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Fotógrafo foi condenado a prisão depois que concurso de fotografia revelou seu verdadeiro nome

Um fotojornalista foi condenado a dois anos e meio de prisão e teve que fugir de seu país depois que seu verdadeiro nome foi divulgado pelo famoso concurso de fotografia Sony World Photography Awards. Uygar Önder Şimşek entrou na competição em 2018 usando um pseudônimo para proteger sua identidade. Mas uma falha do concurso colocou em risco a vida do fotógrafo.

Quando foi notificado pelo concurso que estava entre os finalistas da competição, o fotógrafo ainda enviou um e-mail aos organizadores para se certificar que sua identidade permaneceria secreta e que as imagens seriam publicadas apenas com seu nome falso. Mas, infelizmente, por um erro lamentável, o concurso divulgou o resultado com seu nome real. E por isso, o fotógrafo foi condenado a prisão por terrorismo e teve que fugir da Turquia por medo de ser morto.

Fotógrafo foi condenado a prisão depois que concurso de fotografia  Sony World Photography Awards revelou seu verdadeiro nome

Mas por que o fotógrafo resolveu usar um nome falso no concurso de fotografia?

Muitos fotojornalistas que trabalham em países controlados por grupos políticos radicais ou com situação política instável, como a Turquia e Síria, por exemplo, acabam usando nomes falsos na divulgação de suas fotos para preservar sua segurança. Afinal, regimes nada democráticos não gostam de suas ações violentes e desumanas sejam divulgadas mundo afora por fotos e vídeos. Então, jornalistas e fotógrafos acabam se tornando alvos e ameaças para esses grupos.

Neste caso específico, Şimşek inscreveu no Sony World Photography Awards uma série de fotos mostrando a Unidade de Proteção Popular, conhecido pela sigla YPG e considerado um grupo terrorista, chegando e assumindo o controle de Ancara, capital da Turquia.

Fotógrafo foi condenado a prisão depois que concurso de fotografia  Sony World Photography Awards revelou seu verdadeiro nome
Fotógrafo foi condenado a prisão depois que concurso de fotografia  Sony World Photography Awards revelou seu verdadeiro nome

“No final de 2016, houve uma tentativa de golpe militar na Turquia. Portanto, a atmosfera de trabalho mudou para os jornalistas e fotógrafos. Dia após dia, alguns colegas iam sendo presos e todos nós ficávamos preocupados conosco mesmos. Alguns amigos pararam de trabalhar em algumas questões, alguns até abandonaram o jornalismo, já que o número de jornalistas presos chegou a cerca de 150″, contou Şimşek ao site Petapixel. Apesar do alto risco, Şimşek continuou trabalhando na Turquia e outros países e adotou um nome falso para sua segurança pessoal.

Em 2018, o fotógrafo se inscreveu no Sony World Photography Awards usando o nome falso e pediu a organização do concurso para manter seu anonimato em caso de divulgação das fotos. Seu nome real foi colocado apenas nas informações de contato para eventuais mensagens por email. Quando Şimşek foi escolhido entre os finalistas do concurso, novamente enviou um email para se certificar que seu verdadeiro nome não seria divulgado. Segundo ele, o concurso confirmou que sua identidade seria preservada, mas quando as fotos foram divulgadas seu nome verdadeiro foi revelado.

De acordo com a organização do Sony World Photography Awards, Şimşek entrou no concurso de fotografia usando seu nome real e só depois de ser informado de que havia sido selecionado entre os finalistas é que ele pediu que as imagens fossem atribuídas a um nome falso. “Atendemos a sua solicitação e tentamos substituir os processos automatizados de nosso sistema manualmente. Apesar de trabalhar manualmente com isso, seu nome original acabou sendo divulgado”, tentou justificar a organização.

Fotógrafo foi condenado a prisão depois que concurso de fotografia  Sony World Photography Awards revelou seu verdadeiro nome

Contudo, o fotógrafo diz que durante quase um mês manteve contato regular com a equipe do Prêmio e os lembrava constantemente de que não poderiam publicar as fotos em seu nome verdadeiro por causa dos danos que isso causaria a ele pessoalmente. E como provam e-mails checados pela Petapixel, Şimşek foi avisado pela organização do concurso para não se preocupar e que, contanto que ele preenchesse uma papelada específica, estaria tudo bem e o concurso não publicaria seu nome verdadeiro.

Assim que a imprensa começou a divulgar o resultado do concurso com o nome verdadeiro do fotógrafo, Şimşek imediatamente começou a ser acusado de “propaganda terrorista” por várias organizações turcas. Em junho de 2018, ele foi julgado na Turquia e considerado culpado de terrorismo e condenado a dois anos e meio de prisão. 

Após a condenação, Şimşek entrou com uma apelação na justiça e ficou em liberdade por tempo suficiente para conseguir escapar e fugir para um exílio na Alemanha, onde vive desde então. E o medo da prisão se justificava. Desde a tentativa de golpe na Turquia, muitos fotógrafos e jornalistas foram presos e nunca mais foram vistos ou ouvidos novamente.

Atualmente, a diretoria do Sony World Photography Awards é composta por pessoas diferentes do que em 2018, mas declararam que assim souberam do erro de divulgar o nome real do fotógrafo na época, imediatamente, começaram a trabalhar para corrigir o problema. 

Porém, a tentativa de reparar o erro nada adiantou. Afinal, o nome real do fotógrafo já estava divulgado em todo o mundo. E assim, Şimşek foi colocado numa situação extremamente perigosa e sua única alternativa foi fugir do seu país para preservar sua vida. Até hoje, o fotógrafo nunca recebeu um pedido de desculpas do concurso.

E aqui vale um esclarecimento. Apesar do concurso ser chamado de Sony World Photography Awards, a Sony diz que apenas patrocina os prêmios da competição, mas não é responsável ​​pelo julgamento ou operação do concurso. Porém, diante do ocorrido, cabe a Sony cobrar da empresa responsável pela organização do concurso, que leva o seu nome, mais seriedade e responsabilidade com os participantes, principalmente, aqueles que trabalham sob condições de risco e precisam do anonimato para manter sua integridade e segurança.

A falta de, no mínimo, um pedido de desculpas ao fotógrafo até hoje, mostra que essa empresa parceira da Sony na organização desse concurso não merece se vincular ao nome da marca. Enquanto o concurso de fotografia não se desculpar publicamente com o fotógrafo, o iPhoto Channel não publicará mais nada a respeito da competição.

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