O que é a exatamente a fotografia still?

Volta e meia surgem discussões sobre o still life. Será apenas uma foto com um monte de coisas juntas e fotografadas? Há alguma ciência nele? Como entendê-lo? Para que possamos compreender o que seja o still life é preciso conhecer seu sentido e seu espírito.

O termo pode, numa tradução descomprometida, significar “vida tranquila”, ou simplesmente “tranquilidade” e “calma”, já que este é um dos significados do verbo “to still”. Isso porque o still life, que originalmente era uma foto de publicidade –  daí porque é conhecida também como “foto de produto” –   deve passar, numa infinidade de sugestões, como uma ideia de qualidade, de conforto, de tranquilidade, de bom gosto, de status social, de personalidade, até de saudade, ou um tipo de vida despreocupado, enquanto reforça, ou mesmo sugere um texto.

O still life não deve ser considerado a priori como apenas uma foto comercial. Todo still pode ser uma foto comercial, mas o inverso não funciona. Na maior parte das vezes ele traz uma mensagem, mas há casos em que pode, apenas, mostrar algo, sem um recado específico e é facilmente encontrado nos bancos de fotos –  é a foto conceitual –  em que a imagem pode adequar-se a assuntos diversos como uma reportagem, o texto de uma crônica, ou uma apresentação, como a foto dos relógios de bolso.

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

Seguindo uma tendência natural, o still evoluiu também como expressão artística. Com isso ele pode produzir uma natureza morta, um arranjo de joias, de ferramentas e o que a criatividade escolher, sendo que hoje já não é surpresa encontrá-lo em certas galerias, como obra de arte (fine art) e a um bom preço.

Como foto de produtos o still sempre foi imbatível e atualmente tem sido bastante usado para popularizar uma atividade que está na moda: a gastronomia! Tornou-se, inclusive, uma especialidade com profissionais se destacando no setor, que vem se firmando junto a bares, restaurantes e grandes empresas de fast-food, com fotos de divulgação. E mesmo usuários comuns de smartphone têm o costume de fotografar seus belos pratos para publicar no Instagram, o que, dependendo da qualidade da foto, até pode ser considerada still. O e-commerce também tem sido um usuário constante, com fotos de joias, roupas e objetos à venda pela Internet.

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

Embora possa ser feito ao ar livre, a grande maioria dos still é fotografada em estúdio. Por quê? Segundo Gary Perweiler, um dos Papas do still, nos Estados Unidos:

“No estúdio sou Deus. O cenário, a disposição das peças, a iluminação, o clima da foto, o enquadramento e, por fim, a mensagem, está tudo sob meu controle”

Um still não requer equipamentos sofisticados. Muito embora haja mesas especiais, com suportes para spots, na maior parte das vezes uma folha de cartolina presa à parede com fita gomada, fazendo uma leve curva, criando o efeito de fundo infinito onde não se tem a noção do vertical e do horizontal, com uma lâmpada lateral a 45º e um rebatedor é o bastante.  Nessas horas a bancada da pia da cozinha ajuda muito, como se vê, enquanto a foto final ficou por conta de uma luz de fundo mais trabalhada, melhor distribuição das folhas e um corte na vertical (lembra dele?).

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

As objetivas mais usadas

Normalmente as perguntas são qual a melhor objetiva e que iluminação usar? Na escolha da objetiva você pode ir de uma 50mm até uma 100mm. A “cinquentinha” é bastante versátil e faz ótimas fotos com detalhes e cores bem definidos. Caso seja necessária uma aproximação maior focando a imagem, as lentes close-up ajudam bastante. Objetivas como a 75mm, 80mm e 100mm também fazem boas fotos, cada qual com seu enquadramento, muito embora a tendência no still seja fechar no objeto principal, desfocando todo o resto para não desviar a atenção do observador. Se a foto ficar muito aberta recorra aos cortes (olha eles, mais uma vez…).

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

 A iluminação

Incandescente, alógena, fria, ou de led, é a luz que vai definir o clima e jogar com as cores. O número de lâmpadas e sua distribuição é importante. Há fotógrafos que trabalham com até quatro fontes de luz, enquanto outros se sentem melhor com uma luz mais baixa, capaz de detalhar bem a imagem, fugindo das fotos “chapadas”.  Se pretende usar a luz natural de uma janela, posicione um rebatedor do lado oposto para suavizar as sombras, mas procure não as eliminar porque são elas que vão dar a sensação de volume aos objetos. A aparência profissional fica por conta do posicionamento deles. Assim, faça o arranjo de forma que o fundo fique desfocado, destacando aquilo que é importante mostrar.

Foto: José Américo Mendes
Foto: José Américo Mendes

É raro um still satisfazer na primeira tomada: busque novos layouts, desloque as luzes para novas posições, faça a foto com a câmera mais alta, ou mais baixa, procure inovar, pois há sempre uma forma que ainda não foi explorada. Fotografe, por exemplo, à noite, numa externa, iluminando o objeto e aproveitando as altas luzes do fundo (se houver…) para transformá-las nos bokeh que fazem tanto sucesso.

Enfim, o velho still, ou foto de produto, hoje tem uma abertura enorme, gerando conceituações e equipamentos específicos como tripés, trilhos de aproximação, mesas especiais, tendas antirreflexo, gelatinas, iluminadores, fundos e um monte de tralhas, para que os resultados sejam cada vez melhores. Tudo isso, porém, não funcionará  se não houver algo que vem lá do começo, quando o homem começou a pintar as paredes de sua caverna: a criatividade.

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