Manual do fotógrafo expedicionário

Foto: Ita Kirsch

Trocar a rotina por uma mochila, uma câmera e embarcar numa viagem sem destino pelo país é um sonho de muita gente. Mas poucos têm o privilégio de tornar essa aventura uma realidade. Para todos que arriscam, um item é essencial: planejamento. Especialmente, quando o objetivo é transformar a viagem num projeto fotográfico que renderá livro, site, exposição etc.

Ita Kirsch e Simone (“Bala”) Blauth acabam de encerrar um projeto assim. Durante nove meses, o casal gaúcho percorreu 23 mil quilômetros pela costa brasileira, da ilha de Marajó (PA) ao Chuí (RS). O relato visual dessa aventura foi publicado no livro Costa do Brasil.

Tudo começou, no entanto, em 2009, quando o projeto foi colocado no papel e submetido à Lei Rouanet de incentivo à cultura. “Nesse meio tempo, bolamos a expedição em si. Em 2010, saímos de viagem”, conta Bala. No ano seguinte foi feita a captação de recursos e, este ano, produzido o livro.

Não foi a primeira expedição do casal, natural de Novo Hamburgo (RS). Ita e Bala se conhecem desde 1982, mas seguindo caminhos diferentes. Em 1991, porém, decidiram realizar uma viagem juntos, pela África do Sul e Namíbia. No ano seguinte, embarcaram com destino à Tailândia. A cada ano, um novo destino: Índia, Nepal, China, Indonésia, Filipinas, Equador, Argentina, Chile, Peru… “Deu tão certo que até hoje estamos juntos”, comemora a fotógrafa.

Depois dessa série de excursões internacionais, eles decidiram conhecer o próprio país. Organizaram uma expedição de dezessete meses pelo Brasil, a bordo de uma Kombi Safári (um tipo de mini motor-home). O resultado foi uma grande exposição, um audiovisual e, dois anos depois, o livro de fotografias Bem Brasil. Desde então, o país tem sido alvo exclusivo das suas lentes. Já iniciaram uma nova documentação pela Serra Gaúcha e têm outros dois projetos engatilhados para 2013. Finalmente, em 2014 ou 2015, o casal voltará a sair do país: “Queremos fazer as Américas de carro, num projeto sobre os povos indígenas”.

Foto: Ita Kirsch

Simone acredita que o quesito mais importante para concretizar projetos desse vulto é o comprometimento, pois são empreendimentos de longo prazo, cujo resultado só aparecerá daqui a três ou quatro anos. “Muita persistência e, acima de tudo, saber largar tudo, fechar as portas de casa e do estúdio e partir. A partir desse momento, viver intensamente o novo”, ressalta. “E, claro, uma pequena poupança para poder realizar as expedições”.

Foto: Divulgação
Ita e Bala em Arraial do Cabo (RJ): é preciso saber largar tudo

Levar em conta as condições climáticas também é importante. “Outra questão que cuidamos muito é nos adaptarmos ao novo, ao meio ambiente e às culturais locais. Nós somos os intrusos, nós que temos que aprender com os nativos de cada região, e não vice-versa. Esse diálogo deve ser sempre transparente”, observa Simone, que costuma cuidar da logística da viagem: onde dormir, contatos, o que conhecer, mapas etc. Ela também é responsável por fazer um pequeno diário, descarregar, catalogar e editar as imagens capturadas.

Aliás, quando se trata de fotografar, a dupla prefere deixar rolar: “Cada um fotografa o que quer, quando quer. Somos seres livres, mas temos ideais parecidos, que nos unem. Fazemos quase tudo juntos. Ita é obstinado, ama fotografia, é incansável. Gosta de dirigir, conhecer o novo, ir para frente. Enfim, um vai dando uma ajuda ao outro e, principalmente, quando um desanima, o outro vai lá e dá aquela estimulada”, destaca Bala. Como ela disse, tem dado certo.

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