É só sair da fantasia… O que há na verdade são os pistilos de um gerânio, que oferece toda a sua beleza a uma objetiva macro, que aproxima assuntos de forma surpreendente. E neste assunto há uma conceituação que sempre causou confusão na fotografia macro: o que é close puro e simples, e o que é macro?
Um ser monstruoso, deslizando das sombras já ocupa quase o centro de seu ninho no fundo da caverna, e movimenta seus tentáculos venenosos em sua direção, enquanto produz um chiado baixo e hipnótico. As paredes e o solo, cobertos por uma substância pegajosa, impedem a fuga. Como escapar?
Vamos usar como exemplo a foto de uma flor que ocupe toda a tela. Por certo é um close, mas somente um close, no sentido técnico de “uma imagem fechada”, ou seja, desprezou-se todo o resto da cena e o foco concentrou-se somente nela. Ela, contudo, é apenas uma imagem aproximada, que toda câmera faz. Se, todavia, detalhes que não foram destacados anteriormente são mostrados, ganhando importância graças ao uso de lentes apropriadas como as close-up, os tubos de aproximação e objetivas especiais, aí estamos na macro fotografia onde produzimos imagens mais intimistas, destacando formas e texturas que um simples close não mostraria.
Qual é a melhor lente para fotografia macro?
Para aqueles que pretendem ingressar, ou já ingressaram no mundo da macro fotografia, existem diversas opções em termos de objetivas, com comprimentos focais entre 15mm e 200mm, com a maior parte delas permitindo uma proporção 1:1, ou seja, mantém na foto o tamanho natural do objeto, em um close perfeito, além dos acessórios já mencionados e que possibilitam médias e grandes aproximações, revelando detalhes dificilmente percebidos em uma foto comum.
Mas, lá vem a velha pergunta:
Se existem várias objetivas, como escolher a melhor, ou aquela que mais se encaixa no que se pretende?
Para começar escolha o que, e como você deseja fotografar. Para você basta uma boa aproximação, ou prefere ir mais fundo, buscando detalhes, desenhos e texturas?
Se pretende trabalhar com joias, em um estúdio, as providencias a serem tomadas são muito diferentes daquelas adotadas por quem se propôs a fotografar flores ou insetos. Suas necessidades também se alteram em função da iluminação, mas as dificuldades encontradas podem ser resumidas em uma só questão: a distância do assunto.
Assim, se você vai querer uma distância confortável, sem precisar trepar no objeto a ser fotografado, a liberdade é muito grande porque no mundo da macro fotografia nem sempre se segue os chamados “padrões fotográficos”, já que o que impera é a criatividade. À despeito disso, nota-se uma preferência pela objetiva de 100mm, f/2.8, tida como clássica, já que funciona bem e permite que o fotógrafo trabalhe a uma distância confortável, com a facilidade da produção de uma foto 1:1.
Mesmo a série de 90mm a 105mm tem seus adeptos e é uma opção, embora nos casos em que se pretende fotografar animais assustadiços a faixa dos 180mm a 200mm se mostra a mais correta, dentro de uma distância média. Saiba, no entanto, que quanto maior for a distância focal, além do peso da objetiva, mais restrito será o foco, exigindo assim bastante precisão. Com isso a busca vai na direção contrária e a preferência recai sobre uma 40mm, ou 60mm, tidas como boas escolhas face aos seus tamanhos e facilidade de uso, além de permitir que você fique a uma distância próxima ao assunto, mas sem desconforto.
Hoje há, todavia, uma tendência por closes tomados com um ângulo mais amplo, capazes de expor detalhes sutis, enquadrando o assunto junto com seu entorno, não apenas ampliando o objeto central, mas criando uma narrativa visual. Allan Weitz, um dos mais respeitados fotógrafos americanos nessa especialidade diz que “as fotos macro ‘normais’ expõem o detalhe, mas o close com grandes angulares contam uma história…”
Uma vez que, quanto mais longa a objetiva, menor será a profundidade de campo, por vezes talvez seja melhor usar uma objetiva um pouco mais curta para manter o assunto em foco, buscando um fundo suave, que apenas complemente a imagem sem interferir na atenção do observador. Por outro lado, comprimentos focais mais longos tornam mais fáceis o isolamento do assunto, já que a profundidade de campo é bem estreita.
Há, contudo, um ponto que também merece destaque em uma objetiva macro: a praticidade. Com isso, muita gente busca uma objetiva que sirva para uso geral, ou seja, que produza boas aproximações com bom detalhamento, até se definir em um trabalho macro.
