faço uma postagem sobre lentes os números não chegam na metade disso, e se for um link sobre um grande fotógrafo do passado, aí uns poucos vão lá dar uma olhada e deixar sua curtida ou comentário. O negócio são as câmeras. Acho que vou abrir uma loja 🙂

Henry Cartier-Bresson
Henry Cartier-Bresson

Vamos focar nesse assunto um minuto. Não sei se você sabe, mas o tipo de câmera e lente usada por um grande mestre do passado, digamos Henri Cartier-Bresson, é notavelmente inferior a uma DSLR de entrada de hoje, sim, aquela velha Leica com lente 50mm e um rolo de filme dentro não tem como competir com uma pequena Rebel T3i ou Nikon D3200, não mesmo.

Vejam: as atuais tem foco automático, a velha Leica não tinha. As atuais fazem várias fotos num segundo, a velha Leica não, as atuais enfiam centenas de fotos num cartão, nem podemos comparar com aqueles rolinhos de 24 ou 36 poses. Fotômetro com vários modos de operação? Não. Histograma? Nem. LCD? Imagina. E o ISO? Filme tinha ISO fixo e um filme de ISO1600 ou 3200 era uma porcaria comparada com o arquivo digital de hoje na mesma sensibilidade.

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Poderia ficar aqui citando sei lá quantas coisas presentes em uma DSLR de entrada atual e ausentes nas câmeras que estavam disponíveis para Bresson, Erwitt, Doisneau, Brassai, Lorca, Rodchenko entre outros. Aliás, minha primeira Pentax era de filme, sem auto foco, e nem vou falar da Zenit que tive antes.

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Mas de alguma forma, meio que por milagre, os velhos mestres conseguiam com grande frequência nos emocionar com suas imagens, faziam pensar sobre o mundo e admirar a fotografia como obra de arte, algo capaz de elevar o espírito humano. Hoje o que fazemos com tanta tecnologia e recursos? Fotografias vazias, sem criatividade, sem cuidado, sem técnica, sem nada, só cheias de recursos.

Um resumo da ópera: se você não consegue fazer algo de bom com sua DSLR de entrada, não é com modelo top de linha que sua fotografia vai melhorar. Você terá melhores arquivos e recursos, mas as fotos continuarão vazias.

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Não é que você não deva querer melhorar seu equipamento, se existe recurso hoje devemos aproveitar, mas entenda que boa fotografia nasce de algo muito mais complexo do que megapixels, trocentas fotos por segundo e zilhões de pontos de foco para escolher.

Por fim, tem muita fotografia boa hoje, este não é um texto saudosista falando mal da fotografia contemporânea, tem coisas maravilhosas feitas atualmente. Aprecio e uso as tecnologias atuais e gosto de estar atualizado, só não deixo de pensar que gostaria de ver menos gente preocupada com câmera e mais com fotografia. Só isso.

(publicado originalmente aqui)

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