Levindo Carneiro: a edição antes do Photoshop

Os que olham uma capa de revista se perguntando o que ali seria “real” e o que seria Photoshop esquecem – ou não imaginam – que manipulação em fotografia sempre existiu. Muito antes de John e Thomas Knoll lançarem pela Adobe a primeira versão do hoje famoso (e indispensável) programa de tratamento de imagens, em fevereiro de 1990, fotógrafos e laboratoristas realizavam fusões, recortes e colorização de negativos.

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Levindo Carneiro, em autorretrato surrealista: “Retoques sempre existiram”

Um exemplo notório é o “expurgo” de Trotsky e de outros líderes da revolução russa das fotos oficiais do partido comunista nos anos 1920: Stalin usou a habilidade de alguns técnicos em imagem para apagar seus rivais da História – assim como os fez sumir da face da Terra.

Nem toda manipulação tem finalidades tão maquiavélicas, mas é certo que espíritos mais suscetíveis vivem às turras com o Photoshop, acusando-o pelas bizarrices que mãos menos engenhosas cometem ao emular um padrão de beleza distante da maioria das pessoas. Porém, a edição de imagens é um adendo absolutamente necessário à fotografia digital e – justiça seja feita – possibilita maravilhas de criação. E mais: para quem antes teve que fazer as coisas “no braço”, representa uma verdadeira bênção.

No Brasil, um dos artistas que fizeram a transição do artesanal para a sofisticada edição digital chama-se Levindo Carneiro, paraense de 63 anos que vive no Rio de Janeiro, onde trabalha em parceria com o retratista carioca Luiz Garrido no Tibet Filme, estúdio de fotografia e cinema que a dupla mantém na Barra da Tijuca.

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Trabalho de Levindo de 1988,
antes da chegada do Photoshop

Levindo começou a fotografar em 1972, após ter aprendido a revelar filmes num curso por correspondência uns anos antes. Mais tarde, fez faculdade de artes, mas não se deu bem na disciplina: o professor achava suas fotos muito “estranhas”. Além disso, ele perdia muito tempo fazendo suas montagens analogicamente.

As coisas começaram a melhorar quando ele descobriu o Paint, programa simplório de edição da Microsoft que lhe permitia realizar alguns “delírios”. O paraense tinha um Mac, que usava para fazer música. Gravou dois discos tocando todos os instrumentos e editou as capas no Paint. Em 1988, migrou para o Digital Darkroom, depois de trabalhar por três meses no laboratório nova-iorquino Duggal, que prestava serviços de revelação de cromos para as revistas do Rio. “Era só em grayscale, ainda tenho os manuais”, diz Levindo, que iria aderir ao Photoshop desde a primeira versão. “Hoje em dia uso mais de 400 softwares nos meus Macs, a maioria para fotografia”, afirma.

Nesse arsenal, destacam-se os programas de edição em 3D, tecnologia que ele vem observando com interesse. “O 3D está cada vez mais real, estou pesquisando agora imagens 3D com iluminação pelo ambiente: cria-se um domo em volta da figura, mapeia-se uma foto por dentro do domo, que influenciará a imagem como na vida real e que iluminará a imagem, não mais apenas com uma caixa de luz ou o Sol”, descreve, otimista com o nível de realismo e as possibilidades de aplicação dessa técnica.

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Ao lado dessas pesquisas, Levindo publica livros e desenvolve aplicativos para o público infanto-juvenil. Seu Que bicho que é?, lançado em 2010 pela editora Réptil, foi selecionado para o White Ravens, catálogo anual da Internationale Jugendbibliothek (IJB), a maior biblioteca de literatura infanto-juvenil do mundo. “Fiquei estimulado pelo reconhecimento e fiz vinte livros/aplicativos”, conta.

A publicidade o tem desestimulado, por outro lado: “O nível das imagens pedidas pelas agências é muito medíocre, não precisa de um bom fotógrafo para isso e os preços baixaram muito, pela democratização da fotografia”, analisa. Mesmo assim, Levindo não engrossa o coro de quem vê exagero no uso do Photoshop: “O abuso é de quem vê e acredita, pois retoques sempre existiram, com pincéis, tintas etc. A fotografia pura também foge da realidade: grão, lente, luz etc.”, lembra. Abaixo, mais obras do artista:

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