O que faz uma foto ser impactante?

“O que o mundo precisa são mais fotografias com paixão e não mais uma foto apenas tecnicamente correta”, Moose Petersen, diz o fotógrafo sobre o que é uma foto impactante

Para quem gosta de fotografia, não basta clicar uma imagem. E, obviamente, não falo daquela turma que sai fotografando sofregamente tudo que passa à sua frente com o celular, mas do fotógrafo consciente, que escolhe o que vai fotografar, buscando uma foto que o satisfaça em todos os detalhes e que tenha algo capaz de impressionar também a quem venha a observá-la. É a busca por aquilo que chamamos de foto impactante, um termo talvez meio esnobe, mas no final é o que se espera de uma boa foto: o impacto visual.

Como fazer uma foto impactante?

E nessa busca, muita gente nos pergunta o que é preciso para que a foto se enquadre nessa categoria e por que nem toda a foto produz esse efeito? Até onde a técnica é determinante para que uma foto impactante ou impressionante?

Sem dúvida, há todo um conjunto de fatores técnicos, que não devem ser descartados na composição de uma boa foto, começando com a escolha do assunto, a objetiva correta, a abertura do diafragma, a velocidade condizente com ele, o ISO mais ajustado, o filtro mais indicado, as condições do tempo e até o horário mais apropriado, entre outras coisas.

Mas apenas a técnica faz da imagem algo marcante? Será que no fundo tudo tem uma receita já definida para o sucesso? Não aceitamos isso.

Embora a técnica tenha, incontestavelmente, o seu valor, há também certos aspectos que influem subjetivamente em uma boa foto sendo igualmente responsáveis pelo seu sucesso. E chegam mesmo a se transformar em marcas pessoais no conjunto da obra, podendo ser reunidos sob um único título: a sensibilidade do fotógrafo, que faz dele um apaixonado.

Fator 1 para uma foto impactante: Criatividade

Começamos nossa análise então pela Criatividade, que é como a foto se apresenta, talvez com um ângulo de câmera pouco usado, mostrando um enquadramento, uma composição e uma iluminação fora do comum, muitas vezes aproveitando um fenômeno da natureza, ou mesmo desprezando corajosamente uma perspectiva quase obrigatória, porque ser criativo geralmente é ser diferente.

Fator 2: Estilo

Depois temos o Estilo. Cada fotógrafo tem o seu, que é a sua forma de apresentar a imagem e que sempre se faz presente em suas obras ainda que de forma fugaz, talvez com a objetiva colocada em níveis pouco comuns, talvez enquadrando o modelo, com o primeiro plano desfocado, além de outros artifícios que lhe são agradáveis, seguindo as regras tradicionais da fotografia, ou mesmo rompendo com elas.

Os grandes nomes marcaram suas obras graças a seus estilos inconfundíveis | Foto: José Américo Mendes

O estilo é a assinatura do artista e marca a sua personalidade. A pintura está cheia desses exemplos e graças aos estilos, podemos identificar Gauguin, Monet, Renoir. Na escultura Aleijadinho, na música Beethoven, e na fotografia, de longe, Sebastião Salgado.

Sob determinados aspectos o estilo tem uma ligação muito estreita com a criatividade sendo, comumente, confundido com ela.

Fator 3 para uma foto impactante: Composição

A Composição vem a seguir e define valores e formas, bem como as cores, sua distribuição e volumes dentro da imagem. Seja adotando as normas tradicionais de enquadramento, como a Lei dos Terços, a Relação de Fibonacci e a pouco conhecida Regra das Diagonais, ou ficando na outra ponta da corda, ao quebrar usos e costumes.

A composição destaca, valoriza e define tanto um objeto inteiro, ou apenas um detalhe seu, funcionando da mesma forma com uma paisagem. E é pela composição que o fotógrafo passa a sua mensagem.

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Apenas o Mustang, mas quantas lembranças aos saudosistas da marca. Isso é ser impactante | Foto: José Américo Mendes

Fator 4: Iluminação

A Iluminação.  A luz é a alma da foto. É ela que dá o clima: alegre, calmo, funcional, contemplativo, sonhador, depressivo, ou instigante. Não há foto sem luz, por menor que seja. Quer a pleno meio-dia, quer à luz de velas, ela se faz presente sempre e, se bem usada, valoriza, destaca o objeto e define o clima.

