Fotografia newborn: interessante notar como em tão pouco tempo esse estilo cresceu e atraiu olhares interessados tanto por parte de mamães, que agora conhecem e querem ter seus bebês fotografados dessa maneira, como por parte de fotógrafos e não fotógrafos, querendo entrar nesse nicho do mercado.
Workshops pipocam nos grupos de fotografia no Facebook, escolas procuram colocar em sua grade de programação um curso específico, eventos e congressos de fotografia dão cada vez mais espaço para palestrantes nessa área. Tudo isso é bastante válido e importante: a busca pelo conhecimento deve vir logo imediatamente ao interesse despertado e antes da prática.
Ou seja, antes de se lançar no mercado dizendo-se fotógrafo newborn, busque de fato conhecimento! Pesquise, leia a respeito, troque informações com quem está na área, procure fazer um workshop com um profissional experiente. Se na sua região não existe fácil acesso a esse tipo de informação, procure ver cursos em vídeo (há um DVD recém-lançado aqui no Brasil) ou em sites educativos.
Faça tudo isso antes de tentar colocar em prática o que apenas viu em fotografia. E entenda que esse é um mercado como outro qualquer na área de fotografia: exige conhecimento técnico, competência e criatividade para se destacar.
A fotografia não é uma profissão regulamentada nem tem seus “preços tabelados”. Da noite para o dia uma pessoa pode comprar uma câmera “mais ou menos” e dizer que “é fotógrafo”.
Justo ou não, não adianta bater nessa tecla. Assim é o mercado. Livre e aberto a todos. O que vale e o que fará você se destacar no meio de tantos “fotógrafos de verdade” e outros de “mentira” é, sem dúvida, a qualidade do seu trabalho.
Outro dia li, num dos posts do Facebook uma frase que me chamou a atenção e que sintetiza de forma bastante direta o que quero trazer aqui para nossa discussão (desculpem, não lembro quem foi o autor, mas vou tomar a liberdade poética de reproduzi-la a fim de evoluirmos essa ideia).
“Se o seu diferencial é preço, desculpe, você não tem diferencial!”
Dito isso, vamos partir para algumas ramificações de assuntos importantes que podemos aprofundar a partir dessa colocação, que, em minha opinião, é muito válida e verdadeira.
Quando o assunto é newborn, e muitos se entusiasmam com fotos fáceis de serem feitas (porque, afinal, o bebê está dormindo!), tenta-se fazer apenas copiando o que se viu e ainda deseja-se um resultado financeiro bem rápido, sem dar tempo a cada parte do processo de aprendizado.
Então, logo na primeira tentativa percebe-se que não é tão fácil assim, mas, como o mercado é promissor, vale tentar. Assim, o próximo passo seria montar um portfolio. Como o mundo é globalizado e informações estão aí para quem quiser pegar, algumas pessoas apenas leem um ou dois artigos a respeito, olham um par de fotos no Facebook, perguntam onde se compram as cestinhas e os tais paninhos, chamados estranhamente “wraps”, e então partem para já se venderem como fotógrafos newborn. Como ainda não têm o que mostrar para poder vender seu peixe, fazem o valor da sessão beeem baratinho que é para formar o tal do portfolio mesmo!
Então, o que está errado aí são apenas duas coisas:
1) Querer que tudo aconteça de forma rápida, passando por cima de uma etapa importante, que é a transformação da informação em conhecimento.
2) Colocar no mercado valores de referência para o cliente que estariam fora (muito fora) de um negócio que seria ideal para a própria sobrevivência do fotógrafo.
Fazer barato tem lá o seu sentido quando o fotógrafo ainda não se sente tão seguro da qualidade do seu trabalho e da experiência que possui, mas fazer muuuuuito barato é enganar o cliente e a si mesmo. O cliente vai amar, é claro. Mas ele deve saber que estará levando gato por lebre. E, a si mesmo, porque seria impossível sobreviver por um longo tempo no mercado praticando preços irrisórios. Aí, quando decidir que é hora de aplicar o valor correto, justo, pelo trabalho, não vai conseguir, porque já terá ficado conhecido como o fotógrafo que cobra barato!
O boca a boca vai tratar de passar essa informação adiante, porque no mercado de fotografia de famílias, gestantes e bebês as clientes vêm muito assim, por indicação de quem já fez.
A solução? Simples:
1) Primeiro, aprender a teoria – tanto a parte técnica de fotografia quanto de como lidar com bebês recém-nascidos.
2) Depois, treinar com bonecas ou qualquer outro objeto – tipo bichinho de pelúcia que tenha o mesmo tamanho de um recém-nascido (48cm, mais ou menos) – para testar a luz, a composição, desenvolver uma familiaridade com seu equipamento (câmera e objetivas).
3) Em seguida, minha sugestão é fazer alguns ensaios, uns três pelo menos, de graça, com filhos de conhecidos – sem colocá-los em risco, claro! – ou com filhos de pessoas que não poderiam pagar por uma sessão de fotos.
Qual a ideia aqui? Não é usá-los como “cobaias”. Não se deve fazer nenhuma pose que ainda não se sinta apto ou confortável para tal. Deve-se, sim, fazer tudo da melhor forma possível, colocando em prática tudo que aprendeu, mas deixando claro que está em fase de desenvolvimento e por isso não garante que tudo saia perfeito e que consiga exatamente a qualidade das fotos que aquela mamãe possivelmente já viu em fotos na internet.
Isso libera o fotógrafo iniciante de uma grande pressão interna por perfeição e resultados que normalmente o deixaria tão ansioso que dificilmente o bebê dormiria na sua presença (bebês captam tudo! Captam toda a energia do ambiente e de quem estiver nele).
Depois disso, com um pouquinho de experiência pessoal, o próprio fotógrafo percebe onde deve melhorar e vai fazendo fotos cada vez mais bonitas!
E, acreditem: fazer de graça é melhor do que fazer barato!
É como um estágio, no qual o fotógrafo vai se familiarizando e entendendo que cada bebê tem seu jeito, mas que algumas técnicas funcionam, e vai ficando seguro e também vai se dar conta do trabalho que dá, do tempo que leva, do que foi preciso aprender para se especializar e, então, com certeza vai saber quanto cobrar e vai ver que R$ 250 não pagam nem de longe tudo isso!
4) Feitos alguns ensaios, o fotógrafo já vai ter suas próprias fotos para montar um portfolio e praticar preços justos (tanto para ele como para a concorrência) e assim não confundir o mercado que está em formação.
Pensem a respeito.
Agora, podemos falar também de uma outra ramificação da frase citada no início deste artigo. Vamos falar de diferencial.
É comum no início do processo fazer tudo igualzinho ao que se aprendeu. Pensem por exemplo no processo da escrita, isto é, quando estamos lá na pré-escola aprendendo a escrever. Usamos cadernos de caligrafia (ops!, devo ser mais velha do que vocês… Ainda se usa isso hoje em dia? Se não, vocês devem ter ouvido falar, né? Vão entender o que quero dizer), usando o tal caderno para guiar nossos traços e copiarmos literalmente a letra tão bonita da professora. Nosso desejo é (ou deveria ser) ter uma letra bonita como a dela. E então, depois de aprender, devemos praticar. Praticar muito para cada vez ficar melhor – ou, pelo menos, legível.
Depois que aprendemos, nos libertamos do caderno cheio de linhas e escrevemos do nosso próprio jeito. Criamos nossa letra, que tem muito a ver, talvez, com nossa personalidade e claro com o quanto, de fato, praticamos. Outra coisa que pesa no resultado é o quanto fazemos aquilo com capricho e atenção.
No final, a seu tempo, cada um terá sua letra. Pode até ser mais bonita que a da professora!
Então é isso: existem letras de todo jeito, bonitas, feias, criativas… o importante é que sejam legíveis. Certo? O que vai diferenciar uma da outra, além do conteúdo do que está sendo escrito, é o reconhecimento de que aquela é sua letra. Sua!
Entendem?
Então, é isso: após o período de aprendizado e desenvolvimento vem a fase de você buscar seu próprio diferencial, seu estilo, sua “autoria”. Aí, quando atingir esse nível, seu preço, o valor do seu trabalho, não precisará mais ser comparado com o de ninguém, porque, afinal, ninguém fará o que você faz! Você torna-se único!
Esse é o caminho, essa é a ordem das coisas. É saudável, ético e compensador. É isso que eu desejo a todos vocês! Não façam nada na vida com tanta pressa que prejudique a sua própria prosperidade.
Abraços e boas fotos!
CARLA DURANTE é fotógrafa de recém-nascidos, gestantes e famílias e uma das fundadoras da Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN).
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