Carreira: caminhos para se tornar um profissional

Foto: Alex Mantesso

Se você está prestes a dar esse importante passo (tornar-se um profissional), talvez seja o momento de parar e se perguntar: já sei o suficiente para seguir carreira como fotógrafo? Parece estranho pensar nisso logo agora, mas talvez alguns colegas já estabelecidos tenham exatamente isto para recomendar: estude um pouco mais.

Muito já se falou sobre a popularização da fotografia promovida pela tecnologia digital. Também é sabido que a cada ano aumenta o número de pessoas ingressando no mercado de imagem. E o ciclo de formação desses novos profissionais tem se reduzido drasticamente: basta um par de anos e muitos se veem aptos a viver da fotografia.

Foto: Alex Mantesso
Alex Mantesso: “Nada define alguém objetivamente como profissional ou não” (foto: autorretrato)

Porém, o que define um fotógrafo profissional? E como saber quando se está pronto para assumir essa condição? “A questão da profissionalização é bastante polêmica mesmo em outros ramos, não só na fotografia”, observa Alex Mantesso, 38, fotógrafo paulistano que atua nas áreas social, de família e institucional. “O fato é que nada define alguém objetivamente como profissional ou não. Em linhas gerais, se a pessoa é remunerada pelo serviço de fotografia, ela está exercendo uma atividade profissional. A questão a ser discutida é a qualidade do trabalho. Aí teremos bons profissionais, que se empenham, buscam aprendizado, evolução etc., e profissionais sem boas qualificações, novamente como ocorre em todas as outras profissões”, conclui.

Para Alex, um ponto é fundamental: ter consciência de que o caminho exige empenho, dedicação e estudo. “O aprimoramento fotográfico se dá pelo estudo e busca de boas referências. Fazer cursos de formação e técnica ajuda bastante. Porém, além deles é importantíssimo estar atento aos movimentos fotográficos, consultar a obra de outros fotógrafos renomados na área em que deseja atuar. E treinar, treinar muito e apresentar os resultados a profissionais que possam orientar a pessoa a melhorar a qualidade de suas fotos”, recomenda.

Armando Vernaglia Jr. concorda: “Por mais óbvio que pareça, devo dizer que o primeiro passo é estudar fotografia, e digo isso pois muitos ainda não levam esse aspecto a sério. E por estudar quero dizer estudar mesmo, a fundo, não basta ler um livro ou dois, fazer um curso ou dois, isso é pouco”, ressalta o também paulistano, especializado em produtos e arquitetura e com mais de quinze anos de experiência, além de professor. Ele faz um paralelo com o jornalismo, cujo aprendizado exige de saída uns quatro anos de faculdade, estudo de diferentes disciplinas, tudo isso apenas para ser um iniciante na profissão. “Então, o primeiro passo é estudar muito, e não ter pressa para entrar no mercado, pois o mercado cobrará caro por uma formação incompleta. O profissional com pouca capacidade técnica, com pouca versatilidade artística, fatalmente irá disputar as camadas mais baixas e menos rentáveis do mercado”, avisa Vernaglia.

O passo seguinte em sua cartilha é a criação de um portfolio e de uma rede de contatos profissionais: “É durante esse período que iremos conhecer profissionais como maquiadores, produtores, outros fotógrafos e muitos outros que irão compor uma rede fundamental para o exercício da profissão”, diz.

É momento também de se preocupar com a regularização da sua condição de prestador de serviços. A maneira mais fácil e barata de fazer isso é se inscrever como empreendedor individual. A inscrição pode ser feita na internet e o candidato obtém um CNPJ e pode abrir conta empresarial e emitir notas fiscais, tudo isso a um custo bastante baixo. “Além disso, uma consulta a um bom advogado para ajudá-lo na formulação de seus contratos é fundamental”, acrescenta Vernaglia.

