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Fotógrafo sem redes sociais se tornou um caso de sucesso mundial

Muitos fotógrafos acreditam que sem estar nas redes sociais não há chances de fazer sucesso ou ter seu trabalho reconhecido. Mas isso não é uma verdade absoluta. O fotógrafo Jerome Gence não tem um perfil no Instagram, nem uma página no Facebook, mas seu trabalho já foi publicado pela National Geographic, palestrou para o Google e se tornou Embaixador da Canon. Mas como isso é possível?

“Aprendi a contar histórias à moda antiga, dedicando cada vez mais tempo ao assunto. O problema das redes sociais é que você só se dedica a si mesmo e, quanto mais tempo passa, mais curtidas você quer ter”, disse o fotógrafo. Por isso, Jerome procura se dedicar a contar boas histórias.

O fotógrafo Jerome Gence

Quem imagina que o fotógrafo teve uma vida fácil ou é um privilegiado, saiba que Jerome cresceu na pequena ilha de Reunion, no Oceano Índico, a 800 quilômetros a leste de Madagascar. E ele faz uma revelação surpreendente: “Na minha ilha, eu não tinha nem a revista National Geographic. Não conhecia fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Sebastião Salgado, Steve McCurry, Marc Riboud , Martin Parr e Pascal Maitre”.

A virada em sua fotografia e carreira aconteceu quando conheceu o fotógrafo francês Eric Valli , que lhe deu direção de fotografia ao lhe dizer: “você tem ‘olhos incríveis’, mas isso não basta – você deve contar uma história”. Esta declaração mudou completamente a carreira fotográfica e Jerome começou a contar várias histórias através de fotos documentais e inúmeros projetos com registros únicos.

“O que me empolga é ir em busca de uma história que jamais imaginaria existir. Também gosto do risco de voltar para casa sem ter encontrado nada. Eu preciso ser surpreendido. É algo cada vez mais difícil em um mundo onde somos assediados por conteúdos e notificações”, disse Jerome.

Um retrato de Jerome de um jovem livestreamer saindo de uma loja de conveniência depois do trabalho.

Mas mesmo focando em contar boas histórias, como conseguir visibilidade e reconhecimento do seu trabalho sem as redes sociais? “Não tenho Instagram nem Facebook e não quero colocar meu trabalho nas redes sociais. Então, a única maneira de apresentar meu trabalho a um editor era comparecer a um conhecido festival de fotojornalismo na França”, contou Jerome, que viajou 800 quilômetros para mostrar suas fotos para editores que estavam presentes no evento.

“Qualquer pessoa pode participar de uma avaliação de portfólio preenchendo um formulário. Minha leitura de portfolio foi com uma diretora de fotografia da National Geographic, e pensei que não teria chance aqui. Por que minha história deveria interessá-la? Ela começou com, ‘Você tem 15 minutos para me mostrar o seu trabalho.’ Ela se levantou depois de 15 minutos, estendeu a mão para cumprimenta-la e me deu seu e-mail. Dois meses depois, recebi uma mensagem da National Geographic e, a princípio, pensei que fosse spam. Mas foi um convite real para ministrar uma palestra no National Geographic Storytellers Summit, nos Estados Unidos”, contou o fotógrafo.

Foto de Jerome também parte do projeto fotográfico Livestreamers

“Depois de me apresentar no Nat Geo Summit, a Canon me selecionou como embaixador”, disse Jerome. E, logo depois, o Google convidou o fotógrafo para dar também uma palestra sobre Mundo Conectado para Pessoas Desconectadas.

“Não acho que entregar todo o seu trabalho, sua vida e o que te anima para essas plataformas seja uma boa estratégia. Se um dia eles decidirem pará-lo [o serviço de mídia social], o que acontecerá?”, questionou o fotógrafo ao defender sua postura de ficar fora das redes sociais.

“O que acontece na internet é que as pessoas querem que você acredite que elas podem ser tudo o que quiserem. Todos podem ser fotógrafos; todos podem ser cinegrafistas; todo mundo pode ser o que quiser ser. Mas isso não é verdade. Meu sonho era ser violonista clássico. Você não pode imaginar quanto dinheiro eu investi, troquei muitas guitarras e disse a mim mesmo que comprando uma guitarra nova [eu poderia ser melhor]. ‘Quero outra câmera’, dizem os jovens fotógrafos, ‘e vou tirar fotos melhores’, o que não é verdade. Em algum momento, eu diria que você precisa ter coragem de dizer que talvez isso não seja para você, e você tem que se expressar de outra forma”, aconselhou Jerome.

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