Ter independência financeira, ser dono do próprio nariz, realizar algo estimulante, fugir da rotina tediosa do escritório, quem não deseja coisas assim? Dar um “bico” no patrão e começar o próprio negócio… Por que não ser fotógrafo? Afinal, levo jeito com a câmera, o pessoal sempre elogia o que publico no Face, tem um monte de gente que posso fotografar…
Neste exato momento, alguém deve estar justamente tomando essa decisão. Só que ser fotógrafo profissional é sinônimo de muita coisa – menos de moleza. “O único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário”, cita Jaiel Prado, com a autoridade de executivo de multinacional que fez a travessia segura para um negócio na área. Mas, onde ele teve sucesso, muitos fracassam.
“O primeiro passo é se conscientizar de que ser fotógrafo significa ser empresário. Simples assim. Muitos não sabem disso e só descobrem depois que se deram mal”, diz o paulista, que divide com a esposa Simone Silvério o Studio Trend, em Barueri (SP), e oferece cursos sobre empreendedorismo para fotógrafos. Segundo afirma, o rol de competências de quem quer vencer no ramo vai muito além do domínio da câmera: “É fundamental conhecer minimamente finanças, marketing, vendas e operações (sistemas, fluxo de trabalho, rotinas, backups etc.), isso para não falar de análise de riscos e contratos. Um bom curso sobre empreendedorismo ajuda muito”, recomenda.
Mesmo fotógrafos “de raiz” têm dificuldades em conciliar a personalidade artística que a profissão sugere com o pragmatismo das tarefas administrativas. Para Jaiel, é fundamental saber quando e como usar cada “chapéu”: “Gosto muito de um gráfico da International Society of Professional Wedding Photographers que mostra a percepção das pessoas em relação aos fotógrafos e a dura realidade da profissão. Em suma, você fotografa só 12% do seu tempo, gasta outros 28% tratando e o resto todo com a administração do negócio! Não dá para ignorar esse aspecto. No início da carreira o fotógrafo faz absolutamente tudo, depois vai – e precisa – delegando à medida que progride na profissão até que, um dia, e muito poucos chegam a este dia, podem se concentrar em quase só fotografar, pois têm toda uma estrutura de apoio”.
Jaiel cursou engenharia, MBA e coaching e fez carreira no mundo corporativo antes de, aos 40 anos de idade, mudar de ares: “Conhecia bem as pedras do caminho e apliquei tudo que tinha aprendido na construção do negócio e até agora vem dando certo. Planejo, crio metas e executo com o mesmo rigor e disciplina da época de executivo. Mas é importante mencionar que isso não seria suficiente. Estudei fotografia como um desesperado, pratiquei, viajei, fiz cursos e workshops, mergulhei de cabeça. Fazer isso depois dos 40, começar de novo mas com uma boa bagagem nas costas, é um prazer incrível!”
O momento econômico atual não é muito favorável (Jaiel evita falar em crise: “Quem viveu os anos 1980 sabe o que é isso”), o que torna as aventuras empresariais ainda mais arriscadas: “Honestamente, não acho que a situação do Brasil vá melhorar a curto ou médio prazo, mas a vida continua e sempre há espaço para quem se diferencia. É claro que a situação requer do empresário prudência, cuidado com dívidas e investimentos que demorem muito a dar resultados”.
Na fotografia, quando o calo a aperta, a reação mais comum é haver um movimento migratório para os segmentos mais aquecidos – no momento, o “Sul” tem sido a fotografia newborn. O consultor desaconselha: “Oportunidades são janelas que se fecham muito rápido e você só consegue aproveitá-las se estiver preparado. Improvisação, regra geral, não funciona. Fotografia de recém-nascidos, por exemplo, é um setor que ainda tem muito potencial de crescimento, mas já tem suas grandes referências estabelecidas”, avalia. “A melhor maneira de passar pelos maus bocados é manter-se fiel ao que você sabe fazer melhor, investir tempo e esforço para melhorar ainda mais seus pontos fortes e ter muita disciplina com seus custos. O mercado sempre premia quem é bom e sabe se posicionar”, completa.
Aqui é trabalho, meu filho!
Muitos dos clientes de Jaiel Prado em seus workshops correspondem ao perfil descrito no início da matéria: “É gente que está cansada da profissão que exerce e quer mudar de vida, fazer algo que gosta, buscar realização pessoal e uma vida mais equilibrada”. A mensagem que levam para casa é a de que a mudança é possível, mas exige muita dedicação: “Leva tempo até engrenar. Eu conto que agora trabalho como um condenado, tanto ou mais que antes, doze, quinze horas por dia, sábado é dia útil e, às vezes, o domingo também, mesmo assim não troco minha vida de fotógrafo por nada!” Veja abaixo algumas dicas do especialista para começar bem o seu negócio:- Primeiro faça uma análise sincera de suas características pessoais, depois procure saber quais são as características de cada grande setor da fotografia (ensaios, eventos, produtos, arte, fotojornalismo etc.) e veja se essas características estão em linha com seu jeito de ser.
- Estude muito fotografia, procure fazer um curso de empreendedorismo ou, no mínimo, leia sobre isso. Invista o mínimo necessário tanto em equipamento quanto em estrutura e vá adquirindo o resto conforme a necessidade e o retorno aparecerem (objetivas são mais importantes que a máquina em si).
- Treine muito, faça de graça até formar um portfolio aceitável (não acho ético vender algo que você ainda não sabe fazer satisfatoriamente), nunca use imagem de outros.
- Tenha em mente que custo variável é melhor do que custo fixo (no início especialmente). Use bem as redes sociais e tenha em mente que cada pessoa com quem você conversa é um cliente em potencial.