Fotografia de crianças não sai de moda. Por mais que haja câmeras no mercado e as mães não percam um momento na vida de seus pequenos, levá-los ao estúdio para uma sessão de fotos possui um valor simbólico que suplanta o registro caseiro das peripécias dos filhos: fixa no tempo um período mágico de suas vidas de um modo que só um profissional pode fazer.
E tal é a magia, que uma vez só não basta: é preciso registrar artisticamente cada nova etapa, numa prática que começa no barrigão da mamãe e segue anos afora. Michele Canez, fotógrafa catarinense com estúdio em Itapema (SC), cobre todas essas fases, incluindo casamentos, e testemunha o bom momento da renovada fotografia de família.
“As pessoas estão cada vez mais valorizando as recordações. Eu adoraria ter uma foto de quando era pequenininha e não tenho…”, diz ela. “As mulheres estão tendo filhos mais tarde e por isso são gestações mais desejadas. Cria-se uma expectativa muito grande sobre os acontecimentos e, assim, mais corujas, querem foto de tudo: primeiro sorriso, banho, primeiro dentinho, primeiros passos… Elas percebem que o tempo passa muito rápido e, se não fotografar, passou e não volta mais”, arrisca.
No que diz respeito ao trabalho do fotógrafo, assumir a tarefa de exercer esse papel mediador do baú de recordações de seus clientes exige, no caso da fotografia de crianças, sensibilidade, cuidado e jeito. Entre outras coisinhas…
“Cada criança tem um temperamento bem particular. Isso conta muito no resultado final da sessão”, opina a paulistana Claudia Kon, que divide um estúdio com o marido, o fotógrafo de casamentos Jared Windmüller, em Florianópolis (SC), e agregou recentemente ao seu rol de conhecimentos a experiência pessoal de ser mãe: seu pequeno Pedro tem pouco menos de um ano de vida.
“É importante entrar no mundo deles, no caso de crianças maiores”, Claudia acredita. “Tem que ser criança juntamente com eles e entrar na atmosfera lúdica que os envolve. Ser paciente, determinada e ouvi-los é a melhor maneira de pegar suas atenções”.
No caso dos mais novinhos, a situação é um pouco diferente. Recém-nascidos são os astros da vez, e há uma crescente procura por fotografias de crianças em seus primeiros dias, a ponto de se estabelecer um subgênero, chamado retratos de “newborns”. Desses delicados modelos, o que se espera é que fiquem absolutamente imóveis. Obter essa condição requer dos pais observar algumas recomendações.
“Numa conversa anterior, pedimos às mães que alimentem bem seus bebês logo antes da sessão. Com a barriga cheia, eles caem no sono profundo e, com tranquilidade, permanecem nas poses colocadas”, explica Irmina Wakczak, polonesa radicada em Brasília (DF), onde atua no segmento junto com o marido Sávio Freire (são proprietários do ateliê Panoptes). “Visto que o bebê pode despertar com o manuseio, antes de trocar de pose, aproveitamos para tirar as fotos de todos os ângulos. Começamos também pelas poses mais tranquilas, deixando o bebê entrar no sono profundo e a mãe se acostumar com o processo”, revela, indicando um aspecto importante desse trabalho: lidar com a ansiedade dos pais.
“Acho que a ansiedade das mamães é de longe o principal obstáculo na hora de fotografar, seja com o newborn ou com crianças maiores. Porque o estado emocional das mamães reflete na criança instantaneamente”, constata Claudia. “A sua postura [da mãe] e seus sentimentos em relação ao que está acontecendo influenciam no comportamento do bebê e, com isso, no resultado final. Portanto, o bom relacionamento com a mãe é primordial. Ela precisa estar segura de que o seu bebê está bem. Uma conversa prévia, um aquecedor de ambientes apropriado, o manuseio firme podem ajudar nesse quesito”, recomenda Irmina.
“Sempre explico para os pais que fotografar recém-nascido é como um ritual. Primeiro, que quem manda aqui é ele; segundo, ele vai mamar, arrotar, fazer caquinha, e assim vai por uma boa parte do ensaio. Ganhamos ele no cansaço [risos]. Uma hora ele tem que dormir. Nessa hora (que geralmente dura poucos minutos), aproveitamos o corpo molinho para moldar de acordo com a necessidade, sem forçar o bebê. Vale a pena esperar o resultado, fica lindo”, garante Michele.
“Caso o bebê não esteja dormindo quando chegamos a sua casa, começamos pelas fotos com os pais, deixando que o cheiro deles e o aconchego do corpo relaxe o bebê. Quando os pequenos já não são recém-nascidos, buscamos retratar sua interação com os pais e com o mundo. Nesse tipo de fotografia, buscamos fugir dos clichês e, sem medo, retratar não somente o sorriso, mas também o choro e outros sentimentos desenhados nos rostos dos bebês”, acrescenta Irmina.
Aqui surge outro ponto relevante: boa parte dos ensaios ocorre na casa dos pais, especialmente quando se trata de recém-nascidos. Isso reduz as opções em termos de controle da luz, o que não chega a ser uma má notícia, visto que a iluminação natural é a mais indicada para se fotografar bebês.
“Dá um charme especial aos pequenos, acentuando essa aura angelical que os envolve. Acho mais prático e simples, porém o efeito final muito melhor”, afirma Claudia.
Michele faz uso intensivo da luz de janela e do que houver à mão na casa do cliente, postura também adotada pela proprietária da Panoptes: “A opção de uso da luz natural ou artificial depende da iluminação do ambiente encontrado. Como os bebês são seres delicados, buscamos sempre uma luz suave, colocando um softbox ou uma sombrinha no flash”.
Lentes claras e com bom desfoque são boas companheiras do fotógrafo de crianças. Michele leva na bolsa uma 50 milímetros 1.2 e outra 85mm 1.2 (“também sempre tenho em mãos a 100mm macro para pegar os detalhes”). De produção, pouca coisa: “Imagino que cada um tem um estilo e geralmente os pais querem passar isso aos bebês, é muito particular e assim fica único. Sempre peço roupinha que saiu da maternidade, primeiro presente da vovó, quanto maior valor sentimental, melhor. Entretanto, sempre tenho algumas touquinhas fofinhas e adoro as fotos sem nadinha de roupa… bem peladinho”, brinca.
“O nosso modelo de trabalho consiste na utilização de uma câmera reflex e de lentes rápidas, ou seja, lentes que proporcionam grandes aberturas e profundidade de campo reduzida. Com isso, podemos dar destaque às pequenas partes do corpo do bebê, como um pezinho. Entretanto, deve-se ter cuidado com profundidades de campo excessivamente curtas, para evitar ausência de foco desproposital em alguma das partes do retrato”, alerta Irmina.
No mais, é como todas falam: haja paciência. No bom sentido… O certo, todas concordam, é que fotografar crianças, não importa a idade, é uma delícia. E está, comercialmente, em alta. Aproveite.