Uma mochila, uma câmera e pensamento positivo

Viajar pelo mundo sem um tostão no bolso, apenas com uma mochila, uma câmera e pensamento positivo. Esse é o sonho que Leonardo Maceira está vivendo neste exato momento. Quando falou conosco, no início do mês, o curitibano de 23 anos de idade estava em Maceió, a caminho do Recife e de João Pessoa. Seu objetivo é visitar as ilhas caribenhas e seguir até o México, dali ir para os Estados Unidos, conseguir algum dinheiro para melhorar o equipamento e seguir em frente. No cerne dessa aventura, um filme que não acaba bem e um curso de fotografia.

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O filme em questão é Na natureza selvagem, de 2007. Baseado no livro de Jon Krakauer, conta a história de Chris McCandless e sua viagem rumo ao Alasca. Embora a aventura tenha terminado em tragédia, ela tem inspirado muitos espíritos livres a caírem na estrada. Leonardo é um deles. “Já vi [o filme] mais de 50 vezes”, exagera.

Sua primeira experiência como mochileiro ocorreu na Europa. Jogador de futsal desde garoto, aos dezesseis anos Maceira foi para a Itália, onde ficou por quatro anos e conquistou alguns títulos. Porém, como não viu futuro no esporte, resolveu retornar ao Brasil e estudar cinema.

Mas antes, ficou um mês perambulando pela Europa, com apenas 120 euros no bolso e as passagens aéreas. “Cheguei a dormir no McDonald’s em Paris, comendo só pão com salame e arroz”, conta.

De volta ao Paraná, Leonardo estudou um ano de cinema no Centro Europeu e começou a trabalhar com fotografia, clicando ensaios sensuais. Isso o fez frequentar o curso de fotografia da Omicron. Ao término do ano letivo, foi lançado o tema para o projeto final: “O lugar de cada um”. Caiu-lhe como uma revelação.

Sessao da Tarde - Piranhas-AL

Casamento em Salvador

Cachoeira em Diamantina-MG
Três momentos da viagem de Leonardo Maceira: no alto, curtindo uma “Sessão da Tarde” em Piranha (AL); no centro, como convidado de um casamento em Salvador (BA); acima, refrescando-se num cachoeira em Diamantina (MG)

“Estava em um momento meio perdido na minha vida e esse tema me fez pensar. Cheguei à conclusão que pra mim não é ‘O lugar de cada um’, e sim ‘Os lugares de cada um’. O mundo é muito grande para nos contentarmos com um mesmo lugar. O mundo é muito grande para ficarmos parados”, argumenta.

E foi assim que ele deu início à sua aventura. Tal como McCandless, de um modo radical: sem dinheiro e, no seu caso, sem destino certo – “com uma câmera na mão e pensamento positivo”.

Antes mesmo da formatura, em janeiro deste ano o paranaense aprontou a mochila e saiu de casa, sem data para voltar. Já cruzou oito estados e, apesar de seu método de viagem austero, afirma não ter encontrado problemas. “Pelo caminho fiz várias amizades, conheci muita gente bacana, muitos lugares incríveis. Também ganhei vários presentes (três livros, faca, duas camisetas, mochila, um tablet, gaita). É impressionante o quanto fui bem recebido nos lugares que passei e como não passei por nenhuma dificuldade”, frisa. “Quase quatro meses pela estrada sem dinheiro, sem conhecer ninguém por onde passei e zero dificuldade. No início da viagem, pensei em chegar no México e voltar para casa, mas agora pretendo ir para os EUA e trabalhar um pouco por lá, fazer um dinheiro, comprar equipamentos melhores e continuar minha viagem ou para a Europa ou pelos outros países da América do Sul”, planeja.

De valor, ele afirma, só carrega a câmera fotográfica – e com ela tem todo o cuidado. “Sempre vejo por onde ando. Mesmo viajando assim ‘meio na louca’, fico ligado para não dar bobeira. Acredito nas pessoas, mas não sou ingênuo”, garante. “Por isso sempre estou ligado, mas não deixo de fazer fotografias, nem que tenha que fazê-las rapidamente. Procuro ir para lugares diferentes e fugir da fotografia tradicional. Muitas vezes passo por lugares que já foram muito fotografados e tento ver tudo de uma maneira diferente”. As andanças de Leonardo podem ser acompanhadas aqui.

ALGUMAS IMPRESSÕES DE LEONARDO “McCANDLESS”:

“Com oito anos de idade fui dormir a primeira vez na casa de um amigo de escola. Lá por uma hora da manhã, comecei a chorar e liguei para minha mãe me buscar. Com 16 anos, na primeira noite que fui dormir na Itália, coloquei a cabeça no travesseiro e chorei muito, não sabia o que estava fazendo por lá. E, hoje, rodo pelo mundo tranquilo”

“Sempre passei mal em viagens, nunca gostei de viagens longas de carro, ônibus, caminhão, então, nem pensar. Hoje, entro em um carro ou caminhão pegando carona na estrada e nem vejo o tempo passar, relaxo, curto aquele momento, aquela paisagem”

“O melhor da minha viagem é não saber nada. Não sei como irei, não sei o caminho que farei, não conheço a pessoa que irá me levar, não conheço a pessoa que irei encontrar lá, não sei onde ela mora, não conheço nada da cidade, não sei que horas vou chegar, não sei o que irei comer, se vou comer. E eu adoro isso!”

“O dinheiro causa stress. Estamos sempre pensando na melhor forma de gastá-lo e isso nos mata. O mundo está o tempo todo querendo te vender, mas eu vivo o mundo sem precisar comprar”

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