Mário Macilau está em busca permanente por dramas encobertos no véu espesso do cotidiano. Sua missão, como fotógrafo, é desvelá-los. Nascido em Moçambique nos dias sombrios da guerra civil que sucedeu à independência do país africano, ele hoje vive de obter residências em bolsas de pesquisa (sua próxima será no Quênia) e levar sua arte o mais longe que puder.
Há três anos, Mário deu início a um ensaio sobre o Grande Hotel. O local em questão funcionou como hotel de luxo entre 1955 e 1963, na cidade de Beira, em Moçambique. Após esse período, se tornou um centro de conferências. Porém, durante a guerra civil (1977 a 1992), acabou sendo usado como campo de refugiados.
Atualmente, o que sobrou do hotel serve de moradia para 3.5oo pessoas, que vivem em situação de risco, sem água nem energia elétrica. Existe a promessa do governo de removê-las de lá, porém sua situação permanece inalterada.
Mário retornou ao local ano passado, após um forçado período de ausência, pois não tinha dinheiro para custear as despesas de viagem – ele mora no sul de Maputo, capital do país, enquanto que Beira está 1.190 quilômetros ao norte. Na oportunidade, ele foi contemplado com uma bolsa de pesquisa oferecida pela embaixada da Espanha e resolveu reativar o projeto, com vistas a uma exposição.
“Gosto de focar em temas que definem os nossos tempos através de um estilo único, que mescla o objeto e o espaço contemporâneo. Busco quase sempre relacionar a minha visão artística com a realidade cotidiana, por isso que para mim é importante focar na parte invisível que muitas das vezes o mundo coloca um pano preto para esconder”, afirma Macilau.
“No Grande Hotel fiquei fascinado pela sua história real e o presente, duas histórias em dois tempos diferentes no mesmo local – e qual será o futuro? Acima de tudo, essas pessoas que lá moram são iguais a nós, temos todos os mesmos direitos como humanos, apesar de haver uma fronteira imaginária que pretendo quebrar através das minhas fotografias e com o poder da voz deles”, complementa o moçambicano, que disse não ter encontrado problemas em seu contato com os moradores, apesar da fama de local perigoso.
“Eu em particular não vi esse perigo, porque tentei me colocar no lugar deles e não fui apenas como fotógrafo. Quando temos a capacidade de entender as pessoas, elas também nos entendem e assim o medo morre”, discursa.
Veja abaixo mais imagens do ensaio de Mário Macilau:
[wzslider]