Fotografia newborn e pets: o que diz o bom senso
Hoje faço um convite a todos. Trata-se da discussão construtiva de um tema que tem rondado a fotografia newborn nos últimos tempos. A ideia aqui é trazer informações que – somadas às experiências de cada profissional, seus valores, jeito de ser e, principalmente, uma dose importante de bom senso – sirvam de base para que os profissionais tenha uma postura coerente e a fotografia newborn seja bonita e responsável ao mesmo tempo.
Mas gostaria de combinar algumas coisas com vocês, leitores:
1) antes de, ao ler apenas o título, caso tenha uma ideia preconcebida e refratária a novas formas de pensar;
2) antes de, caso leia o texto até o final mas comece seu julgamento tentando achar significados escondidos nas entrelinhas;
Peço que simplesmente leiam o texto! Depois, claro, filtrem aquilo que acharem que é importante e educativo. Espero, dessa forma, contribuir com informações que, somadas aos seus próprios valores pessoais, possam ajudar a tirar desse assunto algumas lições importantes.
Falar em consenso nessa questão está fora de cogitação. Cada um de nós, não importa se fotógrafos, mães e pais de bebês, médicos, veterinários, enfim, a sociedade como um todo, temos nossa própria forma de ver e conviver com animais de estimação.
Enquanto alguns os abominam, há os que são indiferentes, aqueles que gostam apenas “da porta para fora” e por aí vai… Podemos dizer que vamos passando por diferentes graduações de permissão, do tipo “pode ficar na sala, mas não pode subir no sofá”, até os que dormem juntos, abraçadinhos, dão beijinhos e tratam seus bichinhos de estimação como filhos.
Aqui não cabe – e jamais caberia – julgar ninguém. Cada um é do seu jeito e cada um vai defender sua forma de cuidar e amar seus cachorros, gatos, peixe, passarinhos…
Há também uma dose de valores culturais, emocionais e até regionais envolvidos.
Então, você deve estar pensando: “Por que raios vamos falar da relação deles com os bebês no que tange à fotografia newborn?”
É muito simples: deixando um pouco de lado os extremos – a paixão e a aversão – é mais fácil perceber duas questões importantes às quais é de bom tom estarmos atentos: a saúde e a segurança do bebê.
É bom que se saiba também que, enquanto em seus diferentes “níveis de permissão” cada família age do jeito que bem quiser em sua casa, sendo coerente com seus próprios valores, independentemente de conselhos médicos ou opiniões alheias, durante uma sessão fotográfica a responsabilidade de tudo o que possa acontecer é do fotógrafo. E, imaginando que esse profissional possa atender tanto a clientes que tratam seus pets como se fossem filhos como clientes que entendem que, para eles, é essencial manter as coisas separadas nesse momento, é muito importante que se busque uma coerência para, no mínimo, respeitar os direitos de todos.
Fato: fotografar bebês junto com animais de estimação, sempre haverá quem peça e quem faça, assim como sempre haverá quem é totalmente contra. Isso não mudará nunca!
Ora, para mim uma coisa é lógica: se o próprio fotógrafo não gosta de animais, ou se ele gosta, mas acredita que deva mantê-los longe de um bebê – por várias questões que descreverei mais tarde neste texto – ele já tem uma postura definida. Ele simplesmente não vai fotografar newborn perto de animais e vai explicar suas razões caso um cliente solicite esse tipo de fotografia. Ao cliente cabe a decisão de entender essa posição ou procurar outro fotógrafo que faça. Simples assim. Alguns profissionais, aliás, como sabemos, fazem isso muito bem!
O maior problema é quando profissionais com pouca experiência, principalmente em relação aos cuidados com o bebê, procuram seguir esse caminho sem ter a consciência de que precisam tomar certas precauções para evitar riscos. É por isso que o conselho geral costuma ser: “Melhor pecar pelo excesso de zelo do que correr riscos”.
Muitas vezes, para o próprio fotógrafo não haveria problemas em fotografar o animal próximo do bebê, e mesmo tendo os cuidados necessários ele não o faz em respeito àqueles clientes que podem não gostar da ideia de levar seus bebês recém-nascidos num local onde instantes antes havia um cachorro ou um gato. Acredito que, de alguma forma, essa será a postura da maioria dos fotógrafos. Talvez seja a mais adequada.
Agora, se tanto o cliente quanto o fotógrafo amam de paixão os animais e não veem uma linha divisória na relação entre humanos e cães ou gatos (vamos deixar outros animais por enquanto fora dessa conversa), então, para ambos, não haverá limites. Mas, ainda assim, é importante adicionar um ingrediente fundamental nessa mistura: uma boa dose de bom senso.