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A luz é a alma da foto.É ela que dá o clima da imagem e cabe ao fotógrafo definir o resultado final buscando torná-la impactante | Foto: José Américo Mendes

É com a iluminação que o fotógrafo realiza o seu quadro e para isso dispõe de inúmeras formas de usá-la e dosá-la, seja com uma luz frontal, lateral, na contraluz, rebatida, ou modelada com soft boxes, snoots, filtros, ou gelatinas coloridas.  O tipo de iluminação quando adotado seguidamente também acaba por compor o estilo do fotógrafo.

O Objeto. Ele é simplesmente a razão da foto. Tudo gira em torno dele e cabe ao fotógrafo posicioná-lo, ou posicionar-se, de forma a valorizar cada ponto da sua figura, seja um pássaro, uma pessoa, uma flor, um produto, uma paisagem, ou uma estátua, como aquela que nos levou a aguardar uma manhã límpida, depois de uma chuvarada, que tivesse apenas uma pitada de luz no leste.

E enquanto esperamos a luz na medida certa, observamos uma nuvem, que passa como a nave do Darth Vader à procura de uma vítima Jedi.  À nossa frente Chopin, olhando o mar, busca inspiração para mais uma obra e em breve se destacará em silhueta, na luz do dia que nasce, e que o torna a razão de nossa madrugada.

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Foto: José Américo Mendes

Por enquanto, as luzes são promessas. Elas não são ainda tão importantes para a foto, mas ele é. E à proporção que o dia desperta, a cada segundo, nós o temos de uma forma, e logo mais à tarde, com o sol morrendo atrás da serra, um Chopin bem diferente, estará no pedestal à nossa espera.

Conclusão:  É nessa “construção” da imagem que os fatores técnicos e subjetivos se equilibram para compor uma via de mão dupla na elaboração da foto e é através dela que o fotógrafo definirá a impressão que deseja transmitir a quem vá observar sua foto.

Se positiva, atrai o espectador e o leva a analisar cada ponto da foto e, ao fim, desejá-la para si. Se negativa, esse mesmo espectador a repele, por não entender e, portanto, não aceitar aquilo que o autor pretendeu passar. Essas duas reações, para muitos estudiosos do comportamento humano, estão ligadas a uma faixa de sintonia entre pessoas, em que gostos e rejeições ora se chocam, ora se harmonizam, sob o conceito de “afinidades”. Mas isso é outra história…

Lembre-se de que às vezes o menos é mais

E um detalhe: não se esqueça de que numa foto tudo pode ser marcante, até sua simplicidade. Lembre-se de que às vezes o menos é mais.

Essa busca pelo impressionismo, que criou uma escola de pintura, também existe na fotografia e, embora com traços próprios, tem tudo a ver com a criatividade, que hoje em dia vai muito além do simples ato de fotografar, seja através dos trabalhos de pós-produção, seja incorporando técnicas, até recentemente tidas como totalmente incompatíveis com a fotografia, como o emprego da pintura, da colagem, dos recortes, das silhuetas, dos painéis  e de outros meios capazes de criar um contexto incomum, na busca do impactante, justamente por ser fora do usual.

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Hoje, painéis são criados e fotografados com os mais diversos temas, na busca do impactante | Foto: José Américo Mendes

Aliás, não é preciso ir longe. As revistas especializadas estão cheias de fotos bastante discutíveis e que, anos atrás ninguém de bom senso teria coragem de publicar, mas que hoje, todavia, são tidas como arte, mesmo porque uma característica da arte foi ser discutível sempre!

A verdade é que embora só recentemente sejam considerados, sempre houve uma série de elementos, por trás de uma  imagem, capazes de subverter regras e despertar desejos e aversões. Garanto que agora ao olhar uma foto você vai analisá-la de uma outra forma sabendo finalmente, porque gosta, ou não, dela.

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