Gisele Fap: newborn requer persistência e bom senso

Newborn é um tipo de fotografia que suscita emoções à flor da pele. Não é difícil imaginar uma mãe indo às lágrimas diante de uma bela foto do filho em seus primeiros dias de vida. A mesma reação teve Gisele Fap – mas quando fez o seu primeiro clique de recém-nascido.

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A atriz Nivea Stelmann, “garota-propaganda” de Gisele Fap
Gisele Fap: fama de fotógrafa de “globais” (foto: Priscila Tessarini)

Natural de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, 36 anos de idade, casada e mãe de Luisa, de seis anos, Gisele fotografa famílias profissionalmente desde fevereiro de 2012. Formada em administração de empresas, tem afinidade com a câmera desde muito cedo (sempre foi a fotógrafa “da” família). Enquanto trabalhava na gráfica do pai, levou a fotografia como hobby. O nascimento da filha começou a mudar a relação. “Quando a Luisa ainda era bebê e estava dormindo, eu a posicionava e fotografava. Ficava horas fazendo isso”, conta.

Alguns meses após realizar o primeiro curso básico de fotografia, Gisele comprou uma Canon T1i e começou a trabalhar como fotógrafa de final de semana. Seu “batismo” foi o aniversário de uma sobrinha. “Depois disso, nunca mais parei. Comecei com festas infantis, casamentos, alguns ensaios de amigas, mas o que me deixava mais feliz era registrar crianças. Adorava fazer acompanhamentos infantis”.

Um tempo depois, uma amiga fotógrafa sugeriu um curso de fotografia newborn. “O primeiro clique, depois do bebê posicionado, ali parado em minha frente, me fez chorar, nunca havia sentido algo assim”, lembra a paulista, que seguiu fazendo cursos na área e se preparando para se lançar como fotógrafa em tempo integral, dedicada ao segmento newborn. “Esta foi a melhor escolha da minha vida”, afirma.

No mês de março, ela foi contratada para registrar o primeiro ensaio de Bruna, a filha da atriz Nivea Stelmann. As fotos saíram na mídia e deram prestígio a Gisele, que depois fotografou o bebê de Bárbara Borges e já tem outro ensaio com mãe famosa na agenda: “Mas eu só gosto de divulgar depois de ter registrado o momento”, desconversa. Na entrevista a seguir, Gisele fala um pouco mais sobre sua carreira e como está o segmento newborn:

Você concorda que a fotografia newborn é o segmento do momento na fotografia comercial aqui no Brasil? Como você avalia essa onda de interesse e o que isso implica para a profissão, no seu ponto de vista? Eu acho maravilhoso esse segmento estar crescendo a cada dia, o que é bom e, ao mesmo tempo, preocupante. Nem sempre os profissionais da área conseguem investir em workshops. Existem vários cursos on-line, que eu acho ótimo, mas o profissional deve investir em um workshop presencial, que nunca deve ser substituído. Os pais lhe entregam o seu maior bem: seu filho. Isso não tem preço. É muita responsabilidade. Antes de começar uma sessão, gosto de segurar o bebê no meu colo, sentir seu comportamento, sua respiração, e perceber o seu bem-estar. É um ritual para mim. Hoje prezo pela qualidade e não pela quantidade. Estou muito feliz por essa oportunidade de crescimento na área. Talvez eu fosse mais uma a estar no mercado por prezar apenas o lado financeiro que este estilo de sessão nos proporciona. O que nunca se deve esquecer é por qual propósito você está ali.

