“O que o mundo precisa são mais fotografias com paixão e não mais uma foto apenas tecnicamente correta”, Moose Petersen, fotógrafo
Para quem gosta de fotografia, não basta clicar uma imagem. E, obviamente, não falo daquela turma que sai fotografando sofregamente tudo que passa à sua frente com o celular, mas do fotógrafo consciente, que escolhe o que vai fotografar, buscando uma foto que o satisfaça em todos os detalhes e que tenha algo capaz de impressionar também a quem venha a observá-la. É a busca por aquilo que chamamos de foto impactante, um termo talvez meio esnobe, mas no final é o que se espera de uma boa foto: o impacto visual.
E nessa busca, muita gente nos pergunta o que é preciso para que a foto se enquadre nessa categoria e por que nem toda a foto produz esse efeito? Até onde a técnica é determinante para que uma foto impressione?
Sem dúvida, há todo um conjunto de fatores técnicos,que não devem ser descartados na composição de uma boa foto, começando com a escolha do assunto, a objetiva correta, a abertura do diafragma, a velocidade condizente com ele, o ISO mais ajustado, o filtro mais indicado, as condições do tempo e até o horário mais apropriado, entre outras coisas.
Mas apenas a técnica faz da imagem algo marcante? Será que no fundo tudo tem uma receita já definida para o sucesso? Não aceitamos isso.
Embora a técnica tenha, incontestavelmente, o seu valor, há também certos aspectos que influem subjetivamente em uma boa foto sendo igualmente responsáveis pelo seu sucesso. E chegam mesmo a se transformar em marcas pessoais no conjunto da obra, podendo ser reunidos sob um único título: a sensibilidade do fotógrafo, que faz dele um apaixonado.
Começamos nossa análise então pela Criatividade, que é como a foto se apresenta, talvez com um ângulo de câmera pouco usado, mostrando um enquadramento, uma composição e uma iluminação fora do comum, muitas vezes aproveitando um fenômeno da natureza, ou mesmo desprezando corajosamente uma perspectiva quase obrigatória, porque ser criativo geralmente é ser diferente.
Depois temos o Estilo. Cada fotógrafo tem o seu, que é a sua forma de apresentar a imagem e que sempre se faz presente em suas obras ainda que de forma fugaz, talvez com a objetiva colocada em níveis pouco comuns, talvez enquadrando o modelo, com o primeiro plano desfocado, além de outros artifícios que lhe são agradáveis, seguindo as regras tradicionais da fotografia, ou mesmo rompendo com elas.
O estilo é a assinatura do artista e marca a sua personalidade. A pintura está cheia desses exemplos e graças aos estilos, podemos identificar Gauguin, Monet, Renoir. Na escultura Aleijadinho, na música Beethoven, e na fotografia, de longe, Sebastião Salgado.
Sob determinados aspectos o estilo tem uma ligação muito estreita com a criatividade sendo, comumente, confundido com ela.
A Composição vem a seguir e define valores e formas, bem como as cores, sua distribuição e volumes dentro da imagem, seja adotando as normas tradicionais de enquadramento, como a Lei dos Terços, a Relação de Fibonacci e a pouco conhecida Regra das Diagonais, ou ficando na outra ponta da corda, ao quebrar usos e costumes.
A composição destaca, valoriza e define tanto um objeto inteiro, ou apenas um detalhe seu, funcionando da mesma forma com uma paisagem. E é pela composição que o fotógrafo passa a sua mensagem.
A Iluminação. A luz é a alma da foto. É ela que dá o clima: alegre, calmo, funcional, contemplativo, sonhador, depressivo, ou instigante. Não há foto sem luz, por menor que seja. Quer a pleno meio-dia, quer à luz de velas, ela se faz presente sempre e, se bem usada, valoriza, destaca o objeto e define o clima.
É com a iluminação que o fotógrafo realiza o seu quadro e para isso dispõe de inúmeras formas de usá-la e dosá-la, seja com uma luz frontal, lateral, na contraluz, rebatida, ou modelada com soft boxes, snoots, filtros, ou gelatinas coloridas. O tipo de iluminação quando adotado seguidamente também acaba por compor o estilo do fotógrafo.
O Objeto. Ele é simplesmente a razão da foto. Tudo gira em torno dele e cabe ao fotógrafo posicioná-lo, ou posicionar-se, de forma a valorizar cada ponto da sua figura, seja um pássaro, uma pessoa, uma flor, um produto, uma paisagem, ou uma estátua, como aquela que nos levou a aguardar uma manhã límpida, depois de uma chuvarada, que tivesse apenas uma pitada de luz no leste.
E enquanto esperamos a luz na medida certa, observamos uma nuvem, que passa como a nave do Darth Vader à procura de uma vítima Jedi. À nossa frente Chopin, olhando o mar, busca inspiração para mais uma obra e em breve se destacará em silhueta, na luz do dia que nasce, e que o torna a razão de nossa madrugada.
Por enquanto, as luzes são promessas. Elas não são ainda tão importantes para a foto, mas ele é. E à proporção que o dia desperta, a cada segundo, nós o temos de uma forma, e logo mais à tarde, com o sol morrendo atrás da serra, um Chopin bem diferente, estará no pedestal à nossa espera…
Conclusão: É nessa “construção” da imagem que os fatores técnicos e subjetivos se equilibram para compor uma via de mão dupla na elaboração da foto e é através dela que o fotógrafo definirá a impressão que deseja transmitir a quem vá observar sua foto.
Se positiva, atrai o espectador e o leva a analisar cada ponto da foto e, ao fim, desejá-la para si. Se negativa, esse mesmo espectador a repele, por não entender e, portanto, não aceitar aquilo que o autor pretendeu passar. Essas duas reações, para muitos estudiosos do comportamento humano, estão ligadas a uma faixa de sintonia entre pessoas, em que gostos e rejeições ora se chocam, ora se harmonizam, sob o conceito de “afinidades”. Mas isso é outra história…
E um detalhe: não se esqueça de que numa foto tudo pode ser marcante, até sua simplicidade. Lembre-se de que às vezes o menos é mais.
Essa busca pelo impressionismo, que criou uma escola de pintura, também existe na fotografia e, embora com traços próprios, tem tudo a ver com a criatividade, que hoje em dia vai muito além do simples ato de fotografar, seja através dos trabalhos de pós-produção, seja incorporando técnicas, até recentemente tidas como totalmente incompatíveis com a fotografia, como o emprego da pintura, da colagem, dos recortes, das silhuetas, dos painéis e de outros meios capazes de criar um contexto incomum, na busca do impactante, justamente por ser fora do usual.
Aliás, não é preciso ir longe. As revistas especializadas estão cheias de fotos bastante discutíveis e que, anos atrás ninguém de bom senso teria coragem de publicar, mas que hoje, todavia, são tidas como arte, mesmo porque uma característica da arte foi ser discutível sempre!
A verdade é que embora só recentemente sejam considerados, sempre houve uma série de elementos, por trás de uma imagem, capazes de subverter regras e despertar desejos e aversões. Garanto que agora ao olhar uma foto você vai analisá-la de uma outra forma sabendo finalmente, porque gosta, ou não, dela.