No museu das coisas que a tecnologia digital tornou dispensáveis, alguns itens estão lá porque realmente ninguém precisa mais. Somente saudosos irrecuperáveis se importam com elas. Mas há objetos que estão saindo de moda quando ainda têm muito a oferecer à boa prática fotográfica. Quer um exemplo? O fotômetro de mão.
Companheiro dos profissionais de estúdio, o fotômetro de mão (ou flash meter) caiu em desuso porque as câmeras já vêm com um fotômetro embutido, que se vira relativamente bem na maioria das situações. Por que então comprar outro, por um preço que não é exatamente em conta (uns R$ 800 para cima)?
O fotômetro é o dispositivo que “lê” as condições de iluminação da cena. Na câmera, ele faz isso analisando os dados oferecidos pela luz refletida pelo objeto. A escala que aparece no visor indica se há luz de mais ou de menos e cabe ao fotógrafo ajustar os controles para obter o ponto zero da escala, correspondente a uma exposição correta.
Tudo muito simples e prático. O problema é que os fotômetros embutidos podem cometer erros, pois medem diferentes níveis de luminosidade segundo um valor de referência de cinza médio. Ao aportarmos a câmera para um vestido de noiva, por exemplo, o fotômetro “verá” muita luz na cena, e sua leitura resultará numa foto escura. Ocorre o contrário se o modelo for o noivo com seu terno preto.
O fotômetro de mão, por sua vez, não cai nessa. A razão é que o dispositivo mede a luz que incide na cena. O fotógrafo posiciona o flash meter onde estão os noivos, com a bolinha branca (o domo difusor) apontada para a câmera, e o aparelho fará a leitura da luz que incide sobre o casal, indicando os ajustes necessários para se obter a exposição correta. Precisão absoluta.
Assim, o flash meter é útil tanto fora quanto dentro do estúdio, onde serve inclusive para medir a proporção de iluminação de cada fonte utilizada no set. Útil é pouco: para muitos fotógrafos, ele é indispensável.
Luiz Garrido, conhecido retratista carioca, na estrada desde 1968, quando foi correspondente da Manchete em Paris, entra de sola na questão: “Quem não tem fotômetro não é fotógrafo”. Garrido já teve diante de sua lente John Lennon, Alfred Hitchcock e mais um caminhão de personalidades, daqui e de fora, e considera o fotômetro de mão o pincel do fotógrafo: “Ele dita o seu estilo, a sua assinatura”. Para ele, essa coisa de ficar vendo a foto “pela bundinha da máquina” nivela os fotógrafos. “O display é que dita a sua luz e sua densidade, isso iguala a todos”, decreta.
“Fotômetro dita o seu estilo, a sua assinatura” (Luiz Garrido)
“O fotômetro [de mão] é essencial para afinar as luzes, conseguir os equilíbrios nas altas, médias e baixas luzes e distâncias, dependendo do que for fazer, em estúdio e até em externas, quando se tem que atingir muito foco, ele é vital”, reforça Marcelo Donatelli, fotógrafo paulistano de publicidade com quase 35 anos de fotografia nas costas. Ele acredita, entretanto, que, com o tempo, o profissional pega o jeito e acaba relaxando no uso. “Tem trabalhos que eu nem levo”, reconhece. Mas defende que os novatos comecem dominando o assunto: “Deveriam aprender primeiro com o fotômetro de ponteiros, depois o fotômetro digital, depois o cartão cinza”, recomenda.
Outra razão para o flash meter ter perdido popularidade se deve ao histograma das câmeras digitais, representação gráfica dos valores de luz e sombra da imagem capturada. Muita gente se baseia nisso para ajustar a exposição. Donatelli concorda que o histograma resolve em muitos casos, porém sua leitura também é imprecisa. “Por mais que a câmera seja ultra, você não vai saber quanto deu nos pontos específicos de luz e sempre terá sub ou superexposição”, sustenta.
Porém, não é todo profissional experiente que defende o uso compulsório do flash meter. Curiosamente, o sócio de Luiz Garrido no estúdio carioca Tibet Filme, o paraense Levindo Carneiro, fotógrafo de publicidade e “photoshopper” das antigas, considera o aparelho desnecessário. “A medição de cada foto é uma opinião”, avalia. Levindo costuma fazer uma primeira medição com o fotômetro da câmera, depois avalia o histograma e, por fim, aplica o recurso HDR, aproveitando o sistema de bracketing de sua câmera – que faz três exposições diferentes da mesma cena.
“A medição de cada foto é uma opinião” (Levindo Carneiro)
Opiniões à parte, o fotômetro de mão é um acréscimo importante ao arsenal de quem busca exercer maior controle sobre a luz – o que é, essencialmente, o papel do fotógrafo. Claro que, diferentes situações pedem soluções diversas, e há momentos em que o fotômetro embutido produz melhores resultados (como quando o motivo está distante). Mas, se você não quiser conferir na tela LCD a cada clique ou incorrer na tentativa e erro, o bom e velho flash meter pode ser a solução.
“Flash meter é essencial”
“Se alguém diz que não precisa mais usar o flash meter, esse deve ser o amigo do ‘Zorro’”, brinca Newton Medeiros, para quem o uso do fotômetro de mão é essencial. “O fotógrafo tem que fotometrar na máquina para fazer uma foto com a exposição correta, certo? Então, dentro do estúdio mais ainda, pois não temos referência”, afirma o fotógrafo paulistano de publicidade e moda.
Segundo ele, é bastante simples manusear o acessório dentro do estúdio: “Para medir o disparo de flash, basta regular o ISO usado em estúdio (por exemplo, 200), ajustar a velocidade em 125 – relativamente um bom sincronismo de estúdio –, apontar o fotômetro na direção da objetiva e assim você terá o diafragma (f). A bolinha branca em cima do fotômetro é de padrão cinza. Sendo assim, a fotometria de luz incidente será perfeita”, explica.
Newton também informa que a maior parte dos fotômetros de mão disponíveis no mercado apresenta uma medição fracionada, no que é preciso aplicar a seguinte regra: “Quando o flash meter nos apresenta uma medição como 8.3, avançamos 1/3 (no caso, fica 9). Se a medição for entre 8.4 e 8.6, avançamos 2/3, no caso 10, e acima de 8.7 avançamos 3/3, sendo um f/stop inteiro (11)”.