O concurso fotográfico “Los Trabajos y los días” é um dos prêmios mais impactantes da fotografia documental na América Latina. Por discutir as condições de trabalho tanto de homens, mulheres quanto de crianças, traz a visão de realidades que muitos não se dão conta no dia a dia.
Neste ano, o fotógrafo brasileiro Fábio Teixeira venceu na categoria “Crianças Trabalhadoras” com a série “Os meninos dos túmulos”, fotografada na Favela do Caju, no Rio de Janeiro. Teixeira retrata crianças que fazem a limpeza dos túmulos no Dia de Finados no Cemitério do Caju.
“A força desta série fotográfica não é tanto a cor ou tema, mas o fato de que não existem as faces. Parece
que são corpos de crianças, mas as ações e gestos são adultos”, escreveu o júri do concurso sobre a série de Fábio Teixeira.
Também do Brasil, o fotógrafo Tadeu Vilani foi na categoria “Homens Trabalhadores” com a série Emú. Confira todos os premiados.
A premiação vem como reconhecimento para Fábio Teixeira. Em 2015, o fotógrafo foi finalista do mesmo concurso com o ensaio “Caçadores de Rãs”. Conversamos com o fotógrafo, que nos falou sobre o recebimento do prêmio, como surgiu a série mostrando as crianças que limpam o cemitério e deu dicas para aqueles que querem participar de concursos de fotografia documental. Confira:
iPhoto Channel – Qual a sensação de receber este prêmio de abrangência latino-americana?
Fábio Teixeira: Fiquei muito feliz, porque foi um trabalho de 2 anos. Ser reconhecido é sempre muito bom!
iC: A série “Os meninos dos túmulos” também ganhou o prêmio MPT de Jornalismo. Para você, qual o impacto desta série já estar em sua segunda premiação?
F.Teixeira: Foi a certeza que estou no caminho certo, encontrei o discurso dentro da fotografia. A fotografia documental é muito importante, vencer esses dois prêmios mostra que o trabalho esta certo!
iC: Como foi a experiência de fotografar a série “Os meninos dos túmulos”? Como surgiu a ideia e se desenrolou todo o processo?
F. Teixeira: Estava realizando outro trabalho no cemitério do Caju, quando observei as crianças fazendo a limpeza dos túmulos – isso foi em 2014. No início foi muito difícil, por ser crianças e adolescentes procurei não mostrar o rosto deles, e tudo sem perder a estética da foto. Isso é muito difícil em um trabalho documental, precisa de tempo, e muita paciência.
iC: Alguma das fotos tem uma história mais especial para você?
F. Teixeira: Não, toda a série é especial pra mim, e ao mesmo tempo fico muito triste, porque o trabalho infantil precisa ser extinto no Brasil. Sei que é difícil, mas um dia isso muda!
iC: Qual conselho que você dá para fotógrafos que queiram participar de prêmios como estes?
F. Teixeira: Que nunca coloquem o prêmio na frente das documentações, ou seja, nunca se sintam melhores que os personagens das historias. O prêmio é consequência do trabalho, acontece naturalmente. Quando você tem potencial vai acontecer; pode até demorar, mas vai acontecer. E nunca deixem o EGO invadir a alma, isso pode atrapalhar, e muito, o discurso!