Argentino expõe ensaio sobre a ditadura
O Arquivo Público do Estado de São Paulo abre na próxima quarta-feira, 7, a exposição Ausências Brasil. Trabalho do fotógrafo argentino Gustavo Germano, a mostra trata de um tema que tem sido revisto nos últimos meses no país: a ditadura militar.
“A mostra está sendo exposta ao público em um momento muito oportuno para a abordagem do tema, com a instalação e funcionamento da Comissão Nacional da Verdade”, diz Gilney Viana, coordenador do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que promove a exposição, organizada pela ONG gaúcha Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice).
O trabalho de Gustavo consistiu em fotografar famílias brasileiras que tiveram algum parente morto pela repressão, entre 1964 e 1985. Ele contrapõe uma foto antiga da família completa com outra, na qual falta o familiar morto ou desaparecido.
“Pelo contraste entre fotos antigas de familiares e amigos de opositores políticos mortos e desaparecidos quando ainda vivos e presentes e as fotos atuais dos familiares e amigos, mostrando suas ausências, pode se ter noção da dimensão da perda afetiva, mas também, da perda política para todo o nosso povo”, afirma Gilney.
Germano começou seu projeto na Argentina, cuja ditadura deixou como saldo 30 mil mortos e desaparecidos, segundo as contas da Anistia Internacional. Inclusive um dos três irmãos do fotógrafo, natural de Entre Ríos, foi morto, aos dezoito anos de idade. A maioria das quatorze famílias fotografadas nessa etapa do projeto também são de sua cidade natal (algumas dessas fotos também estarão no Arquivo Público).
A exposição estreou em 2007 em Barcelona, na Espanha, onde o fotógrafo está radicado há anos. Desde então, já esteve na Argentina, Itália, Suíça e França. Segundo Luciano Piccoli, coordenador do projeto na Alice, os responsáveis pela ONG, depois de verem a mostra, imediatamente pensaram em replicá-la no Brasil. “É um projeto político e estético ao mesmo tempo, algo que faltava no país”, diz ele.