E, insistimos, esse é o grande diferencial neste tipo de fotografia: nem toda a fotografia com aproximação é macro. A macro é sempre mais detalhista. Se você estiver com a grana curta e à procura de uma lente com boas chances na macro, compre uma 50mm, mas caso queira “acertar na mosca” fique com uma 100mm. Para muitos, ela é imbatível… Outra coisa: não busque só as marcas famosas, que lançam câmeras e objetivas. As chamadas “independentes”, como a Tokina, a Tamron, a Sigma, a Rokinon e a Samyang, também colocam no mercado objetivas de qualidade, com ótima ampliação e a preços bem relativos.
E para não perder o hábito, vamos falar de algumas objetivas quase sagradas para quem ama a fotografia macro. Assim temos, em uma passada rápida:
– a Canon EF-S 35mm, f/2.8 Macro, que procura conciliar as necessidades do fotógrafo, com a iluminação do assunto, trazendo um anel de luz incorporado à objetiva. Com isso, em vez de recorrer a luzes auxiliares, como os flashes circulares, a EF-S permite trabalhar com objetos menores e de uma forma mais livre, além de facilitar seu manuseio, tendo sido projetada para câmeras Canon APS-C, fornecendo uma ampliação máxima de 1:1, a uma distância mínima de 12,5cm;
– Outra, digna de nota, é a MP-E 65mm, f/2.8 1×5 Macro, também da Canon, tida como altamente especializada, com uma ampliação de 1X a 5X, em uma distância mínima de 20cm, com um anel para a fixação de um Macro Ring Lite (flash circular);
Além dessas ofertas já tidas como clássicas entre os aficionados, há outras bem interessantes e ainda não tão populares, como a recente Laowa 15mm, da Venus Optics, a primeira e verdadeira grande angular macro. Com uma ampliação de 1:1 e suas fotos são bem diferentes das tradicionais, já que ela possui uma inacreditável distância mínima de trabalho de 5mm, permitindo fotos super detalhadas.
Na outra ponta da corda está a Canon EF 180mm, f/2.8, que com um teleconverter 2X se transforma em uma objetiva macro com quase 400mm, e se você precisa manter uma boa distância do objeto a pedida é essa.
Além da Venus Laowa de 15mm, há também a Laowa 60mm, f/2.8, 2X Ultra Macro, com uma distância focal de 12cm. No entanto ela oferece uma ampliação de 2:1, ou seja, amplia até o dobro do tamanho natural e não bastasse essa ampliação incomum ela é capaz de focar ao infinito, o que é muito raro em objetivas com mais de 1:1. Sua ampliação máxima se dá a 6,5cm de distância e um sistema de lentes flutuantes permite uma ótima qualidade de foco.
Qual é a melhor iluminação para a fotografia macro?
E não tem como fugir: quando se fala em fotografia seja ela de que tipo for, a luz é um assunto sempre presente e a macro não é exceção, muito embora neste caso falar em velocidade de obturador e abertura de diafragma seja chutar no escuro, porque esses dados vão variar a cada passo, em função da textura do objeto, se ele reflete a luz ou não, que parte dele você deseja fotografar, a iluminação do local, a luz que você dispõe, a temperatura ambiente, o equipamento que está usando, e um monte de coisas. Lá no final do artigo a gente dá uma dica ou outra, mas agora é melhor ir ao genérico…
Quando você fica muito perto do objeto não é raro projetar uma sombra indesejável sobre ele, mas há sempre uma solução. Vamos começar com algo que por certo sua câmera tem: o flash pop-up que, por estar sempre muito próximo do assunto, tem de ser “trabalhado” com difusores feitos com papel vegetal, ou mesmo envolvendo-o com um saco de supermercado para quebrar um pouco o excesso de luz, já que não há regulagem para o seu relâmpago. Os flashes portáteis também fazem um bom trabalho desde que possuam ajustes para fotos macro, que consigam ser usados corretamente fora da câmera e, obviamente, que aceitem o uso de conexões remotas via rádio, ou via cabo TTL.
Se o objeto é imóvel, o uso de um flash portátil com um softbox é uma boa pedida, para uma melhor distribuição da luz, caso ela esteja muito próxima dele. Até mesmo uma sombrinha refletora, e uma difusora, devidamente adaptada para o flash, ou simplesmente para quebrar a luz do sol, podem ser usadas com bons resultados, desde que o espaço permita uma convivência pacífica entre você, elas e o vento…
Caso esteja em um estúdio a coisa muda e haverá por certo outras fontes de iluminação, como softboxes mais elaborados, “snoots”, tochas e sombrinhas maiores, mas não se esqueça da tenda. Remanescente da faze analógica, ela distribui as luzes colocadas à sua volta de uma forma equilibrada podendo, graças a variação das suas intensidades, criar efeitos muito curiosos.
