O sofisticado é simples! Será?

Pensamos muitas vezes que as grandes, melhores ou até as mais belas coisas devem ser consequentemente difíceis e complicadas, mas muitas vezes são tão  simples que nos deixam dúvidas e nos perguntamos: será que é só isso mesmo?

Há uma frase que diz: “A simplicidade é o último grau da sofisticação”. Acredito, porém, que o simples só é sofisticado quando está aliado ao conhecimento, bom senso e ao bom gosto. Lembre-se: ser simples é diferente de ser comum.

Grandes fotografias foram e são criadas de forma simples, pois se pensarmos tecnicamente elas são criadas com uma câmera, combinando o ISO, a velocidade e abertura de diafragma. Simples assim! Não, não é tão simples assim, mas ao mesmo não tão complicado. Então onde está o segredo? No equilíbrio!

Se partirmos do início veremos que se não equilibrarmos a entrada de luz da câmera não teremos qualidade de imagem. Por exemplo, se permitirmos que entre luz em excesso no sensor da câmera, as partes claras da imagem tornam-se o que chamamos de estourada, perdendo detalhes e volumes, na pele desaparece os poros, criando um aspecto que chamo de “pastoso”. Na roupa branca perdem-se a textura, os volumes e as costuras, deixando a imagem com aparência de uma parede branca e o trabalho amador. A exposição errada faz com que se perca inclusive a nitidez. Se deixarmos pouca luz entrar no sensor da câmera, perdem-se volumes e texturas nos pretos, os  fios de cabelos, cílios e sobrancelhas parecem borrões e mesmo se puxarmos os pretos no Photoshop o que teremos são somente borrões ou ruídos.

Para iniciar acertando é preciso equilibrar ISO, velocidade e diafragma. Para isso existe o fotômetro (diferente de “olhômetro” ou “achômetro”) que é um aparelho extremamente simples e fundamental, mas que infelizmente a maioria dos fotógrafos desconsidera e não se dá conta de que o controle da luz é um dos fatores que diferenciam um profissional de um amador.

As fotografias que deixo nesta coluna são para mim a primeira e maior percepção da simplicidade. O momento em que pensei: será que só isso mesmo? Eu havia recebido o conceito da campanha e também as referências de luz. As fotografias precisavam ser estouradas, com muito ruído, tons claros e lavados. Então fotometrei corretamente a cena, estourei apenas o necessário sem permitir que se perdessem os detalhes da pele, a textura e as costuras. Em seguida aumentei o contraste, tirei a saturação e a tonalidade de cor, chegando assim, ao resultado desejado. O ruído acentuado das imagens foi criado com talco (sim, simplesmente talco de bebê), jogado ao vento, inclusive na câmera, que ficou completamente branca.      Em algumas imagens usei uma luz contínua do lado de fora das janelas para intensificar os contrastes.

Toda a campanha foi fotografada em JPEG (loucura né? Não!). Para muitos pode parecer, mas eu já havia encontrado o resultado final na própria câmera com um arquivo extremamente correto, por que RAW? As fotos que demonstro aqui são iguais aos arquivos originais. Em algumas imagens foram ajustados apenas detalhes no sapato que sobrava, foram também eliminados alguns riscos nas paredes e no restante tudo estava simplesmente pronto no mesmo instante do click.

Não fotografo em RAW. Em minhas fotografias a pós-produção se resume em níveis, cores (PeB), carimbo e nitidez, tudo dentro do princípio de que “menos é mais”. Nenhum enquadramento é refeito, nenhuma sombra projetada é modificada.

O grande responsável pela imagem é o fotógrafo, pois não há pós-produção que salve uma fotografia mal feita, ou mude o ponto de vista ou o momento do click.

O grande diferencial é simplesmente o que os olhos de cada um conseguem ver, a mente equilibrar e o coração sentir!

 

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