Como foi o seu início na área? Foi difícil? Quais são os primeiros passos para alguém que está disposto a fotografar bebês tão novinhos se estabelecer no mercado? Foi difícil, pois tinha que trabalhar na gráfica em horário integral. Então, aos poucos fiz os cursos, comecei a comprar os equipamentos para fazer uma sessão acontecer. Primeiro comprei o pufe, os tripés com barra e alguns tecidos. Eu nem tinha condições de comprar lente macro 100mm (para os detalhes de cílios, boca, pés e mãos), e me virei por um bom tempo com minha 18-55mm. Nem eu acredito que eu conseguia registrar momentos especiais e fazer um bom trabalho com o que eu tinha. Em alguns momentos eu quis desistir, achei que não era para mim. Fiz vários empréstimos no começo (risos) e, aos poucos, com algumas festas infantis e batizados, fui evoluindo com meus equipamentos, participando de workshops e congressos. Fui me desenvolvendo com o que eu tinha, até o momento em que comecei a ministrar alguns workshops. Claro que me ajudou muito financeiramente, mas, ao mesmo tempo que se ganha, você investe muito e nunca para. É um ciclo. Foi quando decidi montar um estúdio na gráfica. Assim, parei de fazer os ensaios nas casas de famílias. Era provisório, até eu ter meu próprio estúdio. Hoje, meu estúdio está localizado em São Caetano do Sul, em uma sala comercial. Mas já estou pensando em ampliar para um estúdio maior. Tem algumas clientes do Rio de Janeiro pedindo o meu estúdio lá também. Ainda digo que não é fácil, porque existe o lado do modismo também. O investimento nunca acaba. Para quem está começando, o primeiro passo é amar bebês, começar com equipamento suficiente e tentar não entrar em dívidas para não desanimar. Por isso, uma sessão dessas não é barata. Os investimentos são altos, então deve se dar prioridade a alguns acessórios, como toquinhas, lacinhos, roupinhas, pufe (essencial), lente macro, 50mm e uma grande-angular. Ter simplicidade, humildade e nunca se esquecer de como começou é essencial. E, se você tem um sonho, nunca desista. O primeiro a acreditar é você mesmo.

A segurança é um item indissociável desse tipo de trabalho: bebês tão novos são frágeis, têm pouca imunidade, recém-vieram à luz. Que precisa saber o fotógrafo newborn para garantir que nada possa ferir ou ameaçar a integridade dos bebês durante o ensaio? Pois é, esse assunto ainda é polêmico, mas para quem faz sem segurança. Há pessoas no mercado que não estão nem aí para os bebês, pensam apenas na fama, se julgam artistas e esquecem que ali na sua frente há um ser com alguns dias de vida e extremamente indefeso. Não é brincadeira de boneca. O fotógrafo precisa saber quais são seus limites e os do bebê. É colocar o bebê em primeiro lugar, junto com a segurança. É estar preparado para receber uma família que acabou de nascer junto com um bebê. Todos estão se conhecendo agora. É de extrema importância deixar seu ego de lado e ser extremamente profissional. Estar com o ambiente adequado para receber um bebê e sua família, deixar tudo em ordem, limpo, desde roupinhas, mantas e ambiente de trabalho. Ter alguém para lhe ajudar é um fator muito, muito importante. Caso não tenha, pode pedir ajuda para o pai ou a mãe. Não deixar o bebê sozinho ou solto nunca. Não começar nessa área por modismo, dinheiro, mas, sim, por gostar da profissão e amar principalmente os bebês. Investir em workshops presenciais é o primeiro passo para quem realmente quer aprender sobre segurança em ensaios newborn.

Você costuma consultar ou trabalhar em conjunto com um pediatra, ou sugere aos pais consultar um antes do ensaio? Acha esse procedimento necessário? Eu gosto de fazer [ensaios] com bebês de sete a nove dias. Sempre depois de eles tomarem a vacina BCG. Hoje não possuo parceria, mas é importante, caso o profissional tenha dúvidas, consultar um profissional da área de pediatria. Eu já fotografei filhos de médicos, pediatras e até mesmo alunos na área de pediatria neonatal.

Como deve estar equipado um estúdio de fotografia newborn? Aliás, o que você prefere: no seu estúdio ou na casa do cliente? Comecei indo até a residência do cliente. Hoje, prefiro meu estúdio, pois você já conhece sua luz, tem tudo ao alcance das mãos e é mais tranquilo. Você recebe os pais no seu território, com seu estilo, tudo pronto para começar a sessão. Até os aquecedores estão já ligados pra deixar o ambiente quentinho. Depois que os pais vão embora, eu posso voltar no dia seguinte e arrumar tudo. Enquanto que, na casa do cliente, você tem que carregar suas coisas, montar o cenário e depois desmontar, carregar e descarregar no estúdio, você fica extremamente cansado. E, com o fator trânsito em nossa cidade, é muito complicado. Nada como deixar tudo arrumadinho para receber a família. Na casa do cliente você acaba se limitando em levar o que quer, pois não cabe tudo no carro. E acaba ficando mais caro, devido à taxa de deslocamento para minha ida ao cliente. O básico para ter em um estúdio voltado para essa área é: pufe, mantas, acessórios de apoio para a cabeça dos bebês, algum cestinho, gamela, toquinhas, headbands, aquecedores, algum fundo fotográfico, seja de tecido ou imitação de madeira, álcool gel 70% (obrigatório), softbox médio e, quem quiser trabalhar com luz natural, o ideal é ter um janelão e verificar se a janela está virada para o Norte.

