O nu como produto e como arte
“Como são tolas as mulheres de muitas vezes não enxergarem seu poder de sedução”, observa uma das clientes de Fernanda Preto, após a experiência reveladora de posar para um de seus ensaios Pitanga. É como se o olhar por detrás da câmera fosse capaz de remover qualquer dúvida acerca do que, de fato, seja belo, prazeroso, sensual. Desejável.
Poder de uma fotógrafa que não se limita a lançar luz sobre a pele nua. Fernanda, 34, nascida em Cianorte (PR), sul-mato-grossense de coração, se divide em três para dar conta de toda a sua produção, comercial e autoral. Faz retratos, fotografia de viagem, reportagens, ensaios, mas seu trabalho com o nu eclipsa um pouco tudo isso. Assim, é difícil dissociar sua identidade artística dessa vertente da fotografia, principalmente depois que ela a democratizou, transformando seus ensaios sensuais num produto ao alcance de toda mulher que já sonhou posar como se fosse capa de revista.
“Comecei em 2008, quando uma amiga sugeriu dar de presente de namoro um ensaio sensual. Foi um início que não tinha nenhuma intenção de virar um produto. Vejo mais como uma extensão da minha trajetória como artista visual”, explica Fernanda, que começou a fotografar após fazer um intercâmbio nos Estados Unidos, quando tinha apenas dezesseis anos. Ao voltar a Campo Grande (MS), onde passou a morar depois de viver os primeiros cinco anos no Paraná, fez estágio de laboratório PB. Em 1998, durante uma viagem ao Marrocos, decidiu se profissionalizar. Em 2000, cursou fotografia na Escola Panamericana de Arte e, em 2001, foi para Curitiba (PR), onde se formou em artes visuais.
“Comecei a fotografar pela possibilidade da fotografia poder me acompanhar sempre e me levar pelo mundo – afinal, não é isso que todo fotógrafo sonha?”. Atualmente em São Paulo, a artista divide uma empresa com o marido Bruno Jorge, a João de Barro DOC, que desenvolve projetos na área de responsabilidade social; tem a sua própria, a Fernanda Preto Fotografia, responsável produção cotidiana (editoriais, reportagens e retratos), e desenvolve, em separado, o Ensaio Pitanga.
O Pitanga é o “braço sensual” do trabalho de Fernanda. Seus editoriais para revistas masculinas e books sensuais saem sob essa chancela, inaugurada em agosto de 2009. Conceitualmente, porém, a fotógrafa explora o tema desde seus estudos em Curitiba, quando, na busca pela própria expressão, foi absorvendo uma série de referências, de Anita Malfatti, Rodin e Klimt a Vermeer, Man Ray e Kertész.
“Acredito que exista uma relação muito franca na ação de fotografar uma mulher nua. É um momento de autoconhecimento, no qual nós duas somos cúmplices dessa simbólica transformação que acontece durante o ensaio, pois quanto mais se conhece o próprio corpo e suas possibilidades, mais fácil é o caminho de aceitação do próprio corpo como unidade única, singular e intransferível”, pondera.
Sob essa ótica, a paranaense tem conduzido seus ensaios, não importa se para revistas ou para mulheres que não vivem vidas de modelo. Claro que, quando se trata de alguém não acostumada a ser fotografada, há ajustes. Mas tudo funciona na base do vínculo, na procura de uma relação que se constrói já no contato inicial com a cliente. Algo como um amor à primeira vista: havendo entrega, a mágica é possível.
“Acho que o segredo é este: ser receptiva, espontânea, entender a cliente, criar laços e desenvolver o ensaio juntas, é uma troca de saberes. Em toda boa imagem não existe somente um aspecto a ser levado em consideração, é um contexto. Mas vejo que nada adianta um olhar sensual se a iluminação for dura e malfeita, ou até mesmo um enquadramento que não valoriza o corpo dessa cliente. Nesse momento, é preciso ter bom senso e repertório para unir todos os aspectos de forma simples, leve e eficaz”, ensina.
Diante do apelo comercial que o nu vem exercendo ultimamente, aumentando o interesse profissional por um tema em si já bastante atraente, Fernanda, que também ministra oficinas sobre fotografia sensual, dá um aviso aos navegantes: afine seu olhar.
“Primeiro de tudo, estudar, ter o conhecimento sobre si mesmo, sobre a história do corpo, sobre o ser sensível. Observar muito. Ler, ver filmes, ver muita arte. Tudo do universo de interesses gerais vale para ter um olhar instigante e com conteúdo”, receita. “Entender principalmente que você estará fotografando uma mulher entregue, que o que está em questão nesse momento são os desejos e as próprias questões pessoais dessa cliente”, conclui.
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