Com a repercussão da entrega do relatório da Comissão Nacional da Verdade à Presidente da República ainda fresca no noticiário, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura nesta quarta (17) duas exposições que têm como tema os Anos de Chumbo.
Uma delas é Operação Condor. Representada por 113 fotografias, é resultado do trabalho de fôlego do fotojornalista português João Pina, que durante nove anos investigou o acordo dos governos militares do Cone Sul para caçar seus opositores durante a década de 1970.
Em paralelo, o MAM inaugura Imagens da escuridão e da resistência, coletânea de 50 obras de artistas e ativistas brasileiros que fizeram de seus trabalhos um instrumento de luta política, tanto na época da ditadura militar quanto nos dias atuais.
A pesquisa de João Pina também resultou no livro Condor (Editora Tinta da China), que será lançado na abertura, às 18 horas, junto com uma mesa-redonda da qual participarão o autor, o curador do MAM-RJ Luiz Camillo Osorio e o jornalista Chico Otavio. A curadoria da mostra é de Diógenes Moura, que a classifica como algo mais que uma exposição: “É um documento sobre cicatrizes”, afirma.
A Operação Condor atingiu seu auge em 1975, explica João Pina. Resume-se a um acordo secreto firmado pelas ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai para eliminar inimigos políticos: “Através da partilha de informações, recursos, técnicas de tortura e prisioneiros políticos, esses países pretendiam aniquilar a oposição política, a quem chamavam a ‘ameaça comunista’ ou os ‘subversivos’”, acrescenta.
Para Luiz Camillo Osorio, as fotos de Pina refletem a necessidade de conhecermos melhor esta “história lamentável e ainda nada cicatrizada”. Luiz também responde pela curadoria de Imagens da escuridão e da resistência. Esta reúne trabalhos de Antonio Manuel, Augusto Malta, Carlos Zilio, Evandro Teixeira, Hélio Oiticica, Hugo Denizart, Rosângela Rennó e Rubens Gerchman, pertencentes à coleção do MAM-RJ e à coleção Gilberto Chateaubriand, em comodato com o museu.
“Todos os ‘artistas’ aqui expostos viveram e vivem sob a exigência de lançar alguma luz no que fica preso à escuridão. Apresentar pela primeira vez a Cosmococa de Oiticica e Vergara, além de outros artistas consagrados, junto com coletivos recentes e ativistas, é um privilégio para o MAM. Seja nos duros anos da ditadura, seja no enfrentamento de uma democracia policialesca, a arte sempre se desdobrou em exercício político”, analisa o curador, para quem a dobradinha expositiva é “uma forma do MAM recusar, nestes 50 anos do golpe, qualquer acomodação diante da memória da ditadura”.
Ambas ficam em cartaz até 22 de fevereiro, no segundo andar do museu. O ingresso custa R$ 17 (crianças não pagam; estudantes e idosos pagam R$ 7). Mais informações no site.