O falso fotógrafo brasileiro da ONU que enganou jornais internacionais e 120 mil seguidores

Eduardo Martins enganou meio mundo com fotos que não eram suas.

Toda a fantasiosa vida do suposto fotógrafo era enaltecida por ele mesmo nas redes sociais, onde compartilhava fotos em zonas de guerra do Oriente Médio, “à trabalho” da ONU. Suas histórias, igualmente, eram fantásticas. E no caminho, conseguiu enganar pessoas que colaboraram para o tom de verdade dessa história. Ele conseguiu enganar jornais internacionais como Al Jazeera, Le Point, LensCulture, The Wall Street Journal, BBC, Deutsche Welle e outros. E ganhou alguns milhares de dólares: só no banco de imagens Getty Images suas fotos eram vendidas por US$575 cada.

As supostas fotos de Eduardo Martins em zonas de conflito, que ele compartilhava para seus mais de 120 mil seguidores no Instagram.

Para endossar suas histórias, ele inclusive criou um jornalista falso do The Wall Street Journal que elogiava suas publicações. E Eduardo Martins também supostamente publicava no mesmo jornal, um dos maiores e mais conceituados do mundo. Ele enganou inclusive fotógrafos e jornalistas brasileiros, e revistas como a Vice, que publicou uma matéria entitulada”No front com os Peshmerga” – conteúdo que já foi retirado do ar. O tal Eduardo inclusive estava negociando uma exposição de suas fotos na  DOC Galeria.

Até que, então, sua história chegou à BBC Brasil. Depois de já ter dado uma entrevista para o site, o suposto fotógrafo ofereceu suas imagens de forma gratuita à BBC, mas negava-se a conversar por telefone, mandando apenas arquivos de áudio pelo WhatsApp – nem mesmo estes áudios eram gravados ao vivo.

“A suspeita de que Eduardo é, na verdade, um fake, chegou à reportagem após ele ter abordado na internet a jornalista Natasha Ribeiro, colaboradora da BBC Brasil que vive no Oriente Médio e também assina esta reportagem. Ela desconfiou de seu discurso”, relata a BBC em sua matéria.

Matéria de ele emplacou com uma foto roubada no The Wall Street Journal
A entrevista que Eduardo Martins deu à BBC antes de ser desmascarado.

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Jornalistas brasileiros no Iraque relataram que nunca haviam conhecido nenhum Eduardo Martins que fotografasse naqueles mesmos locais que ele afirmava estar. Nem mesmo as autoridades locais sabiam do tal fotógrafo.

E além de todas as histórias super elaboradas e profundamente mentirosas, igualmente todas as fotos não eram de Eduardo. As imagens que ele utilizava para ludibriar meio mundo pertenciam, em sua maioria, ao fotógrafo americano Daniel C. Britt. Algumas outras imagens ainda não foram identificadas. O fotógrafo paulistano Ignácio Aronovich que percebeu a inversão das imagens.

“Sigo os fotógrafos que produzem cobertura de conflitos e lugares em crise há muitos anos e nunca tinha ouvido falar desse cara […]. Fui pesquisar e algumas fotos dele me chamaram a atenção. As câmeras têm disparadores do lado direito, tinha uma foto com um sujeito segurando a câmera com o disparador no lado esquerdo, o que me fez desconfiar que a imagem poderia estar espelhada”, conta Ignácio ao Sputnik Brasil.

As fotos invertidas compartilhadas pelo fotógrafo Ignacio Aronovich

Além de inverter as imagens, Eduardo Martins fazia alterações de forma que os direitos autorais de Britt não conseguiam ser rastreados. E para as legendas, Martins afirmava que fotos feitas em Kafr Nabl, por exemplo, teriam na verdade sido tiradas em Aleppo, 90km de distância dali.

“Isso é o que eu sei: Eduardo Martins tem roubado fotos de vários sites, incluindo o meu próprio, e revendido por meio das agências Getty Images e Zuma Press”, contou Daniel C. Britt à BBC.

A Getty Images já retirou todo material adulterado do ar e diz que está tomando as devidas ações, assim como a Zuma Press.

“A integridade editorial é de grande importância para a Getty Images e nossos fotógrafos são apaixonados em documentar o calendário global de notícias de um ponto de vista objetivo e imparcial. A manipulação e o uso de má fé da fotografia violam completamente a integridade editorial e a Getty Images leva muito a sério os usos não autorizados e manipulações de conteúdo, inclusive aqueles que infringem os direitos autorais. Eduardo Martins, a pessoa em questão, foi identificado como um colaborador e fornecedor de conteúdo de um de nossos parceiros que já foi notificado sobre esta infração. Enquanto trabalhamos em conjunto com todos os nossos departamentos internos para esclarecer urgentemente esta questão, estamos retirando do ar todo o material envolvido”, declarou a Getty Images.

E afinal, o que aconteceu com Eduardo Martins? Fernando Costa Netto, da DOC Galeria, havia comentado no final de agosto com Eduardo que rolavam boatos sobre ele ser fake. O resultado é que o tal Eduardo Martins sumiu, deletou sua conta do Instagram, o Whatsapp e disse, em sua última mensagem que estava na Austrália,  “tomei a decisão de passar um ano em uma van rodando o mundo”.   A polícia atualmente está na busca de Eduardo Martins, de acordo com o Waves, que reponderá por crime cibernético, roubo de imagens, danos morais, entre outras acusações.

O perfil do “fotógrafo” no Instagram quando ainda tinha 58 mil seguidores

 

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