Fotografia newborn: um verdadeiro ‘baby boom’

URSINHO

Se ao final da II Guerra Mundial houve nos EUA um fenômeno ao qual foi chamado Baby Boom, quando muitos soldados voltaram para casa e a taxa de natalidade aumentou, podemos dizer que no Brasil estamos começando a ver o “newborn boom”, pela rapidez com que a fotografia de recém-nascidos vem ganhando adeptos e entusiastas.

Em pouquíssimo tempo pudemos notar o número crescente – ouso até dizer crescimento exponencial – de fotógrafos procurando se especializar nessa área. E talvez um número maior ainda de pessoas que, apesar de nunca terem pensado antes em fotografia como profissão, estão buscando informações para ingressar na área.

Ainda não existem pesquisas oficiais para mensurar esse crescimento – o que aliás é difícil de ser feito, pelo fato da fotografia não ser uma profissão regulamentada e, por essa razão, muitas pessoas podem estar atuando sem que haja algum registro oficial disso. Porém, a Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN), com base na procura que recebe, tanto de pedidos de fotógrafos para se associarem quanto a busca de informações sobre cursos, palestras e material didático, afirma que o crescimento é latente.

Temos notado que a mídia tem dado espaço e atenção ao tema, tanto a especializada, com matérias discursando sobre técnicas, mercado e entrevistas com profissionais que atuam há mais tempo nessa área, quanto a mídia global, mostrando celebridades (ou mesmo pessoas não tão famosas assim) nas capas das revistas com seus bebês recém-nascidos fotografados bem no estilo ao qual chamamos newborn, além de programas de TV destinados principalmente ao público feminino exibindo sessões ao vivo.

Aos poucos – e ao mesmo tempo rapidamente – o mercado consumidor vai percebendo e entendendo o que é esse produto/serviço que está sendo oferecido. Se antes havia uma certa estranheza quando se informava aos pais que o bebê deveria ter idade inferior a 21 dias (o ideal é entre seis e quinze dias) para esse tipo de fotografia, agora muitos deles já sabem disso e agendam a sessão inclusive antes mesmo do bebê nascer.

Mas é esta mesma a nossa ideia: que tanto profissionais quanto clientes se informem cada vez mais! Que saibam perfeitamente como deve ser uma sessão de fotos de bebês recém-nascidos – com todos os cuidados com segurança, higiene e conforto que lhes são peculiares. E que, aqui no Brasil, essa parcela do leque tão grande de opções que a fotografia oferece seja tratada com respeito, ética, competência, prestígio e assim garanta a todos um período longo, promissor e seguro de mercado de trabalho, evitando dessa forma transformar-se apenas num modismo que poderá se saturar caso as coisas fujam do controle, principalmente se pessoas desinformadas, descuidadas e não comprometidas com os preceitos da fotografia newborn invadirem e massificarem o mercado com preços baratos e gosto duvidoso. Daí a importância da qualificação para esse tipo de fotografia.

O cliente bem informado passa a ser ele mesmo uma espécie de fiscalizador do mercado, contratando apenas fotógrafos em quem ele possa confiar ao sentir que estes têm segurança e conhecimento na forma de conduzir uma sessão. E aqueles que querem atuar na área, ao buscarem conhecimento, garantem desenvolver em pouco tempo as técnicas e habilidades necessárias para se tornarem bons profissionais.

É com esse objetivo, de discutir a profissão e procurar ajudar a formar esse mercado consciente, que escrevo estes artigos.

Hoje vamos falar um pouquinho sobre materiais para uma sessão newborn. Em outro momento, falaremos sobre equipamentos, iluminação, composição, tendências etc.

MATERIAL NECESSÁRIO PARA UMA SESSÃO NEWBORN

Começaremos pelos itens de segurança e conforto para o bebê:

Tanto no estúdio, quanto na casa do cliente, o fotógrafo deve estar atento às condições do ambiente. Assim, é aconselhável que em cidades frias ou com temperaturas amenas o profissional trabalhe com dois aquecedores ligados, um de cada lado do set, sem que, no entanto, o vento esteja indo direto para a cabecinha do bebê. Se for o contrário, uma região muito quente, acima de 30ºC, é importante que haja um ar condicionado que regule a temperatura no ambiente na faixa entre 27º e 29ºC (calor para nós, confortável para o bebê), sem jogar vento diretamente em cima da criança.

Com o tempo, o fotógrafo aprende a “sentir na pele” se a temperatura está OK, mas, como calor é também algo subjetivo, é interessante ter um aparelho que inclua termômetro e um medidor de umidade do ar para monitorar a situação. A temperatura ideal deve respeitar o metabolismo do bebê (pergunte aos pais se ele é “calorento”).O ideal é ter o ambiente aquecido na faixa entre 26,5º C e 29ºC e umidade do ar em torno de 50%.

Quando estava na barriga da mamãe, o bebê ouvia muitos sons: o sangue circulando, batimentos cardíacos, os sons dos órgãos internos da mamãe em ação (estômago, intestino) e até os sons de fora – vozes e ruídos – modificados pela “parede de pele” da mamãe. Assim, reproduzir esses sons (em volumes não muito altos) reconforta o bebê. Em muitas lojas de artigos para bebê é possível comprar um aparelhinho que reproduz esses sons ou, para quem possui um smartphone, baixar aplicativos de white noise.