O bom senso serve para equilibrar e definir até que ponto o bonito, fofo e apaixonante deve estar acima do seguro, saudável e sensato. Não é difícil achar esse ponto de equilíbrio. Vou listar aqui algumas medidas que podem contribuir nessa busca.
Existem certas condutas, muito simples, aliás, de serem seguidas, que ajudarão o fotógrafo a ter controle durante uma sessão fotográfica que envolva pets sem que se ultrapassem limites que possam colocar em risco o bebê. Quer por um descuido ou mesmo por uma simples brincadeira do bichinho, ou por ciúmes, quem sabe um susto ou desconforto, enfim, por qualquer uma dessas razões, o dócil cãozinho pode arranhar o bebê. E isso ninguém quer, não é mesmo?
Até uma simples demonstração de carinho pode fazer o bichinho querer lamber o rosto ou qualquer outra parte do bebê. Por mais bonitinha que essa cena possa ser aos olhos dos amantes de animais, deve-se, em nome da saúde, evitar esse contato. Isso não sou eu quem está dizendo, é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde. Portanto, é muito bom que se leve isso a sério.
Então, se você faz parte do segundo grupo e vai tirar fotos com amigos peludos, procure estar atento ao comportamento do animal, que pode se mexer de forma brusca e arranhar sem querer o bebê ou, mesmo que seja dócil, pode ter ciúmes e avançar – lembrando que animais podem ter comportamento imprevisível. Por isso, todo cuidado é pouco. É como quando lidamos com irmãozinhos de um, dois ou três aninhos que vão ser fotografados juntos com o bebê – eles também podem fazer algo perigoso…
O primeiro conselho é que, durante a sessão, tenha sempre alguém da família a quem o animal já esteja acostumado por perto. Afinal, você também é um estranho para ele!
É muito importante seguir as seguintes recomendações:
- Evite que o bebê tenha contato direto com os animais.
- Não deixe o animal lamber ou cheirar o bebê, por mais bonitinho que isso seja.
Isso não vale só para o recém-nascido. Na verdade, nos primeiros meses de vida é bom evitar esse contato mais próximo, já que o bebê ainda tem baixa imunidade e não tomou todas as vacinas necessárias. Quando é recém-nascido, a situação é mais delicada ainda, porque de fato ele não tem o sistema imunológico desenvolvido. Tudo que o protege vem do leite materno.
Os cães e gatos possuem uma flora bacteriana própria que, por contato oral, por pele, nasal ou pela urina, pode causar problemas, assim como, por não terem a mesma higiene que nós, eles podem causar diversas infecções em bebês de zero a seis meses.
- Certifique-se de que o animal está com as vacinas em dia e se está limpinho.
Para garantir a saúde de toda a família é fundamental preocupar-se também com a saúde do pet. O contato da gestante e do bebê com animais pode trazer alguns problemas, como fungos de pele (as micoses), toxocaríase (doença causada por um verme) e toxoplasmose, além de piorar quadros respiratórios, como os de asma.
E vejam que interessantes estas dicas para você ensinar à sua cliente se o bebê ainda não tiver nascido:
Para ajudar a evitar os ciúmes dos animais em relação ao bebê – coisa normal de se acontecer, já que, antes da chegada dessa pessoa pequenininha que eles não entendem quem é, eram eles quem reinavam na casa – os cuidados com o animal e com o ambiente devem começar antes da chegada da criança. É nessa fase que o animal deve ser acostumado aos novos objetos e cheiros da casa. Para isso, deve-se criar o hábito de apresentar o berço e os novos brinquedos para o animal. Isso facilita o entendimento do cão, que pode ser recompensado com petiscos a cada resposta de “bom comportamento”.
Uma boa ideia também é levar para a maternidade alguns pedacinhos de pano (são panos novos, limpinhos, claro!) e deixar pertinho do bebê. Esses paninhos pegarão o cheirinho dele. Depois, alguém da família (pai, tio, irmão…) leva esses paninhos e dá para o cachorro cheirar antes da chegada da mamãe com seu bebê da maternidade. Assim, ele já vai se acostumando com o cheirinho.
Outra coisa muito importante: a família não deve deixar de lado o seu animal de estimação depois que o bebê nascer. Deve continuar demonstrando carinho e amizade. Dessa forma, o animal nunca verá o bebê como uma ameaça.
Esses são alguns conselhos dados por veterinários, coisas simples e eficazes, e achei que seria bacana compartilhar com vocês. Se puderem passar essas ideias adiante, acredito que estarão ajudando na integração da família que cresce com a chegada de um bebê e seus pets.