Foto: Armando Vernaglia Jr.
Vernaglia faz fotos de arquitetura e produtos

Tendo preenchido os requisitos acima – e supondo-se que você esteja com seu material de trabalho em dia –, é hora de ir à luta, pôr o nome na rua e garimpar clientes. A experiência mostra que o boca a boca ainda é uma poderosa ferramenta de marketing, mas atualmente os sites e as mídias sociais aparecem como um recurso importante de comunicação. Porém, é preciso saber usá-los.

Foto: Armando Vernaglia Jr.
Armando Vernaglia: marketing precisa começar em casa (foto: autorretrato)

“Costumo dizer que de nada adianta o novo fotógrafo pensar em amplitude de comunicação sem antes pensar na pequena comunicação. Pode parecer outra obviedade, mas a maioria tenta se divulgar na internet quando nem sua família nem seus amigos sabem realmente que ele é fotógrafo”, revela Vernaglia, que sugere começar por aí seu esforço de divulgação, pois familiares e amigos serão provavelmente seus primeiros clientes. “Fora isso, um bom site na internet, otimizado para mecanismos de busca (SEO), é fundamental, e não custa caro. Quem tem dinheiro para ter uma câmera, lente e flash certamente tem 100 ou 120 reais por mês para gastar com seu próprio site. Se não tiver, há algo de muito errado no planejamento financeiro dessa pessoa, e com isso há outras coisas para corrigir antes de pensar em marketing”, alerta.

Alex Mantesso sugere alguns procedimentos:

– ter um site de fácil navegação e visualização, que não use linguagem em Flash, já que ela não é acessível em alguns dispositivos;

– criar a estrutura do site pensando nos mecanismos de busca e como torná-lo mais acessível;

– participar das redes sociais de forma assertiva e profissional, tomando especial cuidado com opiniões pessoais.

“Porém, a divulgação virtual não pode excluir o trabalho off-line. O atendimento a clientes, o trabalho de manutenção de clientes antigos e a criação de parcerias no mundo real são grandes forças motrizes de negócios e não podem ser deixadas de lado pelo encantamento e facilidade que a internet supostamente apresenta. O fato é que as coisas devem ser complementares. Ao conversar com qualquer profissional é fácil identificar que a maioria dos novos clientes surge não pelas formas virtuais, mas sim pela indicação de clientes reais”, analisa Alex, que mencionou a participação “assertiva e profissional” nas redes sociais. De fato, o uso do Facebook e outros sites do gênero requer atenção à forma como o profissional se apresenta na comunidade virtual, pois um “mau-comportamento” trará mais prejuízo do que benefício.

Foto: Alex Mantesso
Alex Mantesso atua no segmento social, de família e institucional

“As mídias sociais são ótimas para cultivar a imagem do profissional, e veja que eu disse imagem do PROFISSIONAL. Isso significa que, se o fotógrafo resolve usar redes sociais como marketing, é melhor ele esquecer o uso pessoal dessas redes, esquecer qual time de futebol torce, qual religião segue, e o bate papo com os amigos enchendo a timeline de seus perfis na rede, pois isso é tudo que não interessa para possíveis clientes”, adverte Armando Vernaglia. “Cliente de fotógrafo quer ver imagens, quer ver que o profissional se interessa por cultura, por pesquisa na área de imagem, que evolui e estuda sempre, postando conteúdo relevante em termos de imagem. O perfil em rede social deve ser visto como uma ferramenta profissional. É extensão do portfolio, da ética e da forma de agir do profissional. Se ele der más demonstrações de comportamento na rede, ele está dizendo a seus potenciais clientes algo muito ruim sobre sua forma de trabalhar”, completa.

“O importante nesse meio é fazer um trabalho constante e ter muito claro o objetivo de estar na mídia social. Uma vez com o objetivo definido, buscar conhecimento e aplicar-se para alcançar esse objetivo”, reforça Alex. “Porém, independente de objetivo, uma regra é muito importante: seja cauteloso, profissional e imparcial. Na rede social é importante evitar polêmicas, discussões etc. Se a utiliza para divulgação, é importante estar lá para isso, não para defender posições ou ideologias”. Ou seja, uma vez profissional, é preciso agir como tal sempre. Estabelecer um nome é difícil; estragá-lo já é bem mais fácil.

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