A realidade retratada por Irina Popova em seu livro Another Family – infelizmente – é a mesma de milhares de habitantes nos mais diversos países. Só no Brasil, ao menos 28 milhões de pessoas têm algum familiar que é dependente químico, de acordo com o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no ano de 2013.
Em 2008, Popova publicou na internet fotos do cotidiano de uma família de São Petersburgo, na Rússia, que causaram revolta e levaram os pais à perda da guarda da filha. Os comentários negativos não só reprovavam as circunstâncias familiares de Lilya e Pasha, um casal desempregado e dependente químico, como a falta de ação da fotógrafa perante aquela situação. Na série, o casal aparece ao lado da filha Anfisa, de apenas dois anos, vivendo em meio ao caos do submundo das drogas.
As fotografias foram posteriormente reunidas em livro que inclui imagens inéditas, comentários em páginas da internet, cartas privadas e diários e tenta analisar as consequências das ações e o grau de responsabilidade do fotógrafo. Another Family é mais do que um simples documentário fotográfico que retrata a situação deplorável de uma família desregrada, é um documento que trabalha uma questão confrontada por fotógrafos documentais em algum momento de suas carreiras: o fotógrafo deve apenas retratar o que vê sem intervir na realidade que documenta ou deve tomar alguma atitude?