Militão de Azevedo e a cidade em movimento

Foto: Militão Augusto de Azevedo
Rua do Rosário, em 1862

Quanto uma cidade pode mudar num período de duas décadas e meia? Dependendo do período e da cidade, a mudança pode ser profunda. Mas o cotidiano embaralha as coisas e tudo o que resta é a imagem do momento. Isso se não houver fotografias para pôr as coisas nos seus devidos lugares. Para oferecer um instrutivo antes e depois.

Tudo isso vem a propósito quando se pensa no trabalho do pioneiro da fotografia urbana, o carioca Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) e seu trabalho de documentação das mudanças vividas por São Paulo na segunda metade do século 19. “A cidade havia se modificado e o espaço urbano teve sua dinâmica totalmente alterada. Comparar essas imagens sempre é uma experiência ímpar. Ainda hoje causa espanto ver como a cidade se transformou em 25 anos e se preparou para ser o centro financeiro do país”, observa o crítico de fotografia Rubens Fernandes Junior, cujo ensaio abre o livro Militão Augusto de Azevedo (216 págs., R$ 66), que a editora Cosac Naify lançou no último sábado, ao mesmo tempo em que abriu a exposição A cidade desaparecida de Militão Augusto de Azevedo na Casa da Imagem, no centro da capital paulista.

O livro reproduz algumas páginas do Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo: 1862-1887, pertencente ao acervo da Biblioteca Mário de Andrade, para o qual o fotógrafo produziu imagens das mesmas paisagens da cidade em datas diferentes, evidenciando a rápida urbanização do período.

Foto: Militão Augusto de Azevedo
Largo do Palácio em 1862…
Foto: Militão Augusto de Azevedo
…e em 1887. Militão fotografou os mesmos lugares em ocasiões diferentes

A obra também traz um ensaio com 113 imagens que integram a Coleção Militão Augusto de Azevedo, pertencente ao Acervo Iconográfico da Casa da Imagem, comentadas pelo curador Henrique Siqueira. Há como apoio três mapas comparativos que demarcam os locais fotografados por Militão em três tempos (1862, 1887 e 2012), uma lista das mudanças nominais dos logradouros e uma bibliografia.

Além do ensaio de Rubens Fernandes Junior, destacando a trajetória de Militão e aspectos técnicos do seu trabalho, há outros dois textos: Fraya Frehse, professora do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo, observa a partir dessa obra a persistência dos traços “caipiras” na metrópole em formação, e Heloisa Barbuy, professora de história na USP, analisa as mudanças na vida comercial da cidade através das imagens comparativas de seu álbum.

Foto: Militão Augusto de Azevedo
Largo da Assembleia, 1887

A EXPOSIÇÃO – Organizada por Henrique Siqueira e Monica Caldiron, A cidade desaparecida de Militão Augusto de Azevedo resgata uma cidade onde sobraram apenas poucas igrejas, o traçado de algumas ruas e as fotografias produzidas por volta de 1862. São Paulo, então, contabilizava menos de 30 mil habitantes e encontrava-se na iminência de profundas adaptações às necessidades da modernidade e da nova ordem econômica.

Junto com a mostra, a artista Rochelle Costi exibe a instalação Tombo, com trabalhos inéditos realizados a partir de uma pesquisa com material do acervo da Casa da Imagem, muitos dos quais estão no limiar na obsolescência ou mesmo em desuso.  Complementando o diálogo com o acervo e os fotógrafos que registraram a transformação da cidade, a artista também se apropria de imagens de negativos de vidro e fichas catalográficas criadas desde 1938 por Benedito Junqueira Duarte.

A exposição fica em cartaz até 25 de novembro, na Casa da Imagem (R. Roberto Simonsen, 136-B). A entrada é gratuita.

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