Peu Robles: da economia aos retratos

Foto: Peu Robles/joaoemariadoc

Podem parecer especialidades bem distintas, a princípio, mas a economia e a fotografia fizeram todo o sentido para Peu Robles, um paulistano de 27 anos de idade que buscou especialização em retratos em Milão, nutre especial interesse pela delicada política do Oriente Médio e atua na imprensa, fotografando para Valor Econômico e Folha de S. Paulo – além de ter uma produtora de vídeos.

“Gostava muito de passar dias e noites fotografando em regiões humildes da periferia de grandes cidades brasileiras e, na semana seguinte, estar discutindo sobre o cenário econômico com um diretor da Petrobras ou outra grande empresa. Esse trânsito é fascinante”, afirma o fotógrafo economista, que falou ao Photo Channel sobre a sua trajetória, fotografia autoral e a “Primavera Árabe”. Acompanhe:

Você conta em seu site que é formado em economia e que começou a fotografar aos quinze anos. Como ocorreu o seu contato com a fotografia e como você conciliou essas duas áreas?

Sim, sempre gostei de desenhar e pintar. Estudei em um colégio que proporcionava a prática de artes diariamente. Aos quinze comprei minha primeira Rollei, com a qual comecei meus trabalhos. Desde cedo me interessava por história e relações sociais. E foi na economia que encontrei as ferramentas ideais para conciliar meus interesses. Hoje, boa parte do meu trabalho autoral é na rua, e sinto que há muito dos meus questionamentos sociais nas imagens.

E quando foi que você decidiu se profissionalizar como fotógrafo? Como foi essa escolha?

Decidi me profissionalizar como fotógrafo aos 20 anos. Mas, dos 20 aos 27, tiveram períodos que trabalhei em grandes corporações, como economista. Tanto para juntar verba para realizar meus projetos (por exemplo, a produtora que tenho hoje), como por puro interesse em ter trânsito livre pelos diferentes mundos. Por exemplo, gostava muito de passar dias e noites fotografando em regiões humildes da periferia de grandes cidades brasileiras e, na semana seguinte, estar discutindo sobre o cenário econômico com um diretor da Petrobras ou outra grande empresa. Esse trânsito é fascinante.

Foto: Peu Robles/joaoemariadoc

Foto: Peu Robles/joaoemariadoc

Foto: Peu Robles/joaoemariadoc

Como foi a sua experiência em Milão e quando ocorreu? Qual área da fotografia você explorou lá?

Foi magnífica. Morei uns seis meses lá, onde estudei bastante sobre luz. Explorei bastante os retratos. Lembro de trabalhar numa empresa de relógios para me manter. Ocorreu em 2006. Depois, fiquei uns dois meses perambulando pela Europa. Muito museu e desenhos em praças.

E como foi a sua experiência cobrindo o Oriente Médio?

O meu estudo sobre o Oriente Médio é antigo. Já li diversos livros. Um dos pontos que mais me chama atenção no caso de Israel, por exemplo, é que, para o Estado ter “paz”, ele precisa estar numa guerra constante. Cruzar o “Muro da Vergonha”, que separa Israel e Cisjordânia, é muito forte. No Egito, fui cobrir as primeiras eleições presidenciais. Foi chocante me deparar com o país tão abandonado. E achei triste ver uma suposta liberdade escorrer pelas mãos dos egípcios, quando a Irmandade Muçulmana saiu vitoriosa. Mas ver o brilho nos olhos das pessoas durante a comemoração na praça Tahrir foi incrível.

 Achei triste ver uma suposta liberdade escorrer pelas mãos dos egípcios (…). Mas ver o brilho nos olhos das pessoas durante a comemoração na praça Tahrir foi incrível”

Paula Sacchetta/joaoemariadoc
Peu Robles seguiu como economista para ter “trânsito livre pelos diferentes mundos” (paula Sacchetta/joaoemariadoc)

Que projetos você tem desenvolvido ultimamente? Continua fotografando para o Valor e Folha? Em quais editorias atua?

Fotografo para a Folha e para o Valor quase diariamente. Editorias diversas. Mas estou envolvido num grande documentário da minha produtora, mas, como se trata de um assunto do governo, ainda não podemos falar muito.

Pode contar um pouco sobre como você vê a sua fotografia, que influências a marcaram e como você procura conduzir o seu olhar?

Percebo que meu olhar tem uma linguagem, mas ao mesmo tempo sofre metamorfose contínua. Gosto muito de ensaios, onde posso brincar com a luz, principalmente. Meus mestres são o João Bittar, o qual me deu as ferramentas para conduzir o tratamento dos personagens nas ruas. Atitude. Firmeza. Não temer o medo. Desapego. Outro mestre foi o Carlos Moreira, que me ajudou muito a aprimorar o olhar, me deu as ferramentas para sempre treinar o olhar e como melhor aproveitar as cenas.

 

 

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