A história do fotojornalista torturado pela milícia

Em 2008 o fotojornalista Nilton Claudino foi torturado durante sete horas e meia. Contratado pelo jornal O Dia recebeu a missão de cobrir a atuação da milícia em uma favela do Rio de Janeiro. Seu currículo já contava com algumas reportagens marcantes, atuou no Jornal do Brasil e TV Globo ao lado de Tim Lopes (1950-2002) e arrecadou prêmios durante a carreira.

Claudino começou na fotografia jornalística do zero, era mensageiro da editora Abril e ao longo dos anos a confiança na empresa e os cargos foram crescendo. Até que a pauta que mudaria sua vida apareceu. Foram duas semanas vivendo disfarçado e registrando a ação de policiais em um grupo criminoso que extorquia a comunidade do morro do Batan, no Realengo, Rio de Janeiro. O primeiro problema identificado: a pauta foi sugerida por um motorista do jornal que cresceu no morro e onde os pais e avós ainda moravam.

Foto: Bruno Santos / Folhapress

Uma jornalista que trabalhava na matéria também mudou-se para o morro, arrumou um emprego de cozinheira e passou a frequentar a igreja local. Claudino ia ao bar e dizia ser do Mato Grosso do Sul, estava esperando a ligação de um possível trabalho. Ganharam móveis dos vizinhos, compraram alguma coisa e toda a semana frequentavam uma Lan House fora do morro de onde enviavam relatos ao jornal.

A data de término da pauta era no dia 15 de maio de 2008, quando um político subiu o morro para fazer campanha e o jornal quis aproveitar a situação para ver se a compra de votos estava acontecendo. Claudino fotografou no último dia de dentro do carro e sem flash o churrasco do tal político com policiais fardados. Em seguida Claudino foi para casa e se arrumou para assistir o jogo do Botafogo numa lanchonete, quando o pesadelo começou.

Em entrevista à Folha de São Paulo ele conta os momentos de tortura. Apanharam durante sete horas e meia, eram sufocados com um saco preto na cabeça que ia de Claudino para a repórter, barulhos de coturnos e camburão aterrorizavam ainda mais a situação. Os torturados pegaram as senhas dos e-mails e descobriram que as matérias com todos os dados já haviam sido enviadas, foi quando a situação piorou e eles passaram e levar choques elétricos. Ao repórter Thiago Amâncio ele conta que viu pneus serem queimados pelo Comando Vermelho “Eles falavam que iam matar a gente lá e colocar a culpa no tráfico.”

Depois que descobriram as fotos na câmera Claudino apanhou ainda mais. Foram soltos em uma praça pública e receberam inúmeras ameaças. O pai do motorista os levou a estação da Leopoldina, durante o trajeto a repórter dizia que era culpa de um dos jornalistas da redação. Os torturados a chamavam pelo apelido e descreveram as mesas de trabalho. Cada um fugiu para uma cidade e país diferente.

O acordo trabalhista no valor de R$ 1,315 milhões pagos em 124 parcelas está com 53 delas atrasadas. O fotojornalista não pode mais trabalhar e o jornal com dificuldades financeiras entrou com uma recuperação judicial. Dos culpados pela tortura dois homens foram presos e receberam uma sentença de 31 anos de prisão. Mas um deles está em liberdade condicional. A história de Claudino é retratada no filme Tropa de Elite 2, mas com um final trágico aos jornalistas.

Fonte: Folha de São Paulo

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