Fotógrafo conta como capturou os movimentos do ballet com luzes de LED

Um dos projetos recentes que mais encantaram nossa audiência foi “Balled”, série de fotografias do brasileiro Jan L. Engels Jr. que registrou com luzes os movimentos de bailarinos. Mas como o fotógrafo criou essas belíssimas imagens? Conversamos com Jan L. Engels Jr., que participa do nosso quadro “Como eu fiz a foto” e explica passo a passo como capturou os movimentos da dança:

“Tudo começou enquanto eu estava tentando fotografar raios da sacada do meu apartamento durante uma tempestade. Após mais de cem tentativas frustradas, em torno de um pouco mais de uma hora sentado atrás da câmera, notei que a única coisa interessante naquelas capturas eram os rastros dos carros que passavam pela rua. Já entediado, acabei pegando o celular para olhar algumas fotos minhas e no meio dessas imagens tinha um ensaio sobre ballet. Naquele momento, percebi como poderia ser interessante a união dos movimentos da dança com os rastros dos carros. Daí surgiu a minha ideia.

No dia seguinte, entrei em contato com uma bailarina que já havia participado de um ensaio meu anterior, Pâmela Sabrine, para compartilhar a minha ideia brilhante (mal sabia ela que seria literalmente isso). Expliquei que precisaria de um tempo para pesquisar e testar a viabilidade desse projeto e que, de repente, precisaríamos de mais dois bailarinos, os quais depois me foram apresentados, a Gracielli Lattuada e o Escobar Júnior.

Foto: Jan L. Engels Jr.

A solução quase perfeita que encontrei para criar as luzes foi com o uso de fitas de LED RGB controladas por controle remoto, que possibilitam uma variação muito grande de cores. Como essas fitas são alimentadas em rede elétrica, tive que desenvolver uma forma de usá-las com baterias para que não houvesse restrição dos movimentos de dança por causa dos fios. Então, consegui que os leds funcionassem com baterias. Essa solução, além de mais segura, me pouparia de uma manchete no jornal por eletrocutar bailarinos, rs.

PROJETO BALLED

Após, eu e minha companheira e assistente, Cristina Santos, começamos os primeiros testes. Observamos que seria preciso total ausência de luz no ambiente. Os bailarinos deveriam dançar no escuro, o que seria um grande desafio, mas como nossos resultados foram satisfatórios, resolvemos que poderíamos continuar com a proposta.

Reunimos os bailarinos e explicamos o projeto. Até então eles não tinham noção do que se trava. Não sei dizer se me olhavam como se eu fosse um louco ou um gênio, mas a questão é que eles aceitaram, acreditaram e confiaram na minha ideia. Acertamos uma data que coincidisse com as minhas férias do trabalho, pois ainda não ganho a vida como fotógrafo em tempo integral e com as férias da minha irmã, Patrícia Engels, que faria a filmagem e edição dos vídeos para um making of.

O fotógrafo ajustando o setup de iluminação
O local sendo fechado com lonas para ficar em total escuro

O salão de festas do meu condomínio serviu de estúdio. Então, armados com um carrinho de supermercado transbordando de equipamentos, às 6h30 da manhã começamos a dar início à execução do projeto, cujo ensaio terminou ao entardecer. A primeira tarefa foi selar as entradas de luz do salão com lona. E eram muitas, 40 m² no total. Depois disso, colocamos na parede 8×3 metros de tecido preto que serviria de fundo. Montamos os tripés com sobrinhas e flashes que usei para congelar o movimento dos modelos, em ângulos de 45°.

Após o aquecimento, maquiagem e penteados dos bailarinos, começamos a colar diretamente em seus corpos os LEDs com fita microporosa de cor da pele (veja no vídeo acima); logo em seguida, prendemos as baterias com ataduras por baixo das roupas. Com os LEDs acessos, cuja duração seria de no máximo duas horas se ligados em tempo integral, finalmente estávamos prontos para aquele momento que estava sendo planejado há quase dois meses.

Foto: Jan L. Engels Jr.

Queria conseguir a melhor qualidade possível nas imagens, por isso usei uma lente 35 mm em cima de um tripé, com abertura f/8. Minha maior preocupação no início foi o foco, como se sabe, no modo automático, não funciona no escuro. Então fui obrigado a usar o modo manual e determinei onde os bailarinos deveriam saltar e rodopiar. Constatei que com uma exposição acima de 2 segundos, os rastros dos LEDs acabavam se sobrepondo e poluindo muito a imagem e isso estava longe do propósito original do projeto que sempre foi o de mostrar o bailarino e o movimento ao mesmo tempo.

Com uma exposição de 2 segundos, tentei usar a segunda cortina do flash para captar as luzes do LED e congelar os movimentos, o que se provou totalmente ineficiente, já que os próprios modelos teriam que se sincronizar ao disparo da luz no instante da amplitude total do movimento. Então resolvi usar o controle remoto para que eu mesmo pudesse disparar o flash.

A técnica de utilizar uma mão na máquina para acionar o obturador e a outra no controle remoto para disparar o flash na amplitude máxima do movimento, durante a exposição de 2 segundos, se comprovou extremamente eficaz.

Na verdade, acredito que esse tenha sido o grande desafio do ensaio: sincronizar os movimentos dos bailarinos ao disparo do flash capturando um rastro suave e ao mesmo tempo vibrante que possibilitasse mostrar o caminho do movimento da dança por completo. Creio que consegui. E assim executei o Projeto Balled com sucesso”

Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.
Foto: Jan L. Engels Jr.

Leia mais: Fotógrafo captura os movimentos do ballet com imagens de longa exposição

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