Autoral: “Entre muros e ideias”

Foto: Marcos Muniz

Região onde as três grandes religiões se tocam e um abismo de intolerância separa os homens, a Terra Santa foi o destino recente de um viajante brasileiro. Marcos Muniz percorreu Israel, Cisjordânia e Palestina e testemunhou a convivência tensa entre palestinos e israelenses, expressa nos muros das cidades e também no rosto das pessoas. Ele procurou captar o sentimento que essa tensão evoca com sua câmera e, num exercício de “quase-fotojornalismo”, como ele classificou esse esforço, montou a série Entre muros e ideias, inserida no projeto Nova Fotografia 2012 de novos talentos do Museu da Imagem e do Som (MIS), e por isso em exposição no museu, em São Paulo, até 28 de outubro.

Marcos tem 28 anos e é natural de São Paulo. Formado em comunicação social, começou a fotografar há oito anos, como trainee em projetos de responsabilidade social para a companhia Telefônica. Agora, faz trabalhos de publicidade, trabalha em uma agência de comunicação e é colaborador da revista Época. “Gosto de ampliar a linguagem fotográfica dentro das diferentes óticas imagéticas. Meu trabalho navega pelo fotojornalismo, abordagens abstratas e contemporâneas”, descreve o seu estilo.

Durante um período, o paulistano viveu em Londres, o qual aproveitou para conhecer outros países, em busca de novas experiências e culturas. Uma dessas viagens o levou à Terra Santa, em 2010, numa viagem de dez dias, na companhia da namorada. Ele não havia planejado o ensaio, mas o tema se impôs.

Suas fotos evidenciam a proximidade física cotidiana – que não significa comunhão –, a presença das armas e dos postos de controle, a rotina de preces, os rostos dos anciões e os muros. “Meu projeto busca uma reflexão dessa dinâmica conflituosa por que passam os palestinos e judeus. Me comunico com imagens sutis, outras brutas, que transmitem mensagens mais diretas com um toque de ironia e posicionamento político-social”, explica.

Foto: Marcos Muniz

Foto: Marcos Muniz

Foto: Marcos Muniz
Marcos Muniz: “A fotografia tem que cumprir uma função social” (foto: Marcos Muniz)

O fotógrafo diz que não há um sentido panfletário em suas imagens. Uma leitura nesse sentido seria equivocada, adverte: “Não quero e nem é minha intenção levantar a bandeira da causa palestina ou mesmo relatar os ataques israelenses. A ideia vai além e se insere em aspectos intangíveis e de relações humanas”, esclarece Muniz, preocupado com o sentido que o público brasileiro dará ao seu trabalho. “Só pode levantar uma causa com legitimidade quem vive nela e a importância dessas imagens reforça essa ótica do olhar estrangeiro e destreinado”, completa.

Assim, trata-se de uma reflexão sobre ruptura, distanciamento, diferenças inconciliáveis. De certo modo, um conjunto de sentimentos que ele aplica também à fotografia contemporânea. Ter o ensaio selecionado no programa de novos talentos do MIS foi um alento, nesse sentido: “Fico muito triste com os moldes da fotografia nacional. A atual fotografia que se vê nos museus está embasada em conceitos tão subjetivos que são incapazes de atingir um grande público. Para mim, a fotografia tem que cumprir uma função social”, estabelece.

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