Para bebês mais velhos e crianças tudo é mais tranquilo. Estudos mostram inclusive que, ao contrário do que se pensava antes, a convivência com animais de estimação é muito saudável.
Um estudo realizado pelo Hospital Universitário Kuopio, na Finlândia, por exemplo, revelou que os cachorros podem beneficiar muito as crianças, aumentando sua imunidade contra problemas respiratórios e infecções. Constatou-se que os bebês que tinham contato com cachorros ou gatos tiveram menos infecções no ouvido, entupimento de nariz e tosse. E também precisaram de menos antibióticos. A razão para isso é que os cães, com sua pelagem, levam alguns germes e bactérias para dentro de casa, amadurecendo mais rapidamente o sistema imunológico e aumentando o sistema de defesa das crianças.
Além disso, quem convive com animais já sabe, mas é sempre bom dizer, animais ajudam as crianças a desenvolver relações carinhosas e de respeito, bem como contribuem no desenvolvimento da coordenação motora, o que acontece enquanto os pequenos brincam com seus bichinhos!
O importante é que fique claro que tudo isso é valido para bebês maiores de seis meses e não recém-nascidos. É preciso que eles formem seu sistema imunológico antes.
Para finalizar, vou listar aqui os conselhos que a Associação Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos dá sobre fazer um ensaio newborn junto com pets:
1. Controle: aconselha-se fazer esse tipo de ensaio preferencialmente na casa do cliente, por ser um local ao qual o animal já está acostumado, evitando assim um estresse a mais para ele. Garanta que haja sempre a presença de alguém em quem o animal confia para que ele não se sinta ameaçado.
2. Higiene: todos os materiais usados no ensaio deverão ser lavados, mesmo que o cachorro não tenha se deitado diretamente neles ou lambido. Se o ensaio for feito no estúdio, é importante que o espaço seja higienizado adequadamente assim que o animal sair, limpando com desinfetante todos os locais por onde ele passou.
3. Segurança física: os bebês não devem ficar apoiados sobre o animal, pois ele pode se movimentar sem aviso e causar alguma queda ou movimentação brusca que machuque o bebê. Os cachorros devem ser posicionados ao lado ou atrás do bebê, em posições que não ofereçam risco. Quando se tratar de animais de grande porte, que podem representar perigo para o bebê ou para a assistente que estará cuidando dele durante a pose caso se torne agressivo inesperadamente, sugerimos o uso de montagens fotográficas, clicando primeiro o bebê posicionado seguramente sem o animal, e depois somente o animal, com um objeto como “dublê” da criança.
4. Responsabilidade social: pense que você pode servir de exemplo e inspiração para outros fotógrafos, às vezes iniciantes e sem muita experiência. Então, quando for divulgar o seu trabalho, mostre as montagens, explique que foi feito com segurança e higiene, e evite divulgar fotos em que o animal esteja lambendo ou babando o bebê, pois mesmo que os pais permitam essas atitudes em casa, não é exatamente recomendável para um bebezinho recém-nascido que ainda não tem o sistema imunológico totalmente desenvolvido.
É importante salientar que, mesmo que seja por solicitação dos pais, o fotógrafo é o responsável legal por tudo o que acontece durante o ensaio, principalmente se for dentro de seu próprio estúdio.
Creio que agora, munidos de algumas informações e enriquecidos de bom senso, todos possamos seguir nossos caminhos, conforme o que mandar nossos corações (mentes também, por favor), sem a necessidade de unir “capuletos” e “montecchios” ou agradar a gregos e troianos.
Boas fotos!
Carla,
Seu texto é muito bom… Com muito bom senso, mas infelizmente num país sem bom senso, onde existem “fotógrafos” que cobram 40,00 uma sessão newborn é difícil não ser radical… Amoooo animais e com certeza faria sessões com eles, mas tenho o bom senso suficiente para entender que com essa prática, se algo de errado ocorrer, além de prejudicar a mim, estarei prejudicando a classe de amigos inteira. O animal é movido por instinto e não pela razão e o serzinho que está na perto dele é seu desconhecido, por isso pra que o risco se você tem a possibilidade de fotografá-lo mais tarde com o bebê mais crescido como você citou…ou de outra forma mais criativa. Nota zero para as fotógrafos que levantam bandeiras erradas e alimentam o mercado dos sem bom senso. Abraço.
Gostei muito das fotos, belos clicks, kkkkk. Referindo-se ao artigo, simplesmente perfeita a sua colocação, não há o que tirar nem o que acrescentar. Muito bom!
Tema polêmico e explicação minuciosamente esclarecedora, era o que faltava sobre o assunto que cria tanto bate boca!!! Adorei!!!