O bebê nunca deve estar num local alto ou onde possa haver risco de queda. Por isso, o uso do pufe como base é bastante recomendado. Na casa do cliente, o ensaio pode ser feito em cima da cama do casal, improvisando um fundo infinito com mantas sobre o colchão.

No pufe, por ele ser mais maleável, há mais facilidade de se moldar os espaços sob o bebê de forma a deixá-lo melhor acomodado. Ao se fazer o ensaio na cama, é necessário calçar, com paninhos enrolados colocados embaixo da manta, formando pequenos morrinhos, esse “ninho” para o bebê. Ele não deve nunca ficar numa superfície dura, fria ou reta demais. É bom notar que é importante deixar sua cabecinha sempre um pouquinho mais elevada que o corpo.

Para completar o kit “pufe + fundo com mantas”, é necessário tripés e prendedores para segurar a manta e formar o fundo infinito.

DICA: Deixar várias mantas já montadas, uma em cima da outra, para agilizar a troca na hora da sessão, e entre elas colocar algo impermeável, como fraldas geriátricas ou até aqueles tapetinhos de cachorro (que são como uma grande fralda aberta), comprados em petshops, evitando assim que o bebê molhe todas as mantas caso ele faça xixi na que está em cima – algo bem comum de se acontecer!

Aliás, um aviso: cocô e xixi são algo que mais cedo ou mais tarde vão acabar acontecendo durante a sessão. Daí a importância de se ter algodão e água morninha (tépida) por perto para limpar o bebê.

Ter também próximo de você, dentro de uma cestinha, vários paninhos (podem ser fraldas de pano), que serão usados para moldar e dar apoio à posição do bebê, é uma boa dica. Esses paninhos são colocados embaixo da manta, de preferência embaixo da última manta – assim seu relevo não fica visível na foto.

Álcool gel sempre por perto. Para limpar as mãos antes e durante a sessão.

Vamos agora falar de cenários e acessórios, chamados na fotografia newborn de props. Vá se acostumando com esse termo: emprestado da terminologia de teatro e cinema, tudo que se refere a compor uma cena é chamado prop. Aqui falamos de baldinhos, caixinhas, tecidos para os fundos, pelos (pelúcia) etc.

Todo lugar onde o bebê será colocado deve estar limpo, forrado de forma que fique macio e confortável e, no caso de baldinhos altos, deve haver um peso na parte de baixo para contrabalancear o peso do bebê e garantir assim que o baldinho não vá virar – principalmente se a base dele for mais estreita que o topo.

Os tecidos que entrarão em contato com a pele do bebê devem ser macios e antialérgicos. Aqueles que servirão apenas como fundo, colados numa parede, por exemplo, podem ser de qualquer tipo.

Wrap é mais uma palavra em inglês que será vista várias vezes quando o assunto for newborn.Wrap quer dizer embrulhar, enrolar. E aqui se refere ao tecido especial no qual os bebês são enroladinhos para serem fotografados.

O wrap é importado, não há similar no Brasil. Trata-se de um tecido especial, que possui certa elasticidade e que, ao envolver o bebê, o deixa seguro sem se sentir preso ou apertado. As tramas desse tecido são largas, deixando passar certa transparência que dá um efeito bonito na foto e, ao mesmo tempo, não marcam a pele do bebê.

Não se consegue esse mesmo resultado com outro tipo de tecido, daí o investimento em um ou dois wraps ser algo que vale a pena. Há wraps de todas as cores, uma mais linda do que a outra. O meu conselho é adquirir, no início, tons neutros que combinem com seus outros acessórios e também que sirvam tanto para meninas quanto para meninos.

Tecidos, rendas, pelúcias, tudo serve para compor a cena e envolver o bebê.

Aqui nem é preciso escrever muito. Há uma infinidade de tipos de gorrinhos para os bebês, com cores, formas e pompoms diversos… tudo muito lindo! O importante é checar os tamanhos para que não fiquem muito grandes e prestar atenção para que as head-bands não apertem as cabecinhas das nenês.

Tudo vale e tudo é uma questão de gosto pessoal.

DICAS: Procure não exagerar para não tirar do foco principal da fotografia: o bebê. É ele que importa e não os acessórios!

Estude sobre cores e suas combinações.

Não misture muitos tipos de material para as texturas não “brigarem” entre si.

Comece do simples.

Aos poucos, invista em diferentes acessórios. Ter diversidade é bom para seu portfolio.

Não existe uma loja onde se compra tudo, algo do tipo “acessórios para fotografia de recém-nascidos”. É preciso garimpar tudo em lojas de móveis, cama-mesa-banho, artesanato, armarinhos etc.

Nos grupos de Facebook tem bastante gente legal oferecendo touquinhas, wraps e props. Faça uma pesquisa.

Cuidado para não se tornar um “adicto”! Comprar props vicia!

No mais, divirta-se, explore, busque ideias e referências, procure seu próprio estilo baseando-se naquilo que gosta e seja criativo.

Mas lembre-se sempre: o bebê é o foco, não exagere!

E cuide direitinho da segurança dele!

Faça tudo com atenção, carinho e paixão.

Boas fotos!

 

 

CARLA DURANTE é fotógrafa de recém-nascidos, gestantes e famílias e uma das fundadoras da Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN).

 

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