Mostra resgata arte de Chichico Alkmim
Como esperar que o trabalho de um retratista do interior de Minas Gerais, cujo acervo foi construído principalmente nas primeiras décadas do século 20, tenha ressonância nos dias de hoje? Ora, basta que tenha talento – e o zelo dos herdeiros em perpetuar sua memória.
Pois o primeiro elemento não falta à biografia de Chichico Alkmim, que viveu até 1978, em Diamantina, cidade histórica de Minas, e era dotado de grande apuro técnico e senso estético. Nem faltou o segundo, pois por empenho familiar a obra de Chichico Alkmim vem sendo legada ao grande público.
É nesse contexto que o café do Memorial Minas Gerais Vale, em Belo Horizonte, abriu nesta semana a exposição Paisagens humanas – Paisagens urbanas, com vinte imagens impressas e mais 70 exibidas em monitores de computador desse pioneiro da fotografia, que abriu seu primeiro estúdio em 1913. A curadoria é da neta do fotógrafo, a artista plástica Verônica Alkmim França, e do fotógrafo Tibério França.
O casal selecionou retratos que revelam a relação de Chichico com seus modelos. “Há carinho e respeito com as pessoas que o procuravam para fazer uma foto”, observa a neta. “Ele não foi só um fotógrafo, mas diretor de cena. Não fotografava as pessoas com roupas sujas, fazia arranjos florais para as modelos, cuidava em deixar a pessoa à vontade. São finezas que fazem dele um autor, com estética própria. Está nas fotos, ainda, a luz do Hemisfério Sul, de janelas abertas, muito bonita e quase renascentista. Como usou negativos grandes, as fotos têm ampla escala tonal e grande riqueza de detalhes e texturas”, reforça Tibério França.
Estima-se que ele tenha fotografado até 1955. Com sua câmera de fole 13×18, Chichico registrou batizados, casamentos, vistas de cidades, funerais, festas populares e religiosas. “Lembro-me dele sempre vestido de terno de casimira, colete e gravata. Todos o conheciam e valorizavam seu serviço, porque era importante a foto da primeira comunhão, da formatura no colégio e de outros momentos marcantes. Dentro da máquina, com aquele pano preto na cabeça, era um artista. Ele sabia como nos transformar em meninas bonitas”, testemunhou a professora Helena Bastos, contemporânea do mineiro.
Chichico Alkmim deixou um acervo estimado em 5 mil negativos de vidro, para o qual a família busca uma instituição que o possa abrigar. Suas imagens estão em processo de digitalização e todo esse esforço faz parte de um projeto criado em 2005 para preservar e promover a obra do fotógrafo. Nesse mesmo ano, foi lançado o livro O olhar eterno de Chichico Alkmim, com cerca de 70 imagens. A exposição em Belo Horizonte é mais um passo no sentido de universalizar a obra do artista. Tem entrada gratuita e vai até 16 de fevereiro. No próximo dia 21, às 19 horas, Verônica Alkmim França e Fernando Alkmim, netos de Chichico, darão depoimentos sobre a obra do fotógrafo. O Memorial Minas Gerais Vale fica na Praça da Liberdade, s/nº.