Homenagem aos nossos modelos favoritos
Muita gente que hoje maneja uma câmera profissionalmente começou nisso por causa delas. São, disparado, as modelos preferidas. Ninguém se cansa de clicá-las. O gosto pela fotografia, hoje em dia, está intimamente relacionado ao prazer de fotografar os filhos. De poder documentar o desenvolvimento e cada nova descoberta dos pequenos, em seu caminho inexorável rumo à vida adulta.
Mas não é só isso. Imagens de crianças aquecem o coração. Quem não aprecia um sorridente retrato de criança? E quem não aprecia fotografá-las? Sim, muito fotógrafo prefere descer a câmera ao ponto de vista infantil e ter uma rotina de trabalho mais feliz.
Em homenagem ao dia 12 de outubro, Dia das Crianças, pedimos a alguns profissionais para falar sobre as delícias e os desafios de correr atrás desses modelinhos de câmera na mão:
“Fotografar crianças é um gesto de carinho”, resume Vanessa Atalla, fotógrafa de família em São Paulo e colunista do iPhoto Channel. “Seja lendo seus livros favoritos, brincando de cabaninha ou de esconde-esconde no jardim, é sempre uma aventura pra lá de divertida”, ela garante. “É como se eu entrasse em contato com a pureza daquilo que eu acredito. Ao contrário dos adultos, que acreditam com a cabeça, elas acreditam com o coração. E sabe o que é mais legal? Quando eu fotografo os pequenininhos, sinto que cresço por dentro. O maior desafio é transmitir a alegria de ser criança para a imagem. Porque a explosão é muito maior. E como crianças não seguem roteiros, você tem que estar de coração aberto para um sorriso que pode chegar sem avisar”, adverte.
Essa questão é interessante: de fato, as crianças subvertem o sentido de controle do fotógrafo, seja ele um dos pais ou o profissional contratado. Elas dificilmente se submetem aos caprichos de quem aperta o obturador. Mesmo quando este consegue que parem por um momento numa pose, precisa ser rápido, pois inércia não combina com crianças.
“Fotografar criança é muito divertido”, diz Maricélia Wiesböck, baiana que fotografa bebês e gestantes em Munique, na Alemanha. “Elas são engraçadas e falam o que pensam, às vezes contam até história, e eu viajo nesse mundinho de fantasias e acabo virando uma criança também”. Maricélia gosta de descontrair suas modelinhos fazendo perguntas engraçadas que invariavelmente terminam em risadas. “Eu não tenho dificuldades para fotografar uma criança. A minha paixão por bebês e crianças torna isso mais fácil. Para mim, a criança já é natural”, informa. Mari acha, porém, que o importante é não forçar a barra, pedindo a elas que façam algo que não queiram ou não gostem. O resto é só alegria.
Quem tem criança em casa sabe como é rico o repertório de situações passíveis de uma boa foto. Muito do que fazem tem um quê de inusitado e elas estão sempre interpretando em suas brincadeiras. Mesmo bebezinhos, em tese mais estáticos, surpreendem com expressões e sorrisos inesperados. Inesperados, porém fugazes.
“Não é preciso ter um coração de manteiga para se derreter ao ver um sorriso de orelha a orelha dessas pequenas criaturas”, afirma Weronica Eler, do estúdio DigaChis, de Cuiabá (MT). Sócia do marido Marcus Aurélio no negócio, Weronica lembra que, ao ver a imagem de um recém-nascido sorrindo, muita gente não se dá conta de que o registro foi feito num décimo de segundo, e que a sorte ou perícia do fotógrafo contou para a foto existir. “Fazer essas fotos no estilo newborn é isto: lindo, contagiante, mas também desafiador”.
Weronica e Marcus, aliás, têm uma relação filial com seu trabalho – ela o compara um pouco aos sentimentos de uma mãe logo nos primeiros dias do nascimento do filho. “O bebê dela provavelmente vai privá-la do sono, de suas atividades cotidianas, vai fazê-la interromper o almoço ou janta ou qualquer refeição para alimentá-lo. Enfim, não será fácil. A mãe, então, com todo o cansaço mental e físico, olha para ele e ganha um sorriso de volta. O que acontece é que os pais esquecem o trabalho que tiveram, pois estão sendo recompensados pelo bem-estar e saúde de seu filho. Para nós é bem similar: a gente se contorce toda nos ensaios, levamos para casa cocô e xixi, passamos longas horas editando fotos, mas, no momento, o DigaChis é nosso único filho, do qual temos muito orgulho e perdoamos o trabalho que ele nos dá. Achamos que isso é o mais legal de se trabalhar com esses pequenos: é você conseguir esquecer o trabalho que deu se surpreendendo, se emocionando com as fotos. Que seja sempre assim”, deseja.
“O que nos encanta no trabalho com as crianças é sua relação verdadeira com a fotografia”, destaca Irmina Wakczak, do ateliê de fotografia Panoptes, de Brasília (DF). “Despreocupadas com a função social delas, assim como com o resultado final dos ensaios, crianças vivem genuinamente conforme seus desejos e naturalmente se entregam, sem máscaras, sem poses, sem limites. Nossos encontros com elas são sempre imprevisíveis e apontam para a liberdade. Na sua simplicidade e falta de controle das suas emoções, as crianças nos ensinam a viver o presente e capturar a vida como ela é”, acredita.
Irmina e Sávio Freire são exemplos perfeitos desse encanto que transforma pais em fotógrafos. A rotina de fotografar a filha Yasmin os levou a desenvolver o seu negócio de fotografia focado no universo infantil. São, portanto, vítimas de uma deliciosa inversão de papéis: os filhos “decidindo” o destino profissional dos pais. Por que não?