Qual o seu equipamento fotográfico? Que lentes você usa para fotografar os bebês? Luz de estúdio ou natural? Hoje tenho minha 7D Canon, lentes 50mm f/1.8, 17-55mm f/2.8, minha queridinha, e 100mm f/2.8. A 100mm para fazer fotos de detalhes, como boca, cílios, unhas das mãos, dedinhos das mãos e pés. A grande-angular 17-55 é minha preferida, amo essa lente, me dá mais liberdade de fotografar de mais perto (close-up), mais distante, mas sem estar longe do bebê. Eu tenho a 50mm e uso pouco, pois sinto que me distancio do bebê. Eu trabalho com luz natural, adoro a luz do sol, luz da vida. O que eu tenho de luz de estúdio está lá, mas desativada.

“Nas redes sociais é mais fácil perceber como é o comportamento da família”

Como você se relaciona com os pais, o que pede a eles em termos de informação para embasar seu ensaio e que orientações fornece durante o ensaio? Sendo seus filhinhos tão novos, imagino que haja certa apreensão da parte deles. Como deixá-los seguros de que o bebê estará em boas mãos? Eu costumo conversar com os pais perguntando se têm mais filhos, e que podem trazer para a sessão, porque já teve casos de os pais acharem que o filho mais velho iria atrapalhar a sessão. A dúvida da maioria é o que devem trazer para a sessão de roupas ou acessórios, mas eles já me contratam para realizar a sessão. Alguns eu tiro dúvidas por e-mail, telefone ou Whatsapp. Nas redes sociais é mais fácil perceber como é o comportamento da família. Uns são mais discretos e outros dividem suas vidas como se fossem diários. Tem famílias mais abertas outras mais tímidas. Noventa e cinco por cento dos meus ensaios são por indicação ou porque viram o filho de outra amiga sendo fotografado por mim e querem fazer também. Durante a sessão eles aprendem truques comigo e ficam muito felizes. Um exemplo é o ruído branco, que eles acabam fazendo o download na hora em seus smartphones. Outro exemplo é qual tecido devem comprar para enrolar o bebê. Eles percebem o meu estilo, o meu jeito com os bebês. Eu respeito o bebê 100%, faço pausas para mamadas, troca de fraldas, sem forçar nenhuma situação. Já houve casos de o bebê não se entregar em uma sessão por completo e eu remarcar depois de alguns dias uma “sessão complemento”. Então, não existe o fator desespero. Quem quer realizar esse tipo de sessão deve ter paciência, muita paciência e persistência, mas tudo dentro do bom senso. Antes de os bebês nascerem, a mãe já marca o dia da sessão comigo, é muito bacana.

Quanto em média dura uma sessão newborn e como ela se desenvolve? Você segue um roteiro? Quais são as fotos que não devem faltar no álbum do bebê? Uma sessão pode variar de três a quatro horas. Quando os pais chegam no estúdio, a primeira coisa que peço para a mãe é amamentar o bebê. Após isso, eu costumo começar com a pose no pufe, ninho ou gamela e, no final, a sessão que envolve os pais. Mas já houve situações em que comecei de trás pra frente. As fotos que não devem faltar são as de detalhes, como cílios, pés, mãos e boca, e principalmente dos pais e, quando têm irmãos, estas não podem faltar. Tudo é importante, mas, para mim, estas são essenciais.

Que outras coisas caracterizam o seu estilo? Como deve ser uma boa fotografia newborn, em sua opinião? O meu estilo de fotografia é simplicidade e acredito ter encontrado minha luz. Algumas pessoas que não são do ramo da fotografia até já dizem saber quando as fotos são minhas, é como se reconhecessem a minha assinatura. O que caracteriza o meu estilo é minha proximidade com o bebê, compor fotos com emoção, inclusive com mães se emocionando com o filho em seu colo. Quando isso acontece, eu digo que consegui chegar ao auge da sessão. Uma boa fotografia envolve principalmente registrar toda a emoção do momento e fazer quem está vendo a foto sentir essa emoção.

