O que é afinal a expansão de ISO?

Já estava para desligar o micro quando entrou um e-mail de um amigo francês informando o lançamento de uma câmera cujo ISO ia além de 100 mil e, ao meu lado, um parceiro de hobby já suspirava por uma delas. Foi aí que decidi pesquisar o tão falado “ISO expandido”…

Toda DSLR tem uma relação de ISO, que é um valor de sensibilidade do sensor, que guarda uma correspondência muito grande com a sensibilidade dos filmes analógicos e que começa em 100, ou 200, e pode ir até 3.200, ou mais. Algumas câmeras oferecem uma “expansão” dessa relação que pode ser alcançada no menu da máquina. Essa expansão é uma extensão daquela série padrão (100, 200, 400, 800, 1.600, 3.200, etc., em que os valores dobram) e pode ser acessada, em algumas câmeras, através de HI.1 e HI.2. Qualquer um deles oferece uma relação de ISO acima dos valores normais e são considerados “excêntricos”, uma vez que alcançam 51.200 em HI1 e 102.400 em HI2 (!).

Foto: Unsplash
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E são excêntricos porque esses valores estão muito acima daqueles considerados como o padrão para uma DSLR, que permitem a produção de uma imagem tida como correta em termos de iluminação, contraste e equilíbrio de cores por todos os fabricantes. Todavia, alguns desses mesmos fabricantes que definiram valores tidos como ideais para uma boa foto procuram, na perversa guerra de marketing, seduzir os compradores oferecendo coisas que eles sabem que não vão funcionar tão bem, já que produzem imagens que distorcem os limites aceitáveis para uma foto.

E por que não são aceitáveis? É fácil entender isso porque você já sabe o que o ISO representa, mas o que acontece quando ele é alterado? Quando você aumenta o ISO, aumenta a sensibilidade do sensor à luz e cada sensor tem uma capacidade de ganho, além da qual ele trabalha fora de seu padrão e perde o controle na leitura dos pixels. Essa amplificação é feita com o aumento forçado do ganho do sensor e quanto mais isso acontece maior é a deformação de luzes, cores e contrastes, com o aumento do ruído, que corresponde àquela granulação dos filmes antigos.

Foto: Unsplash
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Tudo isso acontece tendo por base aqueles valores padrão, também conhecidos como a “relação nativa” da câmera. Para essa expansão, a câmera simplesmente vai buscar o ganho máximo do ISO, que pode ser de 1.600 a 25.000, e através de um software manipula os pixels, produzindo uma imagem irreal…

De certa forma, o ISO expandido se torna uma burla, que lida com números significativamente altos, levando o incauto a preferir valores que pouco, ou de nada, servirão.

Em outras palavras: é como se você comprasse um Fórmula 1 para ir ao trabalho sabendo que jamais poderá desenvolver os 320kmph que ele daria numa pista, com seus seiscentos cavalos, mas você paga por eles…

A mesma coisa acontece com uma câmera que anuncia um ISO superior a cem mil, marca que dificilmente você atingirá numa foto, mas você paga por isso, afinal é uma novidade…  Aliás, isso lembra a história do zoom digital, que também é um engodo, que só faz aumentar os pixels, cortando a imagem e produzindo fotos de baixa qualidade.

Agora, se você está vibrando justamente com o contrário, ou seja, com a capacidade de sua câmera trabalhar o ISO, levando-o para baixo do piso (100) mostrando um ISO 50, ou simplesmente “L”, saiba que a história é a mesma –  a câmera vai trabalhar no ganho mínimo do sensor, o que provoca uma imagem que deixa a desejar, ainda que você procure compensar com longas exposições. Esse valor abaixo do piso é conseguido pela redução do alcance dinâmico do sensor e trabalha podando as altas luzes, produzindo imagens de baixa qualidade e altos níveis de ruído.

Agora que você já sabe o que há por trás dos números, não se deixe levar por eles, a não ser que goste de uma vida cheia de surpresas…      

Nota: Nas revistas especializadas circulam rumores de que a Sony estaria desenvolvendo um super sensor capaz de aceitar um aumento do ISO a níveis revolucionários. A Canon já sinalizou qualquer coisa a respeito e colocou nas lojas câmeras full-frame que chegam aos 50MP na “expansão”, enquanto na Nikon o silêncio fala mais alto, o que quer dizer: só há boatos…

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