Luiz Maximiano: adeus às armas

 

Membros da brigada Al-Quds, braço militar do grupo Jihad Islâmico, nos arredores da cidade de Gaza, foto tirada em janeiro de 2012, uma das últimas incursões de Luiz Maximiano em conflitos

Luiz Maximiano está em um período “caseiro” de sua carreira. O paranaense de Assis Chateaubriand voltou ao Brasil em 2010 e está sediado em São Paulo, onde atua como freelancer para o mercado editorial, fazendo reportagens e retratos. Principalmente retratos. Não faz muito tempo, porém, sua janela estava aberta para o mundo. E a rotina era um tanto mais conturbada: guerra no Afeganistão, tumultos raciais em Myanmar, epidemia de HIV na África do Sul, confrontos na Europa Oriental e crise social na América Latina – Luiz perseguia os dramas da humanidade.

 

Luiz Maximiano: guerras ajudam a entender o ser humano (foto: autorretrato)

Sua escolha pela fotografia se deu por acaso. Em 2003, com 25 anos de idade, Luiz se mudou para Amsterdã, na Holanda. Lá, se interessou por fotografia. Por 40 dólares arrematou uma Canon AE-1 usada no Ebay e começou a praticar.

– Trabalhava na área de comunicação de uma ONG e nas horas vagas devorava livros sobre fotografia e fotografava em PB, revelando minhas próprias fotos num laboratório improvisado no meu quarto – lembra o fotógrafo, que hoje tem 34 anos.

Em 2007, ainda na Holanda, foi eleito revelação do ano pelo concurso da Canon, o Canonprijs, o que serviu de passaporte para publicar na imprensa internacional. Mais tarde, em 2011, conquistou o Prêmio Abril de Jornalismo e, ano passado, obteve o primeiro lugar no International Photography Awards, na categoria Environmental, seu êxito mais valorizado: – Significou muito pra mim por ter competido com grandes nomes da fotografia mundial, como Paolo Pellegrin, da Magnum, e Ron Haviv e Ed Kashi, da VII, gente que eu admiro demais.

Luiz aprecia histórias que falem da condição humana. Por isso, a opção por documentar crises e conflitos. Guerras, ele argumenta, são essenciais para explicar o ser humano. Infelizmente.

Atualmente, falta-lhe tempo para desenvolver projetos autorais. O último foi uma série de retratos sobre lutadores de boxe do torneio Forja dos Campeões, que ocorre em São Paulo, trabalho desenvolvido em 2012.

Foto de ensaio sobre o lixão La Chureca, em Manágua, Nicarágua, tirada em 2008. Luiz considera esse um dos seus trabalhos mais marcantes
Anderson Silva em visita a tribo dos Kamaiurás, para aprender a luta Huka-Huka, no Xingu (MT)

– Gostei muito do resultado e certamente gostaria de investir mais tempo nos projetos pessoais – afirma Luiz, que para este ano esboça um retorno ao continente africano. Nada garantido, entretanto.

Com relação às “hard news”, o fotógrafo afirma estar em “outro momento”. Suas últimas incursões foram até bem recentes: em 2012 esteve no Cairo e também na Faixa de Gaza. No momento, ele é uma baixa no restrito clube brasileiro do fotojornalismo de guerra, cuja participação no cenário internacional já é minúscula, apesar das honrosas menções:

– Tem o Maurício Lima que, através do trabalho em sua antiga agência, AFP, produziu um extenso material no Iraque e Afeganistão. De todos, ele é o mais bem-sucedido e com um trabalho consistente até pelo suporte que tinha com a agência, de poder voltar várias vezes a essas regiões. Tem o Anderson Schneider, que esteve no Iraque também por conta própria, em 2003, se não me engano. O Juca Varella pela Folha, nos primeiros dias da guerra do Iraque. O André Liohn na Líbia. Mais um ou outro no Afeganistão também. Desde o início da guerra do Afeganistão, em 2002, e Iraque, em 2003, não deve chegar a dez caras que saíram daqui. A maioria foi por conta própria, como eu – observa.

Combatente birmanês em treinamento para integrar a milícia Free Burma Rangers, em Myanmar, novembro de 2008
Estudantes durante protesto contra o governo pela educaç㍋o em Santiago, Chile, setembro de 2011

Para as empresas jornalísticas, mandar um fotógrafo a campo sai caro, além de perigoso. Por isso, preferem recorrer às agências internacionais, o que desestimula quem envereda pelo caminho da documentação de guerras e conflitos, pois é preciso ficar meses em alguma zona de guerra esperando aparecer pautas para poder pagar as contas:

– Além do perigo, o mais difícil em se cobrir uma guerra são os custos. É muito caro pagar por hospedagem, água, comida e comunicação num lugar desses e os grandes veículos brasileiros dificilmente vão querer bancar alguém por semanas ou meses, que é o tempo necessário para fazer um bom material – afirma Luiz Maximiano, que não descarta retomar o caminho da guerra, caso surja alguma boa história:

– Vou numa boa, mesmo que do meu bolso – garante.

Líder do povo indígena suru, Almir Suru, na aldeia Lapetanha, próximo ao município de Cacoal (RO)

 

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