Ensaio de Bárbara Borges reforçou a fama de fotógrafa de “globais”

Você prefere poses mais simples ou gosta dessas composições mais elaboradas, que implicam montagens? Eu gosto de uma leitura mais simples, que não precisa ser explicada, onde a própria fotografia fala por si só. E também existem muito mais coisas que envolvem, inclusive por trás de uma foto, mesmo que seja simples. Os pais não me pedem nenhuma foto composta, porque entendem o meu estilo, e eu não pretendo mudar isso tão cedo. Prefiro uma mãe emocionada e eu registrar esse momento de emoção do que uma foto composta. Não troco isso por nada.

Você trabalha sozinha, usa assistentes durante a sessão ou conta com a ajuda dos pais? Eu costumo trabalhar sozinha e com uma assistente. Mas já precisei de apoio dos pais. O que eu prefiro é ter uma assistente comigo, e deixar os pais aproveitarem e se emocionarem com a sessão.

Você tem uma “garota-propaganda” e tanto: a atriz Nivea Stelmann. E fotografou outras mamães famosas. Como é que surgiu essa faceta “fotógrafa das estrelas”? E no quanto essa característica contribui no seu marketing pessoal? Falando nisso, de que maneira o fotógrafo newborn deve preparar seu portfolio, sua divulgação pessoal, para atrair a clientela? Por mais que seja a atriz Nivea Stelmann, linda e maravilhosa e um portfolio e tanto, nunca deixei subir essa fama para minha cabeça. Tenho orgulho de eu ter sido a escolhida para registrar sua gravidez e ensaio newborn de sua filha. Foi uma mistura de emoções, pois eu fiz o ensaio praticamente dois dias depois de minha palestra no Congresso de Fotografia Newborn. Até hoje as pessoas querem saber dela, como ela é, os profissionais da área me elogiam também, e alguns me nomeiam como a “fotógrafa global”. Foi muito importante para o meu marketing pessoal, pois o ensaio foi com exclusividade para uma das revistas de celebridades de circulação nacional, e uma das fotos foi para a capa, na edição de abril. Após 90 dias eu fiz o ensaio da atriz e ex-paquita Bárbara Borges e deu outra capa, em junho, e ser considerada fotógrafa amiga da família e encantadora de bebês por elas foi um fator muito importante para mim. Consegui demonstrar como uma sessão deve ser e qual sentido deve ter. Hoje ligamos uma para outra e trocamos mensagens por Whatsapp também. Em breve terei outra atriz para fazer, indicação da Nivea, mas eu só gosto de divulgar depois de ter registrado o momento. Essa característica contribui de forma muito positiva, pois, há fotógrafos que investem pesado em assessoria de imprensa e, no meu caso, tudo aconteceu naturalmente. Vários repórteres me acharam, mandaram e-mails solicitando fotos delas. A revista ficou enlouquecida com as fotos, pois fiz o meu trabalho com muito amor, consegui captar mais um momento especial da mãe e seu filho. Quanto ao portfolio, recomendo que façam umas três ou quatro sessões sem cobrar e não ter a sede de sair postando em redes sociais todas as fotos das sessões. Escolha as melhores sempre, ou a melhor, vale muito mais uma foto bem curtida do que várias pouco curtidas. Divulgue o que você realmente faz em uma sessão, senão uma mãe pode querer algo que você não consiga fazer e pode causar frustração. Não venda aquilo que não gosta ou não faz, venda o que mais ama fazer de um jeito que não precise refazer, que tenha sua personalidade. É importante ter um designer de confiança para desenvolver sua marca e seu site. Eu tenho a sorte de ter meu marido, Erick Rubiales, designer e webdesigner, que cuidou dessa área para mim, pois também é um investimento alto. Para atrair a clientela, é uma junção de tudo isso que citei antes. O resultado é de longo prazo, eu senti isso depois de um ano. Eu mesma faço o meu marketing nas redes sociais, no meu site e blogue. A melhor propaganda ainda é a indicação. O cliente se sente mais seguro em saber que o amigo também fez esse tipo de sessão com o mesmo profissional. Trabalhar com seriedade para mim é um fator-chave.

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