Aliás, a tenda pode ser usada também ao ar livre difundindo a luz do sol e evitando que aquela flor, que você tanto persegue, fique sambando à sua frente tocada pelo vento. Hoje o mercado já oferece modelos com novos formatos e até iluminação própria sendo, contudo, mais indicados para trabalhos em estúdio.
E os preços, como sempre, um fator constante na fotografia, entram em todos os projetos com todo o seu peso. Mesmo assim, para aqueles que pretendam investir, temos, tanto os flashes circulares quanto os duplos, considerados opções de alto rendimento por proporcionarem uma iluminação uniforme e ideal para fotos de joias e pequenos objetos em que os detalhes são essenciais.
Com controles independentes, os flashes duplos podem produzir uma iluminação diferenciada, com efeitos capazes de valorizar e destacar detalhes. Já as tendas e as mesas de macro, irmãs das mesas de still, são bem mais em conta e produzem uma luz suave, em torno de um fundo branco puro, com ótimas fotos.
E em se tratando de iluminação, os mais diversos tipos podem ser buscados, como flashes de estúdio, flashes portáteis, o pop-up da câmera, o sol, refletores, rebatedores, lâmpadas, folhas de alumínio, espelhos e todas as coisas capazes de jogar luz no objeto, ou seja, ninguém se prende aos “padrões fotográficos” como dissemos lá atrás. E se puder, procure variar também o ângulo da iluminação para provocar novos efeitos…
Bem, até aqui só falamos de objetivas. Todas elas caras e de difícil acesso por estas bandas. Falamos também algo sobre a luz, mas há outros acessórios bem mais em conta, no rastro das objetivas macro, que também proporcionam ótimas ampliações. São as lentes close-up e os tubos de aproximação.
As lentes close-up são vendidas em jogos de três, ou quatro peças, com os graus (dioptrias) variando de +1 a +3, ou de +1 a +4, e podem ser empilhadas na objetiva, mesmo que ela não seja macro, usando a rosca destinada aos filtros circulares, somando os graus para uma aproximação maior.
Seu baixo custo facilita a aquisição, embora não se deva esperar o mesmo rendimento de uma objetiva projetada para fotografar em macro e com um preço trinta vezes maior! Todavia, as lentes são práticas, fáceis de instalar e por serem intercambiáveis produzem uma variedade de efeitos de aproximação.
A distância focal, evidentemente, vai variar em função de quantas e quais lentes estão sendo usadas e em decorrência o foco também vai variar, pedindo cada vez mais precisão, a ponto de ser perdido por uma questão de… milímetros! Aliás, cabe aqui um conselho que se adapta a qualquer objetiva em uso no macro: sempre que puder trabalhe no foco manual. Mesmo que o foco automático da câmera seja de primeira, confira sempre com o manual. E ao comprar suas lentes close-up não se esqueça de que elas devem ser compatíveis com o diâmetro da objetiva…
Os tubos de aproximação são a próxima atração! Eles são algo intermediário entre as lentes close-up e as objetivas macro e, como as close-up, trabalham com objetivas comuns. Tal como as lentes, seus preços são bastante acessíveis, ainda que mais caros do que elas e são vendidos em jogos de três peças, com o comprimento variando segundo as câmeras para as quais foram projetados, como veremos adiante. Das marcas independentes os favoritos são da Vello, e da Sigma, que atendem a todos os fabricantes.
Como são instalados entre a câmera e a objetiva, o comprimento focal, seguindo a regra geral da qual ninguém se livra, também será alterado, principalmente porque eles podem ser interligados, aumentando o comprimento físico da objetiva.
Os tubos são encontrados em dois modelos: o manual e o automático. No primeiro você não tem os comandos eletrônicos na objetiva e todos os ajustes são manuais. Já os automáticos preservam as funções da câmera. Como suas medidas variam conforme as câmeras e objetivas a que se destinam, temos o seguinte quadro nas mais votadas:
- Nas Canon: um tubo de 13mm, outro de 21mm e um terceiro com 31mm;
- Nas Nikon: um tubo de 12mm, outro de 20mm e um terceiro com 36mm;
- Nas Sony Alpha: um tubo de 13mm, outro de 20mm e um terceiro com 36mm.
Embora a instalação de um tubo não seja complicada, requer uma certa atenção para um correto alinhamento dos encaixes e a maioria dos fabricantes aconselha instalar primeiro o (s) tubo (s) na câmera e depois a objetiva.
Dicas Macro
E agora as dicas prometidas, que funcionam, desde que sejam consideradas as condições descritas lá atrás (textura do objeto, iluminação local, etc.):
a – para trabalhar com folga selecione sempre uma abertura pequena;
b – por causa disso aumente, se possível, o tempo de exposição. Não se esqueça de que a luz tem um caminho maior a percorrer , não só graças às lentes close-up, ou tubos, mas principalmente depois que você reduziu o diafragma, e vai precisar de tempo para chegar ao sensor;
c – use sempre um disparador remoto, seja por cabo, seja via rádio, ou em último caso use o temporizador da câmera, ao adotar lentes, tubos, ou objetivas macro.
Para aqueles que querem levar a coisa à sério, é aconselhável um carro de aproximação, que produz um foco exato, com a câmera avançando, recuando, e se deslocando para direita, ou para esquerda do objeto, milimetricamente.
O flash pop-up não é o mais indicado para os tubos de aproximação. Use nesse caso um flash independente com ajuste para macro disparado remotamente, ou adote outra fonte de luz. E como ela sofre uma queda acentuada até chegar ao sensor, a capacidade do foco automático certamente será bastante reduzida, o que determinará a adoção do foco manual.
E o fole, já conhece? Ele é talvez um acessório dos mais relegados na fotografia macro digital. Ultrapassado? De jeito nenhum! Afinal, ele é altamente versátil e permite distâncias focais que substituem aquelas encontradas nas lentes close-up, nos tubos e até mesmo em muitas objetivas, uma vez que permite que seja dada sempre a distância desejada para um trabalho.
Assim, pode-se dizer que ele é perfeito para posicionar a objetiva, como se fosse um tubo de extensão, a praticamente qualquer distância da câmera. Mas se ele é tão prático assim, por que não é popular? Resposta: pelo seu alto custo, sendo em geral destinado a um uso mais técnico, para fotos de maior complexidade, geralmente em pesquisas, embora seja adotado por muita gente que busca a macro fotografia em seu maior alcance.
Ainda que não seja um acessório dos mais populares, vale dizer algo sobre ele. Todo fole possui contatos em suas extremidades: uma delas é ligada à câmera enquanto a outra é fixada à objetiva. O conjunto corre sobre um trilho que expande, ou retrai o fole, possuindo uma escala de aproximação e um botão de bloqueio para fixar a distância determinada.
Para que você tenha uma ideia do poder de ampliação de um fole, temos acima uma foto macro de parte do mostrador de um relógio de pulso. Observe nesta foto, na parte inferior, a procedência: “Swiss Made” e lá está ela bem destacada na foto seguinte, abaixo. Isso é macro com fole…
Há foles para vários sistemas de câmeras e tamanhos, que podem ser usados mediante adaptadores, tanto em tripés (sua melhor localização) como instalados em estruturas especiais, geralmente usadas em laboratórios. Como acontece com os tubos, há foles automáticos em que os comandos são preservados, enquanto outros, mais simples e preferidos, deixam os ajustes no modo manual.
Uma de suas qualidades mais complexas é poder ajustar o plano da objetiva em relação à câmera. Algo semelhante às lentes shift e tilt-shift, o que proporciona mais controle sobre o foco e a perspectiva.
Mas não pense que o assunto acabou!
Há, na macro fotografia, um patinho feio, do qual ninguém lembra e que faz um ótimo trabalho, como poucos acessórios: é o anel de reversão!
Ele fixa a objetiva ao contrário na câmera e faz com que, ao trabalhar invertida, ela aumente sua capacidade de ampliação, produzindo ótimos close, a um custo mais baixo que o das lentes close-up, deixando ao fotógrafo todos os ajustes necessários, geralmente fazendo com que o foco seja conseguido aproximando ou afastando a câmera e é aí que o carro de aproximação é bem chegado. A distância mínima e a ampliação vão variar com a objetiva usada, mas é sempre bem curta e se você não pretender fotografar o fígado de uma formiga a objetiva nem precisa ser macro!
Mesmo que o processo possa parecer rústico e antiquado, já que vem dos primórdios da fotografia analógica, há clubes de aficionados por esse tipo de foto em países europeus, que apresentam verdadeiras obras de arte e já se encontra no comércio (lá fora…) anéis compatíveis com objetivas digitais, ou seja, a coisa já não é tida como tão rústica assim…
Bem, é isso aí… com tudo quanto foi dito, procuramos mostrar, numa passada geral, o que existe na macro fotografia, não só em equipamentos, mas também nos seus efeitos, de uma forma que dê para sentir que o universo macro é infinito, aliás como todo universo que se preza…
Se está começando agora, dê um tempo para acostumar-se com o manuseio dos acessórios, e com a baixa qualidade das primeiras fotos, antes de jogar tudo pela janela.
Os custos? Sempre podem ser contornados com acessórios mais em conta, e os close irão surpreendê-lo, surgindo muitas vezes no seu jardim, ou em um canteiro que você nunca tinha notado lá na pracinha. Está tudo à sua espera, o importante é chegar a esse universo e desbravá-lo. Uma coisa é certa: depois de conhece-lo será difícil deixá-lo…