Carioca faz sucesso na pele de Bresson

“Un jeu de petite haut”, Praia do Leblon — 2012

 Bressonianos existem aos montes por aí, gente que segue os passos do mestre francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), o pai do “instante decisivo”. Nenhum, porém, que tenha encarnado o grande fotojornalista como o carioca Pedro Garcia Moura, 32 anos de idade, que no Facebook é o famoso “Cartiê Bressão”.

Pedro é um criativo publicitário formado em design, sócio da empresa de shows com financiamento coletivo Queremos. Fotógrafo ocasional, ele começou a virar Cartiê Bressão durante o carnaval do ano passado, quando foi para a avenida fantasiado de Jorge Thadeu, o mulherengo fotógrafo da novela Pedra sobre Pedra (1992), vivido por Fábio Junior:

– Foi muito divertido. É uma fantasia não muito fácil de identificar, porque, além de ser um personagem meio obscuro da história da teledramaturgia brasileira, eu me vesti como um fotógrafo normal, só que cheio daqueles lírios brancos e com uma peruca tosca. E as pessoas adoravam quando se davam conta de que era ele, e sempre pediam pra eu tirar uma foto. E o Fábio Junior ainda faz muito sucesso até hoje, acreditem.

“La Gauche festive”, Orquestra Voadora — Carnaval 2013

O nome mesmo só veio depois, de uma foto que Pedro tirou em Paraty (RJ): – Me lembrou aquela foto clássica do Bresson [do homem pulando a poça d’água], foi aí que o nome me ocorreu, mas na época foi só como piada pra descrever essa foto. Uns meses depois eu tirei aquela foto do vendedor de milho (que eu uso como foto de perfil), que me lembrou as fotos do Pierre Verger na Bahia. Foi aí que achei que tava chegando a um resultado que eu estava realmente gostando e resolvi criar o Tumblr, porque eu senti que as fotos tinham uma unidade na maneira de retratar o cotidiano, e o nome Cartiê Bressão fez muito sentido na hora, porque elas também tinham esse lado do humor na escolha das situações.

“Seulement Lui”, Méier — 2012

A invenção ganhou depois o Facebook, onde faz um grande sucesso – o número de curtidas está em quase 13 mil. Tudo por conta dos flagrantes bem sacados que Bressão faz. De quebra, Pedro acrescenta às imagens legendas escritas num francês para lá de chutado. A repercussão, porém, foi uma surpresa para ele, que no começo sentiu a pressão de atender às expectativas de seu crescente público. Nada, porém, comparado ao seu trabalho como publicitário, então tudo certo: – E ao longo do projeto isso acabou me fazendo sentir uma grande evolução, que sempre foi o objetivo de ter criado esse personagem: me divertir e explorar a linguagem desse personagem e ver no que ia dar. – destaca Pedro, que fez curso de fotografia na faculdade, além de trabalhar com diversos bons fotógrafos em campanhas publicitárias tanto no Brasil quanto no exterior (ele já morou em Londres e Buenos Aires).

“Je n’ai fait rien, je suis innocent, je le jure!”, Leblon — 2012
Pedro Garcia: olho atento para não perder os flagrantes (foto: Leonardo Galvão)

Talvez isso causasse arrepios ao verdadeiro Bresson: sua paródia utiliza um iPhone 5 para obter os flagrantes. Mas, com o aparelho nas mãos, Pedro está apto a agarrar qualquer cena inusitada que aparecer: – Pro tipo de fotos que eu tiro, estar com ele sempre a mão é o mais importante. Às vezes é uma questão de segundos: quando estou andando, me dou conta da cena e tenho que tirar a foto correndo pra não perder. – explica o carioca. Para ele, o segredo para se obter bons cliques do cotidiano é este: – Câmera sempre a postos e ficar ligado no que acontece à sua volta. E sentir quando vale a pena interagir com as pessoas pra conseguir um resultado mais interessante.

Apesar do caráter absolutamente bem-humorado do seu trabalho, tanto no conceito quanto nas situações que busca retratar, Pedro Garcia vê uma relação mais séria entre sua criação e o legado de Bresson. E cita a velha frase do mestre: “Fotografar é alinhar a cabeça, o olho e o coração”.

– Às vezes as pessoas se concentram tanto na câmera e na técnica que se esquecem do sentimento e do olhar. Outra coisa, é que eu vejo muito o Bresson como um mestre do improviso. Eu vejo a diferença entre fotografar o cotidiano e fotografar em estúdio um pouco como tocar algum instrumento com partitura ou tocar improvisando, e pelo tipo de fotos que eu tiro, eu me identifico bastante com esse improviso. – afirma.

“Deux femmes de petite vertu marchant”, Copacabana — 2012
“Retourne à la mer, offerande!”, Prainha — 2012
“Dame et son (s)ombre sinistre”, Jardim Botânico — 2012
“Neptune et ses poissons”, Arpoador — 2012
“Le fauteuil-man”, Copabacana — 2012
“Aujourd’hui est le jour du rock, bébé”, Bom Jardim de Minas — 2012
“Un plongeur prétentieux”, Pedra do Leme — 2012
“Vendeur de maïs mange son goûter”, Praia do Arpoador — 2012

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