A decisão da presidência interina de Michel Temer (PMDB) de extinguir o Ministério da Cultura (MinC), incorporado desde a última quarta-feira (11) ao Ministério da Educação, tem gerado protestos da classe artística nacional. Setores ligados à fotografia e à produção cultural de artes visuais também têm se mobilizado e demonstrado o seu descontentamento.
No último sábado (14), durante o encerramento da nona edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre (FestFotoPOA) foi lançada a “Carta de Porto Alegre”, um documento em repúdio à extinção do ministério. Os signatários do manifesto são os representantes da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (RPCFB), do próprio FestFoto, do Festival de Fotografia de Tiradentes (Foto em Pauta), do Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro (FotoRio) e do Encontro Internacional da Imagem (Valogo).
A organização deixou aberta ainda a possibilidade de qualquer interessado assinar a carta, através do e-mail [email protected]. Na fanpage do evento tem sido atualizado o número de adesões ao documento (já são 122. Abaixo, o texto na íntegra).
CARTA DE PORTO ALEGRE
14 de maio de 2016 Nós, fotógrafas e fotógrafos, produtores e produtoras culturais da fotografia, artistas, educadores e educadoras visuais, reunidos durante o 9º FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, repudiamos firmemente a extição do Ministério da Cultura e sua anexação ao Ministério da Educação, determinado por decreto pelo governo interino, em sua primeira ação no comando da administração pública federal após o afastamento da presidente eleita Dilma Roussef pelo Senado Federal. Este ato do governo interino demonstra total falta de entendimento sobre a função da atividade cultural na construção de uma cidadania livre e apta a participar em pé de igualdade e dignidade da sociedade globalizada. Também demonstra incapacidade em perceber os efeitos negativos da desmobilização e retirada de investimentos públicos em uma atividade tão sensível e ainda carente de estrutura. O Brasil tem demonstrado grande potencialiade no consumo e produção de bens culturais, fornecendo uma resposta contundente às apostas feitas nos últimos anos na descentralização dos equipamentos culturais. A Cultura é a arena de expressão da diversidade identitária de um povo. Um Ministério da Cultura de um regime democrático representa o reconhecimento, pelo Estado, da importância e do papel fundamental desta diversidade, que abarca o conjunto da nação no processo de construção de uma cidadania plena dentro dos ideais republicanos e democráticos. O povo brasileiro precisa e quer alternativas capazes de atrair jovens e adolescentes em uma via criativa capaz de superar um cotidiano de violência e falta de esperança. Tratar a cultura como algo dispensável ou supérfluo é entregar um grande contingente da população ao desencanto e à miséria intelectual. O Brasil atingiu níveis de excelência no trato dos seus aparelhos culturais que colocaram o país na rota internacional de grandes exposições e projetos culturais, recolocando o país no seu devido lugar de importância na cena cultural mundial. O cinema e a música, que durante décadas foram nossa vitrine cultural, passaram a ter como parceiros as artes visuais, a literatura e a cultura popular. A fotografia brasileira especificamente atinge um patamar inédito de visibilidade e reconhecimento internacional de sua força, qualidade e contemporaneidade. Toda essa rede internacional, construída a partir de décadas de experiência se vê agora constrangida em seu próprio país pela manifestação de desprezo de um governo interino. Diante desses acontecimentos, repudiamos a extinção do Ministério da Cultura e subscrevemos pela sua volta por entender que a fruição e a oportunidade de produção estética são um direito inalienável do ser humano contemporâneo e devem ser viabilizadas coletivamente por uma sociedade que se pretende soberana, livre e construtora da paz. Assinam, |
Diante das pressões da comunidade artística, o presidente interino já cogita (mais um) passo atrás. Segundo noticiou hoje o Jornal do Brasil, Temer deve anunciar a permanência do MinC. A decisão seria em razão de um pedido do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que argumentou que a extinção da pasta não trará alívio financeiro significativo aos cofres públicos – ao passo que tem causado muita dor de cabeça.