Valter Menezes: comida é arte

“Diga-me o que comes e te direi quem és”. Essa pequena variação do dito popular poderia muito bem servir de emblema a Valter Menezes, um profissional adestrado a fazer o espectador salivar a cada nova imagem. Fotógrafo de gastronomia, o paulista de Santo André, 38 anos de idade, se cercou de todo o conhecimento empírico e técnico disponível para melhor desempenhar a sua profissão. Não é só fotógrafo, mas chef de cozinha e designer de pratos (ou food stylist). De uns tempos para cá, incorporou o vídeo ao seu pacote de serviços. Todo o esforço tem um único objetivo: servir – desculpem o trocadilho – um produto o mais próximo possível do real.

Valter Menezes: para fotografar bem alimentos, é preciso entender de comida

“Nada convence mais do que a verdade”, crava o especialista. Nascido numa família de fotógrafos, Valter começou a carreira fazendo fotolitos em jornal. Ter o filho seguindo sua mesma profissão não era uma perspectiva que agradasse a Francisco Menezes, um desiludido pioneiro da fotografia em cores. Mas quando ele se foi, legou um dinheiro ao rapaz. Daria para comprar um carro, porém Valter gastou tudo em equipamento fotográfico. Começou fazendo books para amigas, fez fotos de produtos para jornais, até que montou seu primeiro estúdio, em parceria com um colega do ABC que também era físico. A sociedade durou um ano, mas a experiência enraizou-se na técnica: “Muita coisa da parte teórica eu devo a ele”, reconhece.

Valter continuou peregrinando. Em 1999, a tecnologia digital estava desembarcando no Brasil. Uma das primeiras câmeras a chegarem por aqui caiu em suas mãos. Aprendeu a usá-la no avião, em viagem a Portugal. No período havia pouca informação disponível, mas ele estava empolgado com a novidade e estudava como podia. Em 2007, depois de um tempo trabalhando improvisado em casa e de sacrificar muita coisa para juntar equipamentos, montou um estúdio dos sonhos, 300 metros quadrados de área. Iniciou sociedade com o irmão Vagner sob o nome M2 Photo Studio, com foco inicial em automóveis. Foi a encomenda de uma grande produtora de café para um banco de imagens que o trouxe para o atual segmento.

Como a cozinha não lhe era um lugar misterioso (“sempre gostei de cozinhar”), Valter resolveu apostar. O problema é que, para fazer as fotos, precisava contratar um chef e um produtor, o que encarecia a produção e não trazia o resultado desejado. “Pensei: ‘Tenho que estudar gastronomia’”. E foi seguindo essa especialização, na França, que o vídeo se apresentou. Sua Nikon pifou durante a viagem e ele trocou por uma Canon. Quando descobriu que a nova câmera filmava, ficou maluco com a perspectiva. Esteve entre os primeiros a estudar cinefotografia, gravou documentários na França e na Inglaterra e tem investido em vídeos de gastronomia para publicidade.

O vídeo promoveu uma revolução em seu estúdio. Atualmente, corresponde a 70% do faturamento. Valter, que começou a estudar iluminação de cinema, afirma: quem não se antenar nessa convergência, vai ficar pelo caminho. “A gente precisa cercar todas as gamas de necessidade do cliente, oferecer um pacote mais amplo”, argumenta.

Para ele, o momento da fotografia de gastronomia é de ascensão, pois há muita empresa preocupada com conteúdo para divulgar nas redes sociais, assim como muito chef em busca de fotógrafos para poder apresentar o trabalho ao mercado. A quem está de olho nesse filão, porém, ele recomenda ir fundo na relação. Ou seja, para se fotografar bem culinária, é preciso entender de comida, não apenas de fotografia. Ir a restaurantes, observar como o prato é servido, conhecer a cultura gastronômica de cada região, entender de ingredientes. “Senão a sua foto não vai conseguir passar tudo aquilo que o alimento representa”, pontifica.

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