O flash, esse incompreendido. O dispositivo de iluminação fotográfica mais compacto que existe é quase um patinho feio. Posicionado ali, na testa da câmera, produz uma luz que nem sempre agrada. Mas acontece que, versátil como ele só, uma vez fora da câmera, pode colocar um estúdio na palma da sua mão.
De uns tempos para cá, esse uso mais esperto do flash tem sido chamado de “strobist”. Uma ideia que não agrada a Renato Rocha Miranda: “Strobist é o nome de um blogue, muito bom por sinal, que mostra como usar o flash criativamente. Seria estranho eu começar a falar que uso a técnica de I LOVE MY JOBist”, afirma, se referindo ao blogue que ele mantém.
Carioca de 41 anos de idade, Renato fotografa para a Rede Globo há doze e ministra uma série de cursos de fotografia básica e flash criativo. Participa como especialista do projeto Sony Educa, portal educacional online da Sony, e recentemente inaugurou o Criadouro Carioca, para abrigar cursos seus e também de outros fotógrafos.
Para ele, há muita informação equivocada sobre o flash sendo divulgada por aí, o que acaba atrapalhando quem busca saber como a coisa realmente funciona: “Já tive que responder dúvidas se o que eu ensinava nos meus workshops eram técnicas de flash fora da câmera ou de strobist. Quando perguntei qual era a diferença, não souberam me responder”, ilustra.
Deixando os “strobismos” de lado, acompanhe abaixo algumas informações desse especialista sobre como tirar melhor proveito do seu flash, com algumas imagens suas para ilustrar:
A partir de quando o uso do flash fora da câmera se popularizou e como você vê essa técnica atualmente? Tem sido bastante explorada? Eu costumo dizer que o flash no topo da câmera é uma solução que resolve um problema de design criando outro de iluminação. Usar o flash fora da câmera é tão antigo quanto o próprio flash. Com o uso de fotocélulas e cabos extensores era possível usá-lo remotamente com certa tranquilidade, mas nada se compara aos sistemas nativos inteligentes que existem hoje em dia. A tecnologia embutida nos aparelhos, o baixo custo e o compartilhamento de informações via internet ajudaram na popularização do uso, mas ainda existem fotógrafos que nem imaginam que seus modelos de câmera podem conversar remotamente com o flash sem qualquer acessório extra. Há espaço para crescimento ainda.
Além da questão econômica, qual a grande vantagem que o uso dessa técnica oferece? O flash é o primeiro equipamento de iluminação com que o fotógrafo tem contato. A vantagem econômica é evidente, mas é na compreensão de como a luz se comporta que reside o maior ganho. Por serem pequenos, portáteis e não dependerem de cabos e alimentação elétrica, podem (e devem) ser levados para qualquer lugar, acostumando o fotógrafo ao uso de iluminação artificial. Como os suportes, tripés e modificadores são igualmente leves e versáteis, reposicionar e testar novas possibilidades de iluminação fica muito mais fácil e lúdico, e esse aprendizado do comportamento da luz pode ser levado tanto para a luz natural como para um estúdio. Eu os considero excelentes instrutores de iluminação, mas a ideia de que a tecnologia neles embutida é tão prodigiosa que dispensa o pensamento do fotógrafo é uma mentira – usar um flash vai lhe obrigar a usar muito bem a sua mente.
E oferece alguma desvantagem? Sim, em pouco tempo você vai querer comprar mais um, dois, três modelos, aí acaba-se a vantagem econômica… (risos)
O que é preciso para se empregar o flash off-camera? Na maioria dos modelos Nikon basta levantar o flash embutido. Nas Canon o uso de um acessório ou um segundo flash é importante, além, claro, de se entender como programar os ajustes para master/remote. Mas, antes de se perder em técnicas e equipamentos, eu sugiro que o fotógrafo tenha paciência: ele será apresentado a um mundo totalmente novo de possibilidades e livre de barreiras. Poderá controlar tanto o flash quanto a luz natural, usar qualquer velocidade de obturador, disparar em qualquer canto do mundo com pouquíssima ou nenhuma ajuda externa, terá manejo preciso sobre todos os aspectos da sua imagem. Sem repertório visual, todo esse controle perde o sentido. Clique bastante e aprenda com os erros.
O que é possível fazer com os flashes fora da câmera e em que especialidade ele pode ser melhor explorado? Acredito que o que mais limita o uso seja o preconceito em usá-lo. Casamentos, moda, retratos, gestantes, books, viagens, produtos, arquitetura, estúdio, macro, natureza, sempre há um espaço para bem usá-lo.
Você mencionou “uso criativo” do flash. De que maneira é possível, aplicando essa técnica aparentemente simples, obter fotos acima da média? Várias situações! Imagine um casamento durante o dia, com sombras difíceis nos rostos dos noivos, retratos com o fundo sub ou superexposto, anular completamente a luz ambiente e criar uma iluminação própria, fotografar uma modelo dentro d’água sem o risco de ser eletrocutado, inúmeras possibilidades.
Pode contar um pouco da sua experiência nesse campo? Quando foi que você começou a experimentar com os flashes e o que o motivou a enveredar por esse caminho? Foi necessidade mesmo. Embora trabalhe em uma empresa com muito recurso de iluminação, muitas vezes me encontro em situações de luz difícil e a rapidez com que preciso produzir uma imagem bonita é muito grande. Trabalho sozinho, sem assistentes ou toneladas de equipamento – sou eu, a câmera e duas lentes. Não gostava do flash porque ouvia a todo momento que ele não era capaz de produzir uma foto boa, mas comecei a ver outros trabalhos com imagens sensacionais produzidas só com os “flashinhos” e passei a testar e estudar o assunto. Quando descobri as possibilidades que ele poderia oferecer, percebi quanto tempo eu tinha perdido. Esse é outro problema: tem muita besteira sendo repetida sobre eles. No meu blogue, o I LOVE MY JOB, eu tento explicar melhor como eles podem nos ser úteis. Boa luz e boa sorte, é como termino os artigos no blogue! Excelente 2013 para todos!