Muito se falou no último mês sobre o compromisso do fotojornalismo com a realidade da imagem. Mas esse assunto já vem de longe. O escândalo de modificações em fotografias de Steve McCurry foi apenas o estopim de uma discussão que esquentou quando a Reuter criou novas regras para seus fotojornalistas. Para evitar qualquer tipo de modificação, a agência de jornalismo aceita apenas fotografias em JPG direto da câmera, sem nenhuma edição de RAW ou outro tipo de pós-processamento.
Agora a National Geographic, que entrou no escândalo de McCurry por ter publicado inclusive uma capa modificada, finalmente se posicionou. No artigo How We Spot Altered Pictures (Como Descobrimos Fotografias Alteradas, em inglês) publicado na edição de julho 2016 da revista e também on-line, a editora Susan Goldberg diz que a revista nem sempre fez o seu melhor para garantir que as fotografias refletissem a realidade. E afirma o compromisso atual da revista com a realidade das imagens:
“Na era digital, quando é tão fácil manipular uma foto, é mais difícil do que nunca garantir que as imagens que publicamos, seja em papel ou em uma tela, reflitam a realidade do que o fotógrafo viu através de seu visor. Na National Geographic, onde a narrativa visual é parte do nosso DNA, certificar-nos de que você veja imagens reais é tão importante quanto ter certeza que você lê palavras verdadeiras”, diz Goldberg.
A editora retorna em fevereiro de 1982 para falar sobre uma cobertura da National Geographic no Egito. A foto de Gordon Gahan foi alterada para que coubesse na capa vertical da revista.
A imagem original era horizontal, porém os editores resolveram alterá-la, juntando os elementos principais dentro do quadro vertical. E moveu as pirâmides, deixando-as mais perto do que estão na realidade. O escândalo veio e acusações diziam coisas como “National Geographic move as pirâmides!”. Para Susan Goldberg, aquele foi o momento em que a revista aprendeu a lição.
Em relação ao escândalo envolvendo as fotos de Steve McCurry, o próprio fotógrafo argumenta que padrões éticos na indústria do fotojornalismo mudaram ao longo das últimas décadas, citando capas de edições antigas da National Geographic como exemplos. Uma de suas fotos de capa também foi fortemente editada pela revista para caber o quadro:
Assim como McCurry, a NatGeo diz ter aprendido a lição e que sua política atual é completamente diferente do passado. “Na National Geographic nunca é OK alterar uma foto. É parte da nossa missão garantir que as fotos sejam reais”, posiciona-se Susan.
E qual a política da revista hoje em dia em relação ao recebimento de arquivos? A National Geographic exige que fotojornalistas enviem os arquivos RAW originais das respectivas imagens que eles enviarem, permitindo a revista examine os dados de pixel intocados e capturados pela câmera. “Se um arquivo bruto não está disponível, fazemos perguntas detalhadas sobre a foto”, diz Goldberg. “E, sim, às vezes o que nós ouvimos nos leva a rejeitá-la”.
A questão principal para a NatGeo hoje é: “Esta foto é uma boa representação do que o fotógrafo viu?”. “Para nós, como jornalistas, que a resposta sempre deve ser sim”, conclu Goldberg.
Fonte: National Geographic